estudo intertextual do monólogo effis nacht de rolf hochhuth

A dramaturgia de Hochhuth 48
que Ortega y Gasser (1883-1955) estipula para o historiador: particularizar no
indivíduo o que nele é mais característico e procurar na História o que se repete e
regressa continuamente (cf. G, 20).
A ideia que preside à construção do mundo ficcional promove o palco da
dramaturgia como autoridade moral. Em Hochhuth, argumenta Schrimpf, o palco
desempenha um papel mais representativo, assumindo a sua função de instância moral,
de tribunal que, perante a decadência do mundo, coloca o Homem diante de um espelho,
forçando pessoas individuais dentro de uma determinada realidade social à autoanálise,
ao posicionamento, à tomada de decisões perante os factos, à autocrítica e à
responsabilização (cf. Schrimpf, 1981: 90). Já no distante ano de 1784, Schiller (1759-
1805) proclamava em >Die Schaubuhne ais eine moralische Anstalt betrachtet< ser esse
o dever e a função do teatro, descrito pelo dramaturgo como tribunal e sátira, como foro
do julgamento posterior:
Die Gerichtsbarkeit der Biihne fángt an, wo das Gebiet der weltlichen Gesetze
sich endigt. Wenn die Gerechtigkeit fur Gold verblindet und im Solde der
Laster schwelgt, wenn die Frevel der Mãchtigen ihrer Ohnmacht spotten und
Menschenfurcht den Arm der Obrigkeit bindet, ûbernimmt die Schaubuhne
Schwert und Wage und reifít die Laster vor einen schrecklichen Richterstuhl.
Das ganze Reich der Phantasie und Geschichte, Vergangenheit und Zukunft
stehen ihrem Wink zu Gebot. Kiihne Verbrecher, die lãngst schon im Staub
vermodern, werden durch den allmàchtigen Ruf der Dichtkunst jetzt
vorgeladen, und wiederholen zum schauervollen Unterricht der Nachwelt ein
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schãndliches Leben
Hochhuth segue o exemplo clássico da dramaturgia de Schiller, atribuindo à escrita
histórica responsabilidade e poder. Em ambos é exaltado o conceito mais elevado do ser
humano, a sua moral. Em ambos se assiste a uma derrocada dos valores morais. Schiller
analisa o comportamento frágil e problemático existente entre poder e ideia particularmente
nas obras >Don Carlos< (1787) e >Wallenstein< 32 (1799). Também em
Ortega y Gasset, no famoso tratado sociológico de 1930, >La Rebelión de las Masas< afirma: »A Europa não tem
remissão se o seu destino não for posto nas mãos de pessoas verdadeiramente "contemporâneas" que sintam palpitar
debaixo delas todo o subsolo histórico, que conheçam a altitude presente da vida e repugnem todo o gesto arcaico e
silvestre. Precisamos da história íntegra para vermos se logramos escapar dela, não recair nela« (A Rebelião das
Massas, 101-102).
" Friedrich Schiller (1999), Die Schaubuhne ais eine moralische Anstalt betrachtet, 13.
- Em >Don Carlos< o príncipe herdeiro, filho do rei Filipe II de Espanha, é vítima de uma conspiração palaciana e
no diálogo com o confessor do monarca, Padre Domingo, são notórias as suas preocupações com a corrupção que
paira sobre a corte: »So, sagt ich. O, zu gut, zu gut WeiB ich, daB ich an diesem Hof verraten bin - ich weiB, daB
hundert Augen gedungen sind, mich zu bewachen, weiB, daB Kónig Philipp seinen einzigen Sohn an seiner Knèchte
schlechtesten verkaufte, und jede von mir aufgefangne Silbe dem Hinterbringer fúrstlicher bezahlt, ais er noch keine