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MAPEAMENTO NACIONAL DA PRODUçãO ... - Itaú Cultural

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148 Tudo que circula carrega em si uma possibilidade de identificar<br />

verdadeiramente um autor com o seu ato.<br />

Jean Baudrillard, O Paroxista Indiferente<br />

Os cinco artistas juntos são separáveis na apresentação de seus trabalhos,<br />

lidam com materiais diferentes um do outro e alcançam, em silêncio,<br />

o que há além do que estamos vendo; suas obras de construção aparentemente<br />

subjetiva são um ato de vontade em sua forma mais ousada.<br />

De conteúdos inversos, são obras de transfiguração da banalidade e de<br />

busca de formas perdidas, sem renegação ou resignação do sentido,<br />

para além da diferença. Com desenvoltura de pureza e imanência, que<br />

mantêm a qualidade da transcendência dos trabalhos.<br />

Com a construção de um mundo paralelo e virtual em substituição à<br />

nossa realidade, não estamos mais no mundo. Estar no mundo se tornou<br />

uma eventualidade pouco provável. No início deste século XXI, estamos<br />

todos reunidos, mais do que nunca, em um só lugar, estamos um dentro<br />

do outro, e não conseguimos o respeito pela vida. Nela, as imagens<br />

de beleza e verdade são patrimônios de uma busca que ultrapassam e<br />

implodem o homem, as coisas e as diferenças.<br />

Durante séculos, o sentimento do espírito foi o criador e a salvaguarda<br />

das atitudes imaginárias dos grandes artistas. Os conflitos individuais<br />

existenciais serviam de protagonistas e referenciais para o fazer das<br />

idéias. Hoje, porém, estamos em uma rede de informações e de reações<br />

compulsivas e despojadas de quaisquer valores elaborados e praticados<br />

em algum período do passado.<br />

Os artistas de agora são objetos do seu trabalho. E, como tal, o horizonte<br />

e a rede estão disponíveis como fonte de personalidade e suposta<br />

riqueza. Os acontecimentos e as atitudes – sejam elas artísticas, sejam<br />

de outro parâmetro – que servem de referencial para a construção de<br />

uma obra são, na realidade, apenas instrumentos de iniciação para<br />

uma possibilidade vindoura e pós-contemporânea (). O intervalo<br />

presente recheado de releituras e camadas superpostas desse fazer<br />

mostra uma busca do desaparecer e de indiferenças do artista e do<br />

público. A curadoria dos trabalhos reunidos sob essa temática resulta<br />

“na dissolução dos signos e no jogo deliberado dos significantes”. O<br />

vazio das obras é resultado da própria necessidade extrema de cada<br />

artista em se ausentar e ao mesmo tempo multiplicar a expressão da<br />

produção atual. Tal é o desafio lançado pela imaginação livre, que, por<br />

sua vez, é a razão da “animação” em que consiste enfim o prazer do<br />

trabalho contemporâneo.<br />

Como todo ato criativo humano, o despejar de idéias visa à ordenação<br />

e comprovação de uma possibilidade de comunicação. As indiferenças e<br />

desconfianças existentes são uma contribuição em um tempo que chega<br />

à exaustão e proliferação do desejo do ter. Somos capazes da observação<br />

compreensiva, como também embalagens de conceitos vendidos<br />

em um mercado de produtos exageradamente recheados de supostos<br />

objetivos definidos.<br />

Paula Krause<br />

Sem Título, 1999/2002<br />

Gabriela Machado<br />

Sala dos Fios [detalhe],<br />

2001/2002<br />

Daniella Penna<br />

Não Adianta Faltar ao<br />

Enterro [detalhe], 2000<br />

A cumplicidade na ausência do sujeito, sobre o domínio da representação<br />

e sua desaparição, faz do “objeto” um acontecimento único, o que<br />

torna esses artistas participantes de desdobramentos e de uma quebra<br />

de simetria visual. Combinando saturação estética e nostalgia do objeto<br />

perdido da pintura, são idéias de elementos simples e de abstração direta<br />

na linha da modernidade.<br />

Em seus trabalhos, as artistas Paula Krause e Gabriela Machado<br />

compartilham a semelhança da pintura, o diálogo existente e o que<br />

é interessante como imagem capaz de guardar seu segredo. O que<br />

vem de outro lugar procura um outro lugar, criando acesso a formas e<br />

resultados reinventados. Segundo o texto Derramamento de Formas,<br />

de André Severo, na obra Sem Título, de Paula Krause, escapam<br />

construções que se esforçam para alcançar uma estabilidade que<br />

não se firma. Seu trabalho difere pela necessidade de se apreender<br />

antes que tome a forma da determinação e do sentido na matéria<br />

existente e construída com peso e densidade de um ato pictórico, de<br />

desdobramentos no espaço e numa relação própria de invasão com<br />

o espectador.<br />

Na obra intitulada Sala dos Fios – trabalhos de formas constituídas em<br />

uma linha abstrata –, Gabriela Machado procura definição na relação<br />

pintura versus objeto versus instalação. Na elaboração da aparência,<br />

uma ilusão original da pintura, de ruptura, de um menor intervalo<br />

para sua existência. Como diz, seu trabalho é o registro do impulso<br />

corpóreo, de se envolver fisicamente em ato contínuo, em um desvio<br />

estético de autenticidade do autor com o seu ato, de cópias diferentes<br />

do mesmo fazer. Em sua liberação das formas surge a realização e o<br />

seu fim exposto.<br />

As fotografias de Daniella Penna sem peripécias, pelo seu recorte absoluto,<br />

sua imobilidade absoluta, e até por sua essência de silêncio, sem<br />

seres humanos, são, mesmo assim, carregadas de sentido, em intervalos<br />

de sedução com o mundo de cenas de realidades comuns a todos e<br />

cheio de ausência do eu. São imagens condensadas, verdadeiramente<br />

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