DONATELLO GRIECOa Segunda Sinfonia, o Rudepoema e Choros n o 6, este também apresentadoem Nova York pela Orquestra Filarmônica (Stokovsky).O apartamento de Mindinha e Villa-Lobos no Hotel Waldorf-Astoriatransforma-se no ponto de reunião dos artistas mais destacados de passagempor Nova York.*No estrangeiro, em qualquer hotel em que se hospedasse, Villa-Lobosmontava, desde o momento de sua chegada, um grande laboratório em queimediatamente começavam a ouvir-se os sons de sua música. O piano, depreferência de meia cauda, muitas vezes tinha que ser içado e entrava pelajanela. Arminda Villa-Lobos desdobrava-se em esforços de desarrumaçãode malas e em telefonemas a empresários e amigos. Em mangas de camisa,ou com pullover, algo usado, de sua predileção, o compositor já tinha ocharuto aceso, ligava a televisão para os filmes de bang-bang e começava aencher as pautas com as suas notas, acompanhando-as ao piano.A atmosfera ficava impregnada do cheiro dos charutos havana, ospreferidos do compositor, igual, nessa predileção, ao Presidente GetúlioVargas, que não trocava os havanas por quaisquer outros charutos.Ao aroma dos Montecristos somava-se o da água de colônia Royal Briar,da perfumaria Atkinson, pois o casal viajava sempre com vários frascos emsua bagagem.Arminda arrumava a roupa, batia-se para rua, em direção aosupermercado mais próximo do Hotel New Weston, no East Side deManhattan, em busca de grandes pedaços de carne para rosbife, pão, frutas,manteiga, queijo tudo rapidamente arrumado na kitchenette da suíte. Poucashoras depois a carne já estava assando no pequeno fogão e era aguardadacom gula pelo maestro, que jantava com apetite, acompanhando a carnecom um copo de vinho espanhol Marques de Riscal. E, naturalmente depoisde tudo isso, um bom charuto e de novo, até alta noite, mais composição emais piano e mais bang-bang na TV.Os charutos vinham da loja Dunhill, na Quinta Avenida. Se ocorresseque Villa-Lobos passasse seu aniversário em Nova York, as caixas de charutosse acumulavam em cima do piano.Villa-Lobos não gostava de falar ao telefone e quem sempre se ocupavade contatos e recados era Arminda. Poucas pessoas tinham direito decidadania na suíte do Hotel e bem poucas conseguiam arrancar Villa-Lobospara a rua. Semanas e semanas seguidas, em Nova York, o compositor só112
<strong>ROTEIRO</strong> <strong>DE</strong> <strong>VILLA</strong>-<strong>LOBOS</strong>saía para ensaiar os concertos e para regê-los. Seu mundo, no centro deManhattan, era ainda o mapa do Brasil, os sons do Brasil, a música queinspiração do povo criava em sua imaginação.De repente chegava a hora de viajar, de ir para Paris, ou para o Canadá,ou para o México. Arminda cuidava da logística e os homens já vinham buscaro piano, junto ao qual Villa-Lobos permanecia até o último momento. Asviagens aéreas, muito rápidas, logo depositavam o casal, as músicas, os vidrosde Royal Briar e os charutos em Paris. O mundo musical brasileiro apenasmudava de cidade: o grande espetáculo da criação de ritmos e da magia desons continuava o mesmo em qualquer lugar.Sinfonia n o 6, sobre a linha das montanhas do Brasil. Primeira audiçãoem 29 de abril de 1950, orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro,regência de Villa-Lobos. Se a crítica vez por outra mostrou influencia, nascinco primeiras Sinfonias, do estilo de Vincent d’Indy, a Sinfonia n o 6 usa oprocesso gráfico também utilizado dos arranha-céus de Manhattan.Santos Dumont, arranjo para coro a três vozes à capela sobre a modinhade Eduardo das Neves (A Europa curvou-se ante o Brasil).Bachiana Brasileira n o 8, para orquestra sinfônica. Primeira audiçãoem Roma, na Academia Santa Cecília, regência de Villa-Lobos. Cincomovimentos: Prelúdio, Adágio, Ária (Modinha), Tocata (Catira batida) eFuga (Conversa). A Tocata oferece em forma livre a dança popular doBrasil Central, catira batida, espécie de quadrilha sertaneja ao ar livre, pordançarinos descalços que batem os pés no chão em passos miúdos. Quantoà Fuga é tratada na feição bachiana clássica, mas a melodia evoca as linhassentimentais características dos antigos seresteiros instrumentistas do Rio deJaneiro.8º Quarteto de Cordas, para dois violinos, viola e violoncelo. Primeiraaudição em 5 de Setembro de 1946, pelo Quarteto Iacovino. Vasco Marizclassifica-o com “obra sólida, bem realizada e de inspiração caudalosa, dentrodo espírito brasileiro”. Arnaldo Estrella: “...música exclusivamente camarística”,com “retorno ao mundo específico do quarteto, em sua totalidade a obra éfrancamente atonal”. Quatro movimentos: Allegro, suave, “polifonia densa edinâmica” (Estrella); Lento, impregnado de caráter indígena, Scherzo(Vivace); Quasi Allegro. “todo o Quarteto, disse-o próprio Villa-Lobos,tem lances enérgicos e intencionais de acordes dissonantes sem preparaçãotécnica”.113
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