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MAPEAMENTO NACIONAL DA PRODUçãO ... - Itaú Cultural

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22 ao passo dado no ano anterior, retornando ao continuidade ao diálogo da produção local com<br />

padrões de um realismo documental, é o meio<br />

pelo qual as ligações com a problemática da arte<br />

contemporânea podem fluir, pois a pintura e a<br />

escultura estão ainda demasiadamente limitadas a<br />

uma produção mais acadêmica.<br />

desgastado modelo de exibições que tentam<br />

contemplar toda a produção local, misturando<br />

amadorismo e artesanato com artistas ligados<br />

a propostas contemporâneas. Este é um exemplo<br />

de como se desenvolvem as conquistas nas<br />

cidades de menor porte em toda essa região.<br />

Quando se conseguem pequenos avanços, eles<br />

são sucedidos por uma carga conservadora de<br />

proporção por vezes muito maior. Também ocorreu<br />

com êxito no Estado o 1º Salão de Artes de<br />

Jaraguá do Sul, que demonstrou seriedade e<br />

rigor na edição inaugural. Na parte de formação<br />

é importante notar a persistência exitosa do 4º<br />

Seminário de Artes de Celso Ramos. Esse consta<br />

de uma série de oficinas, ministradas por artistas e<br />

teóricos de diversas partes do país, que atende um<br />

significativo público no Estado de Santa Catarina.<br />

No Paraná ocorreram dois fatos cuja importância<br />

real ainda está por ser definida nos próximos anos.<br />

O primeiro foi o projeto Faxinal das Artes, um<br />

programa de residência de artistas que reuniu 100<br />

nomes de todo o Brasil. Sob curadoria de Agnaldo<br />

Farias e Fernando Bini, esse grupo produziu, discutiu<br />

e aprofundou relações de maneira extremamente<br />

informal e direta, sem as costumeiras mediações<br />

institucionais. No fim de 2002, inaugurou-se em<br />

Curitiba o NovoMuseu. As instalações e as intenções<br />

do projeto não têm precedentes e parâmetros<br />

em qualquer outra parte do Brasil. Se por um lado<br />

isso é motivo de contentamento e otimismo, por<br />

outro preocupa-nos saber como irão estabelecerse<br />

as relações com a comunidade e principalmente<br />

todo o suporte operacional de grande porte que o<br />

museu exige. Espera-se que ele atue na formação<br />

de agentes locais e do público e não dependa do<br />

relativismo dos interesses políticos futuros.<br />

No Rio Grande do Sul, poderíamos dividir os<br />

acontecimentos em dois diferentes tipos: as confirmações<br />

e as novidades. A primeira confirmação<br />

a notar é a Bienal do Mercosul, que na terceira<br />

edição afirma seu caráter contemporâneo e dá<br />

um espectro internacional. O Museu de Arte do<br />

Rio Grande do Sul, com uma série de exposições<br />

de artistas nacionais e mostras de artistas locais de<br />

abrangência até então não usual na cidade, junto<br />

com a continuidade dos cursos de mestrado e<br />

doutorado na Universidade Federal do Rio Grande<br />

do Sul são fatos que se consolidaram nesse período.<br />

As novidades ficam por conta do lançamento<br />

do projeto do Museu da Fundação Iberê Camargo,<br />

a cargo do arquiteto português Alvaro Siza, que<br />

promete ser um local adequado para abrigar<br />

a obra do pintor assim como ponto ativo de<br />

exposições e fomento de pesquisa. A inauguração<br />

do Santander <strong>Cultural</strong> também é digna de nota,<br />

pois vem aparelhar a cidade de mais um precioso<br />

espaço de exibições, cinema e palestras.<br />

Ceará, Maranhão, Piauí e Tocantins<br />

Curador adjunto Eduardo Frota<br />

A situação nesses quatro Estados mudou muito<br />

pouco nos dois últimos anos, excetuando-se<br />

o Ceará, que no fim de 2002 inaugurou a 1ª<br />

Bienal Ceará América, que, seguindo a linha das<br />

grandes exposições, ambiciona acionar toda uma<br />

dinâmica cultural local. Em 2001, já havia ocorrido<br />

em Juazeiro do Norte a Bienal do Cariri, que<br />

deixou poucos rastros. Segue-se com o pensamento<br />

do poder messiânico dos grandes projetos,<br />

porém sem o lastro cultural devido, correndo o<br />

risco de terminarem não encontrando sustentação<br />

adequada nas frágeis malhas culturais.<br />

São propostas que embora bem-intencionadas<br />

buscam apenas uma visibilidade, negligenciando<br />

as carências de formação. Enganam-se ao achar<br />

que certas lacunas de toda uma dinâmica cultural<br />

possam ser suprimidas pelo poder mágico<br />

do grande evento.<br />

Além de Fortaleza, Teresina e São Luís revelam-se<br />

com potenciais centros, principalmente no que diz<br />

respeito à fotografia. Embora ainda restrita aos<br />

Se por um lado o panorama da produção contemporânea<br />

é pouco animador, de outro a situação do<br />

artesanato local é ainda mais desalentadora. Nos<br />

últimos anos houve uma rápida estandardização<br />

e uma pasteurização do trabalho secular de toda<br />

uma produção artesanal popular, hoje transformada<br />

em objetos impessoais empobrecidos de inventividade.<br />

Tudo para atender ao voraz apetite de<br />

uma indústria turística de estreita visão cultural.<br />

A visita a esses Estados não apenas recoloca as<br />

situações levantadas na primeira edição do programa<br />

como também acaba questionando os<br />

limites do próprio Rumos Itaú <strong>Cultural</strong> Artes<br />

Visuais. Até quando vamos enviar curadores para<br />

rastrearem situações de arte contemporânea e,<br />

de consciência limpa e dever cumprido, constatar<br />

mais uma vez que por ali nada acontece É tirânico<br />

esperar parcerias quando já sabemos que elas<br />

não têm condição de se estabelecer. O problema é<br />

muito mais profundo, e necessita-se saber dar sem<br />

esperar receber. Já não basta a inclusão no mapa<br />

de um olhar descompromissado, é necessário criar<br />

um mapa de ações efetivas e generosas.<br />

Conclusão<br />

O relógio que conta o tempo na evolução dos<br />

processos culturais não anda na mesma velocidade<br />

em todo o país. Se a periodicidade do Rumos Itaú<br />

<strong>Cultural</strong> Artes Visuais será de dois ou três anos,<br />

devemos ser pacientes, mas atentos às pequenas<br />

oscilações. Paciência não deve significar resignação<br />

e inércia. Somente o trabalho lento e contínuo na<br />

formação é que poderá alterar substantivamente<br />

esse quadro. Se por vezes notamos inversões nesses<br />

processos, começando do fim para o princípio,<br />

e creditando exclusivamente ao evento a responsabilidade<br />

de formação, torna-se difícil a cobrança<br />

de resultados. É inegável que vivemos um progressivo<br />

aumento dos equipamentos culturais pelo<br />

Brasil, embora nem sempre sucedidos das devidas<br />

condições operacionais para a sua eficácia. Se em<br />

meio a esses processos desordenados conseguimos<br />

alguns resultados, creditam-se os méritos quase<br />

que exclusivamente ao jovem artista brasileiro,<br />

com sua produção diversa e instigante.<br />

Jailton Moreira<br />

Curador-coordenador<br />

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