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estudo intertextual do monólogo effis nacht de rolf hochhuth

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O <strong>monólogo</strong> dramático Effis Nacht 118<br />

Else interpreta a afirmação diplomata <strong>de</strong> Benn, "zu gefállig", como sen<strong>do</strong> uma forma<br />

irónica <strong>de</strong> crítica aos cuida<strong>do</strong>s e pu<strong>do</strong>res da escrita <strong>de</strong> Fontane. Para a protagonista, a<br />

gentileza das palavras em >Effi Briest< revela aparentemente adaptação ao gosto <strong>do</strong><br />

público leitor, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o código convencional da época. Por outro la<strong>do</strong>, através<br />

<strong>do</strong> escritor prussiano, investiga-se toda uma era, sen<strong>do</strong> possível encontrar no passa<strong>do</strong><br />

contemporâneo <strong>de</strong> Fontane a génese <strong>do</strong> mal sofri<strong>do</strong> no presente e que o <strong>monólogo</strong><br />

preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>purar. A importância que a Else <strong>de</strong> Hochhuth dá ao comentário <strong>do</strong> poeta<br />

expressionista inci<strong>de</strong> ainda sobre a <strong>de</strong>núncia <strong>do</strong> regime nazi que silenciou a voz <strong>de</strong><br />

Benn. São essas duas coincidências que são esteticamente articuladas pelo <strong>monólogo</strong> <strong>de</strong><br />

Hochhuth: Gottfried Benn não só interveio criticamente sobre Fontane como também<br />

foi vítima da opressão nazi 35 . As observações <strong>do</strong> discurso remetem continuamente para<br />

o tempo <strong>do</strong> <strong>monólogo</strong>, i.e., a opressão da guerra e o nacional-socialismo. O poeta<br />

expressionista surge integra<strong>do</strong> no universo <strong>de</strong> intelectuais, na sua maioria dissi<strong>de</strong>ntes,<br />

que sofreram em diáspora ou em clausura a perseguição <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> dita<strong>do</strong>r. É<br />

apresenta<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong> um exemplo individual <strong>de</strong> resistência, o digno representante <strong>de</strong><br />

uma literatura <strong>de</strong>nuncia<strong>do</strong>ra das guerras e injustiças humanas. Hochhuth presta um<br />

tributo ao seu caso pessoal e ao <strong>de</strong> tantos outros, recordan<strong>do</strong>-os. A estranheza e o<br />

<strong>de</strong>sapego <strong>de</strong> Benn em relação às coisas terrenas e a sua opção por uma resistência<br />

silenciada, pela emigração interior, não foram compreendi<strong>do</strong>s por muitos que o<br />

acusaram <strong>de</strong> expressar na sua obra apenas afectos anti-humanitários e <strong>de</strong> alimentar um<br />

<strong>de</strong>sprezo aristocrático contra as massas (cf. Oelze, 1965: 16). As reacções mais<br />

polémicas em prol <strong>do</strong> nacional-socialismo ce<strong>do</strong> se <strong>de</strong>svaneceram e a oposição ao<br />

regime cresceria por <strong>de</strong>ntro, no refúgio liberta<strong>do</strong>r das palavras, na consolidação <strong>de</strong> uma<br />

obra que Benn apelidaria <strong>de</strong> império <strong>do</strong> espírito versus o império da nação. A<br />

resistência <strong>do</strong> escritor é mais um argumento contra os que reduzem um capítulo negro<br />

da história ao anonimato <strong>de</strong> uma guerra sem rostos, <strong>de</strong> solda<strong>do</strong>s e vítimas da Segunda<br />

Guerra Mundial, na sua maioria <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong>s.<br />

A referência a Fontane e ao seu universo literário, assumida <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as primeiras<br />

linhas <strong>do</strong> <strong>monólogo</strong>, não dispensa, como se viu, o recurso a diferentes autores que,<br />

como Benn, <strong>de</strong> algum mo<strong>do</strong> expressaram a sua admiração ou repúdio pela obra e vida<br />

" Em 1971, na sua obra ensaística >Krieg und Klassenkrieg

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