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MAPEAMENTO NACIONAL DA PRODUçãO ... - Itaú Cultural

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112 Esses últimos trabalhos, entretanto, não nascem do interesse estrito dos<br />

artistas pelas propriedades materiais, gráficas, plásticas e cromáticas dos<br />

existente entre museus e instituições, galerias, críticos, curadores, mercado,<br />

artistas e público.<br />

objetos. Eles não são somente matérias-primas renovadas pela reciclagem,<br />

mas objetos que, mesmo deslocados para o campo das artes, ainda<br />

possuem parte da carga semântica que possuíam no contexto em que<br />

foram produzidos e onde antes circulavam.<br />

Os métodos, meios e técnicas dessas poéticas extraem da efemeridade,<br />

da precariedade e da degeneração o sentido crítico das próprias obras.<br />

Seus resultados não devem ser confundidos com experiências cênicas ou<br />

com produtos reciclados, restritos ao fluxo do tempo ou a uma simples<br />

transformação material que nega sua frágil e precária origem.<br />

Manifestas no Brasil desde os Parangolés e Bólides, criados por Hélio<br />

Oiticica na primeira metade da década de 1960, essas poéticas da atitude<br />

e do precário encontraram na situação social brasileira um lastro de<br />

realidade que lhes conferiu uma força estética e uma atualidade extraordinárias.<br />

Por outro lado configuram um pólo poético diverso do rigor<br />

geométrico da tradição construtiva, de fortes raízes no país.<br />

Walter Benjamin aponta-nos que a invenção das tecnologias da imagem<br />

fotossensível (século XIX) foi determinante para as transformações ocorridas<br />

no âmbito da percepção e no da valoração das obras de arte. Mas<br />

isso não significa que as linguagens da fotografia e do cinema tenham,<br />

automaticamente, nascido com suas técnicas. O mesmo podemos dizer<br />

do vídeo, da computação gráfica e da imagem digital.<br />

Há hoje no Brasil alguns grupos (de artistas, designers, videomakers e<br />

outros) cujo interesse estético restringe-se ao uso explícito da tecnologia.<br />

Parecem desconsiderar, em nome do apreço deslumbrado pela high tech<br />

e do desprezo pela low tech, que o registro de uma performance, por<br />

exemplo, é feito, quase sempre, em vídeo, pela capacidade que essa tecnologia<br />

tem de registrar, como nenhuma outra, uma ação em tempo real,<br />

imediatamente. Defendem seu ponto de vista a partir de um repertório<br />

de idéias de perfil modernista (o chavão do esperado compromisso da<br />

obra com os meios utilizados para produzi-la).<br />

113<br />

O segmento Poéticas da Atitude: o Transitório e o Precário foi pensado<br />

para agrupar as obras desta exposição que interrogam o valor de<br />

perenidade da obra e o uso de materiais e técnicas convencionais. Seja<br />

na valorização das possibilidades poéticas de ações e experiências, seja<br />

na utilização de materiais efêmeros ou de métodos não cartesianos<br />

de ocupação espacial. Deste conjunto participam obras dos seguintes<br />

artistas: Amilcar Packer, Caio Machado, Ducha, Fabiano Marques, Felipe<br />

Barbosa, Genesco Alves, Glaucis de Morais, Graziela Kunsch, Janaina<br />

Barros, Járed Domício, Letícia Cardoso, Lucas Levitan, Maxim Malhado,<br />

Paula Krause, Silvia Feliciano, Téti Waldraff, Thiago Bortolozzo e Tonico<br />

Lemos Auad.<br />

Arte: Sistema e Redes<br />

Outra possibilidade de superar a crise do objeto, investigada pelos artistas<br />

contemporâneos, é a da substituição das técnicas manuais e dos suportes<br />

tradicionais pelas novas tecnologias da imagem e da informação em<br />

rede. A essa dimensão material e tecnológica podemos acrescentar uma<br />

outra, menos evidente e literal, mas certamente não menos contemporânea,<br />

que se revela no uso, pelos artistas, de métodos de compreensão<br />

e de ação informados pelas idéias de sistema e redes. Se no passado<br />

os modernistas usaram a arte para falar de seus meios, os novos artistas<br />

vêm usando-a para falar de seu sistema ou circuito, da rede de relações<br />

Noção frágil e demasiado abrangente, a chamada Arte e Tecnologia<br />

vem permitindo muitos equívocos. O principal deles talvez seja a confusão<br />

entre possibilidades técnicas e invenção poética: alguns pesquisadores,<br />

curadores e críticos consideram a simples utilização de meios<br />

tecnológicos suficiente para configurar questões estéticas. Com isso<br />

atropelam diferenças e lançam numa vala comum produções bastante<br />

diferenciadas.<br />

Muito antes da difusão universal da internet artistas como Cildo Meireles<br />

trabalharam a noção de rede (um canal de irradiação e conexões em<br />

movimento não-linear). Suas Inserções em Circuitos Ideológicos, das<br />

quais a mais conhecida é o Projeto Coca-Cola, poderiam, num sentido<br />

lato, ser pensadas do ponto de vista da lógica da rede (web). As Inserções<br />

nos revelam que a demanda e a lógica da rede já existiram antes mesmo<br />

de sua efetiva implantação.<br />

Feitas as ressalvas, entretanto, é importante reconhecer o sucesso, a<br />

positividade e a contribuição da experimentação diretamente tecnológica,<br />

ou por ela informada, para a percepção contemporânea. Essas<br />

questões estão na origem do último conjunto apresentado, Arte:<br />

Sistema e Redes, embora muitas obras realizadas com meios tecnológicos<br />

tenham sido alocadas nos outros dois segmentos da exposição, uma<br />

vez que tratavam de questões essenciais do mundo contemporâneo<br />

neles destacadas.

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