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MAPEAMENTO NACIONAL DA PRODUçãO ... - Itaú Cultural

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Uma visita ao Museu do Índio, na cidade de<br />

Manaus, é reveladora e tristemente conclusiva<br />

sobre a situação de descaso em que se encontra<br />

o patrimônio cultural da Amazônia. Repensar a<br />

cultura brasileira é incluir como bens nacionais,<br />

além da floresta, com toda a sua infinitamente<br />

rica biodiversidade, toda a potencialidade cultural<br />

e criativa daqueles que habitam essa região.<br />

Por contraste...<br />

Em São Paulo, tanto na capital como no interior,<br />

a possibilidade de acesso, difusão, distribuição e<br />

circulação de informações artísticas demonstra<br />

uma situação inversa da descrita acima. É interessante<br />

notar como a profusão de iniciativas acaba<br />

proporcionando maior qualidade dos resultados.<br />

Como exemplo observamos que, do total de 1.495<br />

portfólios recebidos pelo programa, 510 são de<br />

São Paulo, e 16 foram os artistas do Estado contemplados<br />

nesta edição.<br />

Sobre a questão da visibilidade da produção artística,<br />

o caso dos Salões de Arte Contemporânea, que são<br />

realizados na capital e em diversas cidades do interior<br />

paulista, é exemplar. Os salões sobrevivem desde o<br />

século XVIII, quando foram criados, na França. Ao<br />

serem importados pelo Brasil, dois séculos depois, ainda<br />

sustentam a lógica e os princípios análogos àqueles de<br />

sua criação. A constante querela entre acadêmicos e<br />

modernos (leia-se hoje contemporâneos), por exemplo,<br />

é uma das características que se mantêm, de diferentes<br />

formas, desde aquele período.<br />

Sobre os resultados das viagens realizadas em São<br />

Paulo, abrangendo a capital e o interior, anotou a<br />

curadora adjunta Juliana Monachesi:<br />

18 empenhar na formação das gerações mais jovens,<br />

no sentido de multiplicar o acesso à formação,<br />

“Apesar de São Paulo constituir uma referên-<br />

consagrados com os de emergentes, assim como<br />

o Heranças Contemporâneas, do MAC.<br />

especificamente de artes, em sua região. Assim,<br />

a universidade poderia configurar-se como um<br />

importante pólo de difusão da reflexão ligada à<br />

visualidade contemporânea.<br />

cia de ensino e fomento à produção em arte<br />

contemporânea, com faculdades de artes conhecidas<br />

pela inventividade da produção de seus<br />

alunos e instituições culturais que têm projetos<br />

com perfil semelhante ao do Rumos Itaú<br />

<strong>Cultural</strong> Artes Visuais, o interior do Estado em<br />

geral não se contagia por essa efervescência. Os<br />

focos de produção contemporânea no interior de<br />

São Paulo caracterizam-se por ações difusas de<br />

grupos independentes ou projetos bissextos do<br />

governo local. (...)<br />

Em São Paulo são três os cursos de artes que<br />

mais se destacam: o da Escola de Comunicações<br />

e Artes, ECA/USP, o da Fundação Armando<br />

Álvares Penteado, Faap, e o da Faculdade Santa<br />

Marcelina. Um diferencial para a formação dos<br />

artistas em São Paulo é dado pelo grande<br />

número de cursos livres e grupos de orientação<br />

em ateliê coordenados por artistas ou professores<br />

renomados. Entre outros, destacam-se o<br />

grupo de estudos em fotografia orientado por<br />

Eduardo Brandão e os acompanhamentos em<br />

ateliê por Leda Catunda e Sérgio Romagnolo,<br />

Nuno Ramos, Paulo Monteiro, Carlos Fajardo,<br />

Sandra Cinto e Albano Afonso.<br />

A difusão e o fomento da arte contemporânea<br />

na cidade de São Paulo estão generosamente<br />

distribuídos entre instituições e um mercado de<br />

arte consolidado. O Centro <strong>Cultural</strong> São Paulo e<br />

o Paço das Artes realizam projetos semelhantes<br />

de seleção por meio de portfólios de artistas<br />

jovens, que são contemplados com mostras individuais<br />

ao longo do ano, realizadas em paralelo<br />

a exposições de artistas com trajetória consolidada.<br />

Os dois museus de arte contemporânea da<br />

cidade – Museu de Arte Moderna de São Paulo,<br />

MAM, e Museu de Arte Contemporânea da<br />

Universidade de São Paulo, MAC/USP – também<br />

têm projetos voltados para a produção jovem:<br />

o Panorama de Arte Brasileira, do MAM, é realizado<br />

bienalmente e mescla trabalhos de artistas<br />

De todos os pólos paulistanos de produção e<br />

reflexão sobre arte contemporânea, entretanto, os<br />

que mais chamam a atenção na história recente<br />

são iniciativas dos próprios artistas, ao propor<br />

formas de autogestão cultural. A principal delas<br />

chama-se Linha Imaginária, grupo que mapeia a<br />

produção brasileira realizando exposições independentes<br />

pelo país.<br />

A produção paulistana tem tantos matizes que<br />

é difícil defini-la. Entretanto, é possível falar<br />

de duas linhagens básicas nesta produção: os<br />

jovens artistas encontram-se, em geral, engajados<br />

em discussões de forma ou em discussões<br />

temáticas. Assim, o mapeamento em São Paulo<br />

detectou, por um lado, artistas voltados para<br />

pesquisa de materiais, discursos em torno do<br />

espaço, de linhas, cores e superfície. Por outro<br />

lado, encontrou muitos artistas cuja produção<br />

está centrada em discussões sobre identidade,<br />

memória, ideologia, questões urbanas, institucionais<br />

etc. Dos trabalhos vistos, os de melhor<br />

qualidade foram aqueles que conseguiram aliar<br />

as duas preocupações.<br />

Interior de São Paulo<br />

No interior de São Paulo, com exceção das<br />

‘cidades-satélites’ da capital (Campinas e os<br />

municípios do ABC paulista) e de Ribeirão Preto,<br />

a produção artística é predominantemente<br />

acadêmica ou é uma academia da arte moderna.<br />

Em geral, as tentativas de fazer arte contemporânea<br />

resvalam em prefigurações de efeito. O<br />

único movimento que se opõe a isso no interior<br />

é o respeitável circuito de salões de arte antenados<br />

com a produção de fato contemporânea. É o<br />

caso dos salões de Santo André, São Bernardo do<br />

Campo, Santos, Jacareí, Americana, Piracicaba e<br />

Ribeirão Preto.<br />

O que se nota, entretanto, é que, apesar de<br />

os salões levarem uma massa crítica para essas<br />

regiões, isso não é suficiente para fomentar nos<br />

artistas locais um olhar mais crítico. Em alguns<br />

locais, não é possível sequer estabelecer um diálogo<br />

inteligível sobre arte contemporânea, porque<br />

as pessoas não têm informação sobre o que se<br />

fez em arte desde meados da década de 1950.<br />

Em São José do Rio Preto, artistas formados pela<br />

faculdade de artes local relatam que os professores<br />

insistem para que os alunos façam pintura<br />

abstrata, por se tratar da tendência mais atual da<br />

arte. Não é à toa que Ribeirão Preto, com uma<br />

produção contemporânea relevante, tenha tido<br />

ao longo de sua história instituições culturais que<br />

abasteceram o lugar de informação.<br />

A cidade de Campinas é bem provida de espaços<br />

expositivos voltados para a arte contemporânea.<br />

Além do Centro de Convivência <strong>Cultural</strong> e do<br />

Museu de Arte Contemporânea – ambos com programação<br />

inconstante no que concerne ao perfil<br />

das mostras –, a cidade conta com a Galeria de<br />

Arte Unicamp, que oferece programação continuada<br />

com linguagens atuais. De forma semelhante a<br />

experiências de gestão independente detectadas<br />

em São Paulo, o Ateliê Aberto funciona como local<br />

de exposições, cursos, palestras e residência de<br />

artistas convidados para realizar site specifics no<br />

espaço, além de elaborar projetos de curadoria e<br />

produção para mostras em outros locais.<br />

Em termos de instalações museológicas, uma<br />

cidade vizinha a Campinas está mais bem equipada.<br />

O Museu de Arte Contemporânea de Americana<br />

passou, entre 1997 e 2000, por reformas e<br />

adaptações do sistema de iluminação, do ar-condicionado<br />

e da reserva técnica, tornando-se hoje um<br />

modelo para as regiões vizinhas. O museu intercala<br />

mostras de arte contemporânea com outras<br />

históricas, contribuindo para a formação de um<br />

novo público, principalmente por meio de investimentos<br />

no setor educativo, que já contempla toda<br />

a rede escolar pública da cidade.<br />

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