DONATELLO GRIECO1 9 0 1A música leva o jovem Heitor à rua e à noite. Integra-se em um chorosem que D.Noêmia se dê conta disso. Os choros tocam em festas familiares,celebrações religiosas, feriados nacionais, carnaval. Volta à casa demadrugada.No primeiro choro a que pertenceu, Heitor toca violão clássico. Reuniãodo grupo de chorões na loja de artigos musicais sempre muito celebrada, OCavaquinho de Ouro, numa tradição que encontrara predecessora não menosfamosa, A Rabeca de Ouro, na Rua da Carioca. O conjunto toca músicas deCatulo da Paixão Cearense, de Ernesto Nazaré, principalmente de SátiroBilhar. Instrumentos do conjunto: flauta, bandolim, oficlide, clarineta, violão,cavaquinho, pistão e trombone.*Os musicólogos afirmam que a modinha erudita que nos veio de Portugalpassou à música popular, quando começou a ser tocada por conjuntoshumildes de funcionários, professores, caixeiros, conjuntos quetransformavam as partituras originais no que se chamaria de “estilo chorado”.As várias teorias indicam praticamente o mesmo trajeto artístico: do lundu,da modinha surgiu o choro brasileiro, o chorinho da gente simples, cujovirtuosismo não ia além dos instrumentos de pau e corda, cavaquinho, aflauta de madeira, o violão.*Ocorre recordar que, durante o período salazarista, houve em Portugalum movimento, chefiado pela Emissora Nacional, no sentido de que o virafosse considerado a música nacional portuguesa, desalojando-se o fado,apontado como de sentido decadente, uma “canção de vencidos” (conformeo título do excelente livro de Luís Moita). Mais ainda, o fado seriadesclassificado em virtude de não ser essencialmente lusitano, uma vez queteria tido sua origem no lundu brasileiro − e nisso também se utilizouargumentação de Mário de Andrade. A campanha, que lembrou inclusive afrase de Eça de Queirós que diz ser o fado “sensualidade com dor de barriga”,não conseguiu realizar seu objetivo um tanto demagógico. No caso, tenha ofado germinado a partir do lundu, ou tenha o lundu brasileiro vindo de modasportuguesas, ainda há o que pesquisar.Villa-Lobos, que sobre o assunto deve ter conversado com Mário deAndrade, não tomou partido na querela. Harmonizou um Vira em 1926,18
<strong>ROTEIRO</strong> <strong>DE</strong> <strong>VILLA</strong>-<strong>LOBOS</strong>para canto e piano, transcrevendo-o também para cinco vozes à capela. Eem 1929 também harmonizou um Fado, para canto e piano.*Sérgio Cabral cita o livro O Choro, obra hoje esgotada, em que AlexandreGonçalves Pinto, que era tocador de cavaquinho, alinha pequenas biografiasde cerca de 300 chorões no alvorecer de nosso século.A mocidade de Villa-Lobos transcorreu nesse ambiente noturno de cantochorado, ao lado de Catulo da Paixão Cearense, sob a inspiração maior daimaginação e da arte de Ernesto Nazaré. Chorões ilustres: Joaquim Antônioda Silva Callado, flautista, autor do choro Flor Amorosa; Anacleto deMedeiros, que nasceu na ilha de Paquetá em 1866 e em Paquetá morreu em1907, fundador, em 1896, da Banda do Corpo de Bombeiros, flautista ecompositor de schottisches, de polcas, quadrilhas e valsas e das cançõesTerna Saudade e Rasga coração; Patápio Silva, flautista, fluminense deItaocara, nascido em 1881 e morto aos 28 anos apenas, pioneiro natransposição para flauta de composições originariamente destinadas a outrosinstrumentos, autor também de romanças, como Margarida, a valsa Primeiroamor e Zinha, ritmo de samba, e de quem a Casa Édison, do Rio de Janeiro,somente em 1901 gravou oito discos; e o próprio Villa-Lobos, já dominandoplenamente o violão, armazenaria, durante, esses anos boêmios, o vastomaterial do ambiente carioca, das noites de luar, das festinhas familiares, tudoquanto viria a constituir uma fonte única de inspiração para seus Choros,entre os quais deve destacar-se o de n o 6 (1926), em que a flauta terá as maisbelas imagens sonoras dessa época romântica.No caso, houve, tanto em Nazaré, como em Villa-Lobos, aquilo em queEurico Nogueira França identificou o processo de cristalização da músicapopular na composição erudita. Nazaré passou para piano os choros, aspolcas, as valsas, os lundus de seus contemporâneos Paulinho Sacramento,Viriato, Callado, Chiquinha Gonzaga. E ele mesmo tocava, nas festas, noscinemas, nos clubes e no piano das editoras de música, as composições deQuincas Laranjeira, de Sátiro Bilhar e de Anacleto de Medeiros, mas tambémChopin e Liszt, isso quando não improvisava. Villa-Lobos, em seu violão, ouno seu instrumento básico, o violoncelo, executava o mesmo tipo de músicae improvisava livremente, principalmente quando tocava em cinemas.Felizes os que nessas noites calmosas da primeira década do séculopuderam acordar de madrugada com a música dos chorões, principalmentequando um desses chorões se chamava Heitor Villa-Lobos.19
- Page 1: ROTEIRO DE VILLA-LOBOS
- Page 4 and 5: Copyright ©, Fundação Alexandre
- Page 7 and 8: ApresentaçãoVilla-Lobos é uma pe
- Page 9: APRESENTAÇÃOruas, praças, edifí
- Page 12 and 13: DONATELLO GRIECOQuanto à rua, há
- Page 14 and 15: DONATELLO GRIECOHeitor Villa-Lobos
- Page 20: DONATELLO GRIECO*Catulo da Paixão
- Page 23 and 24: ROTEIRO DE VILLA-LOBOSVilla-Lobos a
- Page 25: ROTEIRO DE VILLA-LOBOSpara coro e o
- Page 28 and 29: DONATELLO GRIECOO “Curso de Vince
- Page 30 and 31: DONATELLO GRIECOe Elisa (1910). Pri
- Page 33 and 34: ROTEIRO DE VILLA-LOBOSDiante das cr
- Page 35 and 36: ROTEIRO DE VILLA-LOBOSregência de
- Page 38: DONATELLO GRIECO1 o Quarteto de Cor
- Page 43: ROTEIRO DE VILLA-LOBOSpoeta dos Epi
- Page 46: DONATELLO GRIECOmeio resistentes. E
- Page 50 and 51: DONATELLO GRIECO“uma das peças d
- Page 52 and 53: DONATELLO GRIECOpiano... obra de um
- Page 54 and 55: DONATELLO GRIECO“insuportavelment
- Page 56 and 57: DONATELLO GRIECOe Guiomar Novais, a
- Page 58 and 59: DONATELLO GRIECOdo mundo, nenhum de
- Page 60 and 61: DONATELLO GRIECORubinstein e Vera,
- Page 62 and 63: DONATELLO GRIECOO panorama de Paris
- Page 64 and 65: DONATELLO GRIECOséculo, data de 19
- Page 66 and 67:
DONATELLO GRIECOOs concertistas inc
- Page 68 and 69:
DONATELLO GRIECOrelativamente peque
- Page 70 and 71:
DONATELLO GRIECOArnaldo Estrella, a
- Page 72 and 73:
DONATELLO GRIECO1 9 2 7De novo em P
- Page 74 and 75:
DONATELLO GRIECOcarimbós escavados
- Page 76 and 77:
DONATELLO GRIECO21 de outubro de 19
- Page 78 and 79:
DONATELLO GRIECOa seu desejo, mesmo
- Page 80 and 81:
DONATELLO GRIECOVilla-Lobos, “vem
- Page 82 and 83:
DONATELLO GRIECOO Canto da Nossa Te
- Page 84 and 85:
DONATELLO GRIECOfatos concretos. Na
- Page 86 and 87:
DONATELLO GRIECOcomposições, ocas
- Page 88 and 89:
DONATELLO GRIECOCanção Marcial, c
- Page 90 and 91:
DONATELLO GRIECOGuia Prático (Álb
- Page 92 and 93:
DONATELLO GRIECOMoteto, arranjo de
- Page 94 and 95:
DONATELLO GRIECOO Canto do Pajé, m
- Page 96 and 97:
DONATELLO GRIECOCanção de José d
- Page 98 and 99:
DONATELLO GRIECO1 9 3 5Viagem de Vi
- Page 100 and 101:
DONATELLO GRIECOprincipal de sua at
- Page 102 and 103:
DONATELLO GRIECO1937, com coro de m
- Page 104 and 105:
DONATELLO GRIECO1947, solista Hilda
- Page 106 and 107:
DONATELLO GRIECOcom um brilho diver
- Page 108 and 109:
DONATELLO GRIECOCanção da Imprens
- Page 110 and 111:
DONATELLO GRIECONossa América, cor
- Page 112 and 113:
DONATELLO GRIECOa Segunda Sinfonia,
- Page 114 and 115:
DONATELLO GRIECOQuadrilha das Estre
- Page 116 and 117:
DONATELLO GRIECOMadona (poema sinf
- Page 118 and 119:
DONATELLO GRIECOBrennan e H. Curran
- Page 120 and 121:
DONATELLO GRIECOHomenagem a Chopin,
- Page 122 and 123:
DONATELLO GRIECOcoração dos homen
- Page 124 and 125:
DONATELLO GRIECOao piano, José Bot
- Page 126 and 127:
DONATELLO GRIECOVilla-Lobos é semp
- Page 128 and 129:
DONATELLO GRIECOWagner assim se ref
- Page 130 and 131:
DONATELLO GRIECORoss, regente Villa
- Page 132 and 133:
DONATELLO GRIECOAlém de numerosas
- Page 134 and 135:
DONATELLO GRIECOTotal dos discos li
- Page 136 and 137:
DONATELLO GRIECOAVE MARIA n o 6, ca
- Page 138 and 139:
DONATELLO GRIECOCANTO DO NATAL, cor
- Page 140 and 141:
DONATELLO GRIECODOBRADO PITORESCO,
- Page 142 and 143:
DONATELLO GRIECOHISTÓRIA DE PIERRO
- Page 144 and 145:
DONATELLO GRIECOMINHA TERRA, arranj
- Page 146 and 147:
DONATELLO GRIECOPRO PACE, para band
- Page 148 and 149:
DONATELLO GRIECOSINFONIETA N o 1, o
- Page 150 and 151:
DONATELLO GRIECOVIRGEM (À), canto
- Page 152 and 153:
DONATELLO GRIECOBÉHAGUE, Gérard -
- Page 156:
FormatoMancha gráficaPapelFontes15