estudo intertextual do monólogo effis nacht de rolf hochhuth

O monólogo dramático Effis Nacht 100
apercebe-se da injustiça do duelo e terá que viver para sempre com o peso na
consciência por ter arruinado a sua vida matrimonial: »Und diese Komõdie muB ich nun
fortsetzen und muB Effi wegschicken und sie ruinieren und mich mit...« {EB, 276).
Fontane pretende assim demonstrar, com a inquietação no pensamento de Innstetten, a
ambivalência do código militar prussiano que, ao impelir o marido traído a agir
violentamente, não oferece, porém, quaisquer garantias de harmonia e paz interior. Um
código de honra ambivalente porque, ao ser ditado pela ética militar, é um acto que
restringe a liberdade de opção de Innstetten, agravando a sua instabilidade emocional e
impedindo a reconciliação entre marido e mulher. Else refere-se igualmente ao código
de honra, declarando compreender até que Ardenne tenha cumprido os ditames sociais:
Konnte mein Mann nicht honorieren, daB Hartwich nur in die Luft schol3!
Honorieren im Wortsinne: ihn ehren, da doch diese Mãnner-Narren von nichts
so oft quasselten wie von «Ehre» -, ihn also ehren fur die GroBziigigkeit, nicht
Gebrauch gemacht zu haben vom Vorteil des ersten Schusses... Der blõden
«Ehre», weiB Kaiser und Gott, war doch genug getan durch die Forderung.
Riten nicht von Menschen - nein: von Platzhirschen. Aber fordern mufite
Ardenne ihn. (...) Er ware aus dem Generalstab gejagt worden, ware unser
Verhãltnis aufgeflogen, ohne daB er Hartwich gefordert hãtte (EN, 37-38).
No discurso não deixa de estar bem clara uma crítica à coacção social, aos
condicionalismos impostos ao comportamento de Ardenne pelo código de honra
disseminado entre oficiais e que determinava para estes casos a confrontação do marido
ferido no seu orgulho com o amante em duelo. Mas há principalmente uma dimensão
pessoal que põe em causa a tão citada honra. Else acusa Ardenne de agressividade e de
violência no duelo, sublinhando como o marido revelou um carácter vingativo e imoral
quando respondeu mortalmente ao tiro de Hartwich para o ar. Hochhuth não se queda,
todavia, por esta referência e verdade histórica. O monólogo vai mais longe nas
insinuações, procurando estabelecer paralelismos com a história recente da Alemanha.
Se o duelo era um imperativo do código de honra militar prussiano, sendo popular entre
a classe dos oficiais, causando, no caso pessoal de Else von Ardenne, a morte de
Hartwich, o mesmo conceito de honra impiedoso e cruel foi prolongado entre as hostes
militares, no seio dos generais, elevado pelo regime nazi ao estatuto de honra nacional,
»Die Beseitigung des Duells ist endlich eine sociale Forderung. Die Duelltheorie und die staatliche Privilegierung der
Duellanten bilden die schreiendste sociale Ungerechtigkeit« (1897, apud Schafarschik, 1999: 164).