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MAPEAMENTO NACIONAL DA PRODUçãO ... - Itaú Cultural

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164 A mostra apresenta trabalhos de cinco artistas que discutem seus universos<br />

poéticos na dimensão da obra isolada, mas que em conjunto<br />

possibilitam observar a abertura da obra no nível estrutural – para contemplação,<br />

exploração e interação – e no plano semântico, mais caro ao<br />

produto artístico.<br />

Partindo para a arte computacional, interativa, o paranaense Luciano<br />

Mariussi mostra Unfriendly, um aplicativo de computador interativo<br />

que nada permite, provocando o usuário; e é esta provocação que dá<br />

significado ao processo de interação homem/máquina. Suas interfaces,<br />

sem problemas informacionais ou de usabilidade, trazem como ponto<br />

Luciano Mariussi<br />

crucial sua utilidade, que faz pensar. O trabalho sensibiliza e questiona<br />

Unfriendly, 2000<br />

software<br />

Execução: Sérgio Luiz<br />

dos Santos<br />

Coleção do artista<br />

Foto: Juninho Motta/Itaú <strong>Cultural</strong><br />

a própria interatividade maquínica, multiplicando a significação não pelo<br />

seu caráter interativo balizado pela hipertextualidade, mas pelo sensível,<br />

intangível, artístico.<br />

Nesse sentido, a exposição apresenta dois trabalhos para serem vistos,<br />

um para ser explorado e dois para serem interagidos. Contudo, todos<br />

eles ecoam ao tangenciarem o sensível, provocando mesmo as tipologias<br />

de abertura estrutural da obra, reivindicando, no plano semântico, a<br />

abertura das significações. Ali, sim, as obras se abrem para o diálogo com<br />

o apreciador, construindo-se na execução delas mesmas, vivas no embate<br />

que faz, de determinados produtos, arte.<br />

Desse modo, as imagens desfocadas do baiano Caetano Dias se abrem<br />

para significações diversas a partir da desconstrução da imagem<br />

fotográfica, no desfocamento da figura central, em uma espécie de<br />

névoa que transforma a nitidez pressentida pela observação na magia<br />

da diversidade semântica, propondo um jogo de significados entre o<br />

que se vê e o que não se mostra. Os títulos deslocam de vez o trabalho,<br />

dando um tom crítico e de denúncia, desvelando o ser cultural, social,<br />

e despertando pensamentos nem sempre reservados às construções<br />

oníricas.<br />

O cearense Enrico Rocha trilha caminhos similares, apresentando,<br />

em sua série de fotografias Insônia, não mais o desfocamento, mas<br />

o deslocamento da imagem, fazendo a nitidez se perder, movimento<br />

ampliado com o título que sugere bem mais do que diz. Na noite perdida,<br />

em que o sono não se faz presente, um outro sono se constrói,<br />

alimentado de desejos, medos e sensações. Seus monitores deslocados<br />

são janelas que deslocam o observador, fazendo-o trilhar sua própria<br />

condição de insone. São mais que isso: tornam-se espelhos, multiplicando<br />

os sentidos trazidos pelo apreciador, construindo com este sua<br />

própria significação.<br />

O amapaense Arthur Leandro nos apresenta a instalação videográfica<br />

Aquém do Eu – Além do Outro, que já pelo título invoca a subjetividade.<br />

Suas imagens, vistas pelo espelho d´água, teimam em não se mostrar,<br />

duelando com a observação e a percepção. Nesse diálogo, as significações<br />

afloram e se multiplicam, ora encontradas aquém do próprio eu<br />

construído pelo outro, ora escondidas além do outro, construído pelo<br />

meu eu. E é na fuga da imagem que a abertura significativa explora a<br />

instalação, convocando não apenas o olhar do observador, mas também<br />

seu corpo, convidado para a exploração espacial do trabalho.<br />

Caetano Dias<br />

Sobre a Virgem, 2001<br />

fotografia digital [díptico]<br />

125 x 210 cm<br />

Coleção do artista<br />

Foto: Divulgação/Arquivo do artista<br />

Enrico Rocha<br />

Insônia, 2001<br />

Arthur Leandro<br />

Aquém do Eu - Além do<br />

Outro, 2000/2002<br />

videoinstalação<br />

220 x 300 x 300 cm<br />

Coleção do artista<br />

Foto: Divulgação/Arquivo do artista<br />

Marta Penner<br />

Lugares Prediletos/Paisa<br />

gem do Não-Evento,<br />

2000/2001<br />

A brasiliense Marta Penner trabalha seu Paisagem do Não-Evento de<br />

forma instigante ao reverter a dinâmica temporal da rede de computadores,<br />

baseada no tempo real, para o tempo psicológico, apresentando<br />

detalhes de paisagens de Brasília, relacionando-as ao olhar atento, contemplativo.<br />

Aí inverte-se também a condição interação/contemplação,<br />

base para algumas tipologias de abertura da obra de arte. Mais uma vez,<br />

aqui não se tem como primordial a abertura pela interação computacional<br />

do website, mas pelo princípio artístico do olhar da artista, que explora<br />

tempos e espaços que extrapolam a objetividade de uma significação<br />

dada, fazendo-a ocorrer, de fato, no embate entre obra e apreciador, na<br />

dinâmica da fruição artística.<br />

No conjunto de obras, as aberturas semânticas, que solicitam do apreciador<br />

uma complementação de sentido, tornam-se as vozes que ecoam e<br />

permanecem, independentemente da abertura estrutural, técnica.<br />

Todos os trabalhos apresentados, eletrônicos e computacionais, tangenciam<br />

ou centralizam a questão da arte e tecnologia; sugerem, no conjunto,<br />

uma leitura do desenvolvimento cronológico das técnicas de produção de<br />

imagem que inscrevem o desenvolvimento tecnológico da arte. Contudo,<br />

faz-se mister descartar tal possibilidade, e mesmo questioná-la, uma vez<br />

que a reunião das obras no eixo da expressão contemporânea elege o<br />

veio das significações – criadas na subjetividade do confronto obra/apreciador<br />

– pela recepção da obra. A abertura aqui é tida a partir do fenômeno<br />

perceptivo da obra. E é essa abertura que possibilita o seu ecoar<br />

nas muitas mentes que a encontram, e que com ela dialogam.<br />

Cleomar Rocha<br />

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