MAPEAMENTO NACIONAL DA PRODUçãO ... - Itaú Cultural
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130 mais direto e ativo. Integrante da proposição artística, a ação, a reação ou<br />
até mesmo, como no trabalho de Jorge Menna Barreto, o peso, isto é, a<br />
massa corpórea deste observador/participador é parte da obra. O artista<br />
torna-se um propositor de situações e a obra resulta dessas interações<br />
sempre cambiantes.<br />
fusão/confusão entre a realidade e a imagem eletrônica que transtorna<br />
o comportamento de peixes-beta. Interessante metáfora da condição<br />
contemporânea, na qual a informação torna-se cada vez mais veloz e o<br />
signo avança sobre as coisas que perdem sua densidade. Não apenas a<br />
densidade das coisas se altera, mas também a noção de superfície. Da<br />
Jorge Menna Barreto<br />
Massa, 2000/2002<br />
André Santangelo<br />
Reiniciar, 2001/2002<br />
relação sensível do contato face a face, passamos à interface da tela,<br />
tempo/espaço de múltiplas conexões instantâneas.<br />
Nesse sentido, é também possível tomar os próprios meios de comunicação<br />
tradicionais como o correio ou a rede telefônica como pontos<br />
centrais de um trabalho, tal como propõem Cinthia Marcelle e Marilá<br />
Dardot. Trata-se de um projeto em que o circuito de comunicação toma o<br />
centro do interesse, e a mensagem importa menos que o estranhamento<br />
provocado pela descontextualização de seus meios. Muito diferente,<br />
por exemplo, da utilização do correio como estratégia de resistência à<br />
ditadura política vivida no país na década de 1970, quando os envios<br />
postais foram estratégia marginal para a troca de informações artísticas<br />
e sobrevivência à ordem repressora dominante.<br />
Se a participação do público é central nessas proposições, é certo também<br />
que o papel do artista tem, em outros projetos, contornos menos<br />
definidos e, não raro, a autoria é esvaecida. Na proposta de Carla<br />
Zaccagnini, a cooperação entre a artista e aqueles não selecionados<br />
para as exposições do programa Rumos Itaú <strong>Cultural</strong> Artes Visuais,<br />
sutilmente, propõe uma mistura de papéis entre artista, crítico e curador,<br />
que se mesclam dentro da exposição, sugerindo o relativismo e a sempre<br />
inevitável arbitrariedade das escolhas.<br />
O papel da linguagem, entenda-se aqui a relação entre o tangível dos<br />
objetos e a fugacidade de suas representações, é central nas poéticas<br />
conceituais. A obra de Joseph Kosuth, sobretudo a partir de 1965, e a do<br />
coletivo inglês Art and Language são exemplares. Pode-se dizer, escreve<br />
Kosuth, que “a arte descreve a realidade, mas, diferente da linguagem,<br />
as obras de arte simultaneamente descrevem como elas a descrevem”. 2<br />
Carlos Mélo opera em sua obra de orientação conceitualista na fronteira<br />
onde os liames entre significante e significado se rompem. O esquema de<br />
conceitos que apresenta desaloja o sentido das palavras, fazendo-o transitar<br />
entre um vocabulário esquemático construído com a lógica incerta<br />
da imaginação e os registros de insólitas ações.<br />
A identidade constitui-se pelo olhar do outro, no espaço intervalar entre<br />
o ser e sua imagem especular; “O que me falta é esse eu que tu vês e a<br />
ti o que falta és tu que eu vejo”, sugere a fenomenologia de Merleau-<br />
Ponty. Ao investigar os limites tecnológicos do espelhamento, André<br />
Santangelo instala uma janela/olho/câmara que confunde o sensível. É a<br />
Cinthia Marcelle e<br />
Marilá Dardot<br />
Me Escreva!,<br />
2001/2002<br />
instalação - caixa de<br />
correio, cartões-postais<br />
e escaninho<br />
dimensões variáveis<br />
Coleção das artistas<br />
Fotos: Divulgação/Arquivo das<br />
artistas<br />
Carla Zaccagnini<br />
[em colaboração com<br />
Keila Costa]<br />
Assentos, 2001<br />
Carlos Mélo<br />
Algo, 2001/2002<br />
Roosivelt Pinheiro<br />
Solitários na/da Rede,<br />
2001/2002<br />
Marta Penner<br />
Lugares Prediletos/Paisagem<br />
do Não-Evento,<br />
2000/2001<br />
Wagner Morales<br />
Não Há Ninguém Aqui #<br />
1, 2000<br />
Roosivelt Pinheiro tece suas redes de pesca na contracorrente das interfaces<br />
eletrônicas. Elabora assim uma identidade de resistência e traz à<br />
tona o reverso desta teia de imaterialidades. As redes que tece em seu<br />
trabalho são parte de um saber sensível, que sobrevive nas tradições e<br />
nas experiências compartilhadas. O peso das pedras que pendem do teto<br />
em sua instalação é a sensível certeza que contrasta com as imagens<br />
imateriais que fluem nas redes de computadores e são solitariamente<br />
encontradas nesses espaços virtuais.<br />
Mais uma vez a rede: sentido absoluto no qual não importa o centro mas<br />
o tempo/espaço das conexões. Este espaço/tempo sem materialidade ou<br />
densidade transforma os lugares em espaços de passagem. Desprovidos<br />
da densidade do lugar, a chegada suplanta a partida, tudo “chega” ou<br />
é descarregado na máquina sem que seja necessário partir. Os hotéis são<br />
emblemas dessas zonas de passagem, não-lugares na expressão de Marc<br />
Augé, como os aeroportos e estações são zonas de trânsito.<br />
Marta Penner, por meio de fotografias e na elaboração de um site, interroga<br />
o sentido dessas áreas de ninguém e de todos, onde o particular<br />
próprio às subjetividades e às singularidades dá lugar ao uniforme e ao<br />
padronizado, ao mesmo tempo que a memória, nosso mais valioso patrimônio,<br />
torna-se souvenir a ser adquirido como objeto barato levado para<br />
casa como remédio paliativo e ineficaz à progressiva perda da capacidade<br />
de compartilhar experiências significativas. Ao serem carregados na tela<br />
do computador, esses frágeis souvenirs também não permanecem e se<br />
esfacelam. Sugerem, mais uma vez, a progressiva perda da transmissibilidade<br />
da experiência, como já anunciava Walter Benjamin, ao comentar<br />
a substituição da narração pela informação na modernidade. Escreve<br />
Benjamin: “Cada manhã, recebemos notícias do mundo todo. E, no<br />
entanto, somos pobres em histórias surpreendentes”. 3 Da incapacidade<br />
de narrar decorre a incomunicabilidade das experiências. A tecnologia<br />
favorece uma relação na qual informação e experiência têm vetores inversos<br />
de sentido.<br />
No vídeo Não Há Ninguém Aqui, de Wagner Morales, uma voz de mulher,<br />
gravada na secretária eletrônica, procura, desesperadamente, marcar um<br />
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