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MAPEAMENTO NACIONAL DA PRODUçãO ... - Itaú Cultural

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110 Sujeito, que hoje se faz sentir em todos os níveis da vida social e<br />

Poéticas da Atitude: o Transitório e o Precário<br />

psíquica. Nesse quadro, não está contida apenas a crise do indivíduo<br />

e do Sujeito de conhecimento, mas a dos próprios saberes baseados<br />

na polarização.<br />

Fragmentadas até às entranhas, as noções de indivíduo, Sujeito e<br />

conhecimento jazem desarticuladas à espera de novos modelos que<br />

atendam à nova realidade. Num mundo no qual os processos de totalização<br />

não mais espelham aquelas concepções de unidade extraídas<br />

da profundidade (ontológica ou epistemológica) em que se supunha<br />

morar a verdade; numa realidade na qual somente acessamos as totalidades<br />

editadas a partir da complexa superficialidade que caracteriza a<br />

vida pós-moderna, mas que já se anunciava no passado moderno (de<br />

Frankenstein, do divã psicanalítico, da linha de montagem fordista,<br />

da montagem de Eisenstein e Griffith, até as edições de vídeo e de<br />

textos), talvez tenha cabido ao artista a tarefa social da construção de<br />

um novo Sujeito.<br />

O segmento curatorial Entre o Mundo e o Sujeito reúne trabalhos<br />

que tratam, de modos diversos, dessa crise e das tentativas contemporâneas<br />

de constituição de Identidades que assimilem a confusão dos<br />

limites, antes polarizados, entre Sujeito e Objeto. A interferência no<br />

corpo humano, real ou imaginário (corpo desnudo, corpo do artista,<br />

corpo da arte), a tematização do desejo e da sexualidade, a apropriação<br />

dos objetos e a reificação de seus ícones mais banais, e mesmo<br />

a investigação formal e gestual, são tomadas pela produção contemporânea<br />

como rastros da solidão ou do engenho humanos. Longe<br />

dos grandes sistemas filosóficos, que no passado inventaram o sujeito<br />

moderno, o campo estético parece ser atualmente o único capaz de<br />

integrar o ilógico, o acaso e o contraditório. Suas características o situaram<br />

na dianteira da investigação de uma outra noção de identidade<br />

(um Sujeito não mais epistemológico, mas estético), menos unitária<br />

e ordenada, mas certamente mais próxima das novas condições tecnológicas<br />

e históricas.<br />

Deste segmento da mostra participam obras dos seguintes artistas:<br />

Adriana Boff, Ana Laet, Arthur Leandro, Beatriz Pimenta, Bruno de<br />

Carvalho, Caetano Dias, Clarissa Campello, Cláudia Leão, Daniella Penna,<br />

Divino Sobral, Domitília Coelho, Elisa Queiroz, Enrico Rocha, Fabiana<br />

Wielewicki, Fabiano Gonper, Fabio Faria, Gabriela Ficher, Gabriela<br />

Machado, Gabriele Gomes, Gustavo Magalhães, João Loureiro, Juliana<br />

Stein, Laércio Redondo, Leya Mira Brander, Luiz Carlos Brugnera, Marcelo<br />

Cidade, Marcelo Feijó, Mário Simões, Marta Penner, Odires Mlászho,<br />

Raquel Garbelotti, Rodrigo Borges e Rodrigo Godá.<br />

A crise do Sujeito e a crise do Objeto são indissociáveis do impacto<br />

causado pela implantação inexorável de processos de produção industriais.<br />

Esse impacto, no entanto, não se restringiu à revogação dos processos<br />

artesanais de produção dos objetos, diretamente dependentes da<br />

habilidade manual do trabalhador. Inicialmente imperceptíveis, os efeitos<br />

da demissão da mão (Walter Benjamin) se tornaram, ao longo dos séculos<br />

XIX e XX, evidentes, até o ponto crítico a que chegamos. A divisão<br />

do trabalho, que determinou a perda do controle do processo total de<br />

produção de um objeto pelo trabalhador industrial, introduziu no produto<br />

(objeto) a obsolescência, indispensável à lógica do consumo.<br />

Essas transformações tiveram conseqüências ainda mais drásticas no<br />

campo da arte. Na contramão das tecnologias (primeiramente industriais<br />

e, atualmente, da informação), as obras de arte continuaram predominantemente<br />

artesanais, contradizendo a lógica e a generalização do<br />

produto industrializado.<br />

A busca de novas possibilidades de expressão artística e a experimentação<br />

de novos suportes e novos espaços generalizaram o uso de materiais<br />

de trabalho não convencionais que vinham sendo pontualmente<br />

experimentados desde o cubismo. Meios de produção visual alternativos<br />

à habilidade manual exigida pela pintura e pela escultura, como a fotografia,<br />

o cinema e, posteriormente, o vídeo, ampliaram, enfim, os meios<br />

técnicos e expressivos à disposição das artes plásticas, até então de predominância<br />

artesanal.<br />

A criação dessas alternativas não se limitou, porém, à incorporação dos<br />

territórios visuais contíguos. Ela se expandiu para a apropriação de objetos<br />

utilitários, novos ou sucateados, de procedência industrial (ready-made),<br />

para os espaços naturais (land art), urbanos (arte pública), institucionais<br />

e simbólicos (instalações), para o âmbito da idéia (arte conceitual) e para<br />

o próprio corpo (body art e performance). Abrangência que rompeu, em<br />

definitivo, o estrito campo de uma plástica voltada para seus próprios<br />

materiais, meios e elementos exclusivos, típica dos momentos mais radicais<br />

da arte moderna.<br />

Muitos artistas brasileiros vêm trabalhando a partir de materiais e<br />

objetos encontrados nas ruas e até no lixo ou, na esteira de Duchamp,<br />

qualificando situações estéticas por meio de sua atitude. Intervêm nos<br />

espaços urbanos ou usam as sobras de seu consumo que, por obsolescência<br />

ou desgaste mínimos, são jogadas fora pelo consumidor típico<br />

do mundo globalizado.<br />

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