27.12.2013 Views

estudo intertextual do monólogo effis nacht de rolf hochhuth

estudo intertextual do monólogo effis nacht de rolf hochhuth

estudo intertextual do monólogo effis nacht de rolf hochhuth

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Pressupostos teóricos e meto<strong>do</strong>lógicos 6<br />

da conceptualização <strong>do</strong> fenómeno <strong>intertextual</strong>, a circunscrição <strong>do</strong> perímetro <strong>de</strong> influência<br />

da <strong>intertextual</strong>ida<strong>de</strong> encontrava-se apenas <strong>de</strong>finida no senti<strong>do</strong> lato <strong>do</strong> termo, como,<br />

aliás, sugere o título <strong>de</strong> Umberto Eco, >Obra AbertcK, <strong>de</strong> 1962. O interesse específico<br />

pelo fenómeno surge tardiamente, a partir <strong>do</strong>s anos sessenta, liga<strong>do</strong> ao <strong>estu<strong>do</strong></strong> da linguagem<br />

poética e aos <strong>de</strong>senvolvimentos teóricos <strong>do</strong> pós-estruturalismo. O <strong>estu<strong>do</strong></strong> pioneiro<br />

<strong>de</strong> Ferdinand Saussure 1 no campo da linguística e especificamente o seu trabalho<br />

com anagramas influenciou teses posteriores como as <strong>de</strong> Julia Kristeva ou <strong>de</strong> Jacques<br />

Derrida, centradas na ambiguida<strong>de</strong> <strong>do</strong> significante e na sua capacida<strong>de</strong> em resistir a<br />

noções <strong>de</strong> comunicação directa ou lógica e, por isso, <strong>de</strong> significa<strong>do</strong> (cf. Allen, 2000:<br />

44). A aproximação semiótica <strong>de</strong> Kristeva pretendia estudar o texto como uma<br />

configuração textual <strong>de</strong> elementos que possuem duplo senti<strong>do</strong>: um senti<strong>do</strong> no texto propriamente<br />

dito e um senti<strong>do</strong> que a investiga<strong>do</strong>ra apelidava <strong>de</strong> histórico e social (cf.<br />

1980, apud Allen, 2000: 37). Estas primeiras referências ao conceito <strong>de</strong> <strong>intertextual</strong>ida<strong>de</strong>,<br />

no final <strong>do</strong>s anos sessenta, por Julia Kristeva, <strong>de</strong>stacavam o potencial dialógico <strong>do</strong><br />

texto literário e davam a conhecer à França, através <strong>do</strong> ensaio >Bakhtine, le mot, le<br />

dialogue et le roman< (1967), a obra <strong>do</strong> teórico literário russo Michail Bachtin. Todavia,<br />

mesmo o conceito <strong>de</strong> dialogismo literário proposto por Bachtin divergia da generalização<br />

radical avançada por Kristeva e por outros escritores <strong>do</strong> círculo <strong>de</strong> influência<br />

>Tel QueK Na noção explicada por Bachtin para o romance confluíam vozes <strong>de</strong> outros<br />

textos linguísticos, num to<strong>do</strong> citável que incluía dialectos, sociolectos ou i<strong>de</strong>olectos,<br />

numa abertura a todas as vozes socio-i<strong>de</strong>ológicas da época (cf. 1979, apud Stocker,<br />

1998: 18-19). O conceito textual <strong>de</strong> Kristeva propunha uma generalização mais radical<br />

ao encontro <strong>de</strong> uma semiótica cultural 2 , não distinguin<strong>do</strong>, como faz Bachtin, entre a<br />

realida<strong>de</strong> com a sua história e socieda<strong>de</strong>, por um la<strong>do</strong>, as palavras, o discurso e a língua,<br />

por outro.<br />

Depois <strong>de</strong> Kristeva e a partir <strong>do</strong> seu conceito dialógico, i.e., da convicção da<br />

existência <strong>de</strong> uma pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vozes em diálogo no interior <strong>de</strong> um só texto, multipli-<br />

Saussure em >Cours <strong>de</strong> linguistique générale< (1915) <strong>de</strong>bruçou-se sobre uma questão fundamental: O que é um<br />

sinal linguístico? E imagina uma nova ciência, a semiologia, que estudaria a vida <strong>do</strong>s sinais em socieda<strong>de</strong>. Os actos<br />

<strong>de</strong> comunicação linguística (parole) são enuncia<strong>do</strong>s a partir <strong>do</strong> sistema sincrónico <strong>de</strong> linguagem (langue). Ainda <strong>de</strong><br />

acor<strong>do</strong> com Saussure, os sinais são <strong>de</strong> natureza nâo-referencial, uma vez que em sistemas como o literário a<br />

referência <strong>do</strong>s sinais não visa objectos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> real mas a literatura, a partir da qual o texto é produzi<strong>do</strong> (cf. 1974<br />

apto/Allen, 2000: 8-11).<br />

* A noção <strong>de</strong> texto é generalizada e entendida como um to<strong>do</strong> que inclui: »le texte dans l'histoire et dans la société,<br />

envisagée elles-mêmes comme textes que l'écrivain lit et dans lesquels il s'insère en les récrivant« (Sémeiotiké Paris<br />

1969, apud Ffister, 1985:7).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!