Educação Sexual Múltiplos Temas - Cepac
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Voltando à minha adolescência, quando descobri meu corpo que<br />
tomou nova forma, e na rua comecei a perceber que era bonita,<br />
fiquei vaidosa. Gostava de me arrumar e estava com a auto-estima<br />
lá em cima. Então recebi uma ducha de água fria na escola! Foi<br />
então que comecei a ser questionada com a questão da raça negra,<br />
do meu corpo ser negro! Lembro que foi muito forte. Eu tinha um<br />
coleguinha que era loiro. Pelo fato de sermos muito tímidos os dois<br />
começamos a conversar. E uma coleguinha nossa perguntou-me num<br />
certo dia; “tu não te enxergas, tu já olhaste para a cor tua e dele?”<br />
E isso para mim foi uma tonelada de água fria, não foi nem um<br />
balde. [...] Mas antes disso já tínhamos uma certa reserva em relação<br />
à raça. Não tinha ninguém dizendo claramente nada, fora aquela<br />
coleguinha de escola que me jogou no rosto o fato de eu ser negra,<br />
mas isso era forte, nas relações da gente. [...] Eu tinha amizade com as<br />
outras alunas, mas o racismo era palpável. Não era visível. Não<br />
chegavam e falavam, mas a gente sentia. Você aprende a se proteger.<br />
Na verdade você se instala numa espécie de redoma para se proteger.<br />
Neste momento, a percepção de Themis foi a de que “o<br />
outro já não é mais um simples fragmento do mundo, mas o lugar<br />
de uma certa elaboração e como que de uma certa visão de<br />
mundo. Ali se faz um certo tratamento das coisas até então minhas”,<br />
como disse Merleau-Ponty (1996, p. 473-474).<br />
Essa consciência de si através do reencontro com o outro,<br />
em que aflora o estigma do preconceito em relação à diversidade<br />
étnica, marcando profundamente a sua percepção de si como<br />
Ser-corpo no mundo, repete-se em várias fases de sua trajetória<br />
de vida. Anos mais tarde, já atuando como professora, relembra<br />
que certos colegas professores tinham um aparente medo de<br />
aproximar-se dela, “não se encostavam nela”, em razão da cor<br />
de sua pele. E, consternada, sente, até hoje, o preconceito racial,<br />
como expressão do desrespeito à diversidade, atingir também<br />
seus alunos:<br />
Às vezes eu percebia que não chegavam a permitir uma relação<br />
calorosa entre nós, pois dava a impressão que tinham medo de<br />
CORPOREIDADE E DIVERSIDADE:<br />
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