MAPEAMENTO NACIONAL DA PRODUçãO ... - Itaú Cultural
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168 seria trazido para a região do inteligível, sensivelmente alargado, e não<br />
mais para o domínio do gênio.<br />
fronteiras entre natureza e sujeito; em Letícia Cardoso, realiza-se uma<br />
cartografia do corpo e seus movimentos, reverberações e humores; e, em<br />
Marcelo Cidade, o corpo é posicionado como medida instável da paisagem<br />
em meio ao imenso ruído da cidade.<br />
Ao se trazer, porém, a referência dos conceitos surrealistas, não se quer,<br />
como em sua prática, descobrir o outro, a outra realidade, o outro<br />
mundo, a outra racionalidade, mas a complexidade da trama de nossa<br />
realidade – não o “outro”, mas o “mesmo”.<br />
O artista Marcel Duchamp será também uma referência teórica e<br />
artística, por suas operações de deslocamento provocadas por seus<br />
readymades. O conceito de estranhamento está ligado a uma idéia de<br />
troca de posições num campo semântico, pois aquilo que troca de lugar<br />
ganha outro significado e perde seu sentido original. Um urinol (a obra<br />
Fonte, de Marcel Duchamp), deslocado de seu lugar de sentido e uso,<br />
ao entrar para um certame de arte, local do sistema e da validação<br />
artísticos, é por ele contaminado e “se transforma” em objeto de arte.<br />
O fazer artístico é substituído pelo pensar, e a arte torna-se uma operação<br />
de linguagem. Essa discussão, amplificada, será uma das grandes<br />
contribuições da arte conceitual.<br />
Adriana Boff<br />
Imagem Aurora [série<br />
Obscuras Refrigeradas],<br />
2000/2001<br />
Marcelo Cidade<br />
Eu-Horizonte 6, 2000<br />
fotografia<br />
40 x 60 cm<br />
Coleção do artista<br />
Foto: Antonio Saggese/Itaú <strong>Cultural</strong><br />
Ambos os olhares, do surrealismo e de Duchamp, são dois dos fundamentos<br />
da exposição Estranhamento, que, se a princípio, apresenta o<br />
fazer artístico como uma inquietação e pesquisa de novos olhares, também<br />
afirma e reflete a relação, sempre renovada, entre arte e vida.<br />
Paulo Reis<br />
169<br />
De um lado, pensa-se a atuação artística como atividade de produção<br />
de conhecimento e, de outro, deposita-se na múltipla equação do<br />
estranhamento um dos princípios de pensamento sobre o fazer artístico.<br />
A reunião dos artistas selecionados – Adriana Boff, Fabiana Wielewicki,<br />
Gabriele Gomes, Letícia Cardoso e Marcelo Cidade – faz convergir, entre<br />
questões muito próprias a cada corpo de obra, alguns pontos de leitura<br />
que evocam o debate trazido por esta exposição.<br />
As coordenadas com as quais percebemos a realidade e agenciamos<br />
seus sentidos serão manipuladas distintamente pelos artistas. A idéia<br />
do tempo estará ligada à brevidade do instantâneo (Marcelo Cidade<br />
e Gabriele Gomes), à duração estendida (Adriana Boff), à simultaneidade<br />
(Fabiana Wielewicki) e ao momento presente (Letícia Cardoso).<br />
O espaço engendrado estará circunscrito ao urbano (Marcelo Cidade<br />
e Fabiana Wielewicki), à interioridade do corpo (Letícia Cardoso), a<br />
uma natureza recriada (Gabriele Gomes) e ao território do privado<br />
(Adriana Boff).<br />
Longe de esgotarem as discussões dos artistas, distintas percepções serão<br />
assim propostas. No trabalho de Adriana Boff, um duplo do mundo<br />
aparece habitado fantasmaticamente por objetos que registram seus<br />
próprios olhares; em Fabiana Wielewicki, o absurdo rompe, por meio da<br />
justaposição de temporalidades diversas, a organização dos lugares; em<br />
Gabriele Gomes, a marca de sua passagem se dá no apagamento das<br />
Fabiana Wielewicki<br />
Sem Título [série<br />
Paralaxe], 2000<br />
fotomontagem<br />
91 x 206 cm<br />
Coleção da artista<br />
Foto: Divulgação/Arquivo da artista<br />
Gabriele Gomes<br />
Travesseiro no Mar,<br />
2001<br />
Letícia Cardoso<br />
Ouça-Te, 2000<br />
espelho e estetoscópio<br />
50 x 300 cm<br />
Coleção da artista<br />
Foto: Divulgação/Fabiana Wielewicki