estudo intertextual do monólogo effis nacht de rolf hochhuth

O monólogo dramático Effis Nacht 124
um lado egoísta, tanto em homens como em mulheres da classe nobre (cf. Restenberger,
2001: 87). Nas duas páginas do monólogo dedicadas ao romance e ao seu autor,
Hochhuth informa ainda o leitor/espectador do relativo esquecimento a que o livro foi
entregue, para alívio da protagonista, bem como da impossibilidade de o encontrar em
qualquer biblioteca (cf. EN, 40). O conhecimento de causa do monólogo pode ainda ser
comprovado pela facilidade com que Else menciona a correspondência real da baronesa
Elisabeth von Ardenne com Spielhagen ou a deste com Fontane 40 : »obgleich Fontane,
damais viel weniger gelesen, ihm die Ehre antat, mit ihm zu korrespondieren úber
unsere Geschichte« (EN, 41). Permanece, assim, demonstrada a apetência do
dramaturgo pelas fontes biográficas, o gosto pelo documento e a garantia da fidelidade
do texto à verdade histórica.
Todavia, a protagonista do monólogo não se queda apenas por um círculo de
influências, revelando ser uma ávida leitora do romance que inspirou: »... in
Sùddeutschland, zu meiner Erleichterung, kennt ihn heute noch keiner. Die lesen lieber
Hesse oder Wiechert; môchte wissen, ob Wiechert heraus ist aus dem KZ...« (EN, 45).
De acordo com Else, o desconhecimento do trabalho literário de Fontane é ainda uma
realidade no sul da Alemanha. O exemplo de Gottfried Benn, as referências a Hermann
Hesse 4 ' (1877-1962), a Ernst Wiechert 42 (1887-1950) ou a Erich Kástner 43 (1899-1974)
não têm por objectivo unicamente desvalorizar os elogios de Thomas Mann em relação
a Fontane e à literatura do passado, mas são sinónimo de uma literatura alternativa,
incómoda, denunciadora e resistente, também sinal de tempos difíceis para o
pensamento, restringido na sua liberdade criadora.
Numa carta datada de 23 de Fevereiro de 1896, Spielhagen informa Fontane dos seus contactos com a baronesa
Elisabeth von Ardenne: »So hat sich denn meine Vermutung vollauf bestátigt: wir haben beide aus derselben Quelle
geschõpft. Nur dap Sie ihr von vornherein in der Feme waren, die dem Poeten so giinstig ist; und ich mich in
unbequemer Náhe befand. Das heipt: ich habe die personae dramatis wohl gekannt, weitaus am besten allerdings die
Frau, mit der ich sowohl vor ais nach der Katastrophe in Korrespondenz stand« (1969, apud Schafarschik, 1999: 93).
Hermann Hesse parte para a Suiça em 1912 e da Suíça neutra observa a escalada de um nacionalismo exacerbado e
fundamentalista na Alemanha, bem como o colapso dos valores intelectuais. Para um maior aprofundamento do
escritor e da sua obra vd. Schwarz, Egon: Hermann Hesse. In: Walter Hinderer (Hrsg.), Literarische Profile.
Deutsche Dichter von Grimmelshausen bis Brecht. Kõnigstein: Athenâum, 1982 pp. 287-299; Karalaschwili, Reso:
Charakter und Weltbild. Studien. Suhrkamp Verlag, Frankfurt am Main 1993; Baumer, Franz: Hermann Hesse.
Volker Spiess, Berlin 1999.
" Para um estudo mais específico do universo literário de Ernst Wiechert vd. Reiner, Guido: Ernst Wiechert heute.
Fischer Verlag, Frankfurt am Main 1993.
O romancista e poeta Erich Kástner sofreu igualmente as represálias do regime nazi, que proibiu e queimou os seus
livros, em especial os poemas >Ein Mann gibt AuskunfK (1930), >Gesang zwischen den Stuhlen< (1932) e o
romance satírico >Fabian< (1931), onde Kástner condena o militarismo e o fascismo. O escritor foi detido pela
primeira vez pela polícia secreta do estado (Gestapo) em 1933. A Else de Hochhuth comenta deste modo a resistência
heróica do escritor: »obwohl er ais Hitlerjunge von Erich Kástner natûrlich nie ein Wort gehõrt haben kann, da
verboten, unser witzigster Dichter seit Busch!« (EN, 69).