estudo intertextual do monólogo effis nacht de rolf hochhuth

O monólogo dramático D D Effis Nacht 82
partilha dessa mágoa do presente da guerra e os seus milhares de vítimas com a mágoa
de um passado pessoal atribulado, gerador de um conflito que levou Hartwich à morte,
Else sente necessidade no monólogo de exaltar as qualidades do amante para de algum
modo aliviar o seu sentimento de culpa. A relação intertextual com o pretexto >Effl
Briest< assume-se como o recurso estético perfeito para, por um lado, enriquecer
ficcionalmente o monólogo e, por outro, aproximá-lo da realidade biográfica. O lado
artístico e rebelde de Hartwich surge por oposição associado a um Crampas demasiado
conformado e conservador. As pretensões metatextuais do intertexto não são inocentes.
Inerente ao discurso de Else está uma leitura interpretativa do romance que é desviante,
mas que se integra em pleno na estratégia delineada para essa desmontagem do
pretexto. A relação extra-conjugal de Effí parece igualmente ficar ligada a uma mera
atracção física, como pretende Else sublinhar ao querê-la diferenciar do seu caso
pessoal:
Nein, so schlicht gestrickt waren wir drei nicht... gerade die geistige Energie,
die von Hartwich ausging, hat mich noch starker an ihn gefesselt als sogar
seine Schõnheit! (EN, 46).
A visão que Else nos revela da figura do major no romance de Fontane é redutora, todavia,
ela faz parte de um jogo intertextual que pretende diminuir a figura do pretexto para
realçar as qualidades da do intertexto, reivindicando toda a autoridade para si. Fingindose
no limiar da ficção, a frontalidade crítica de Else faz contracenar Crampas com
Hartwich trazido aparentemente em directo da realidade. Os argumentos que Else
contrapõe ao monólogo em defesa do seu amante Hartwich, por mais verosímeis, por
mais frontais e objectivos que sejam, provêm, porém, de uma harmonização estética
subjectiva. De facto, os registos biográficos e as fontes documentais referentes à vida
real da baronesa apontam para um quase completo silêncio por parte de Elisabeth von
Ardenne em relação ao seu amante. Como excepção, há a referir o pequeno episódio das
cartas enviadas ao neto Manfred na sequência de um comentário deste e que atrás referi
(cf. supra, 58). As características individuais únicas de Hartwich, confirmadas
historicamente, são razão suficiente para que Hochhuth as utilize no monólogo e, assim,