DONATELLO GRIECO“insuportavelmente cacofônico”. O próprio Villa-Lobos acabou concordandocom a interpretação do pianista, que, nervoso, encurtou a peça, aliás,aplaudida.Oração ao Diabo, para cento e orquestra. Versão orquestral do originalpara canto e piano de Alberto Nepomuceno. Primeira audição, Orquestrado Teatro Municipal do Rio de Janeiro, solista Julieta Teles de Menezes,regência de Villa-Lobos.Pierrot, para canto e orquestra. Versão orquestral do original para cantoe piano de Henrique Oswald, poema de Olegário Mariano.Trovas, para canto e orquestra. Versão de um original de AlbertoNepomuceno, poesia de M. de Azevedo.1 9 2 2Villa-Lobos, que em seu temperamento muito peculiar não se reconheciadiscípulo de praticamente ninguém (a não ser, em tom de brincadeira, dePixinguinha, Universidade de Cascadura...), manteve sempre atitude de muitorespeito em relação à Graça Aranha. Para Villa-Lobos, como para muitosoutros integrantes do movimento modernista, a partir da Semana de ArteModerna de São Paulo (1922) e da conferência de Graça sobre o espíritomoderno, na Academia Brasileira de Letras (1924), para Villa-Lobos, GraçaAranha era na verdade alguém a que podia tratar reverentemente de mestre.Graça Aranha tivera, em Paris, onde servia em função diplomática, notíciados méritos do compositor, cujas peças, na França, já eram executadas emconcertos. É bem possível que, em 1917, em plena Grande Guerra, PaulClaudel, ao vir assumir a Legação da França no Brasil, tivesse recebido deGraça Aranha recomendação especial a respeito de Villa-Lobos. Essarecomendação, o romancista de Canaã deverá tê-lo formulado, com muitomaior empenho, ao compositor francês Darius Milhaud, que acompanhouClaudel na missão no Rio.Quando volta ao Rio, em 1921, Graça Aranha já vem entusiasmadocom a “música alucinada” de Villa-Lobos, com a magia da arte do compositorbrasileiro, em quem via “a mais sincera expressão do nosso espírito divagandoao nosso fabuloso mundo tropical”.A camaradagem entre Villa-Lobos e Milhaud gerou excelentes resultadospara a difusão, na Europa, dos ritmos brasileiros, principalmente dos popularesO Boi no Telhado, de Milhaud, pantomima frenética, é como que um delírio54
<strong>ROTEIRO</strong> <strong>DE</strong> <strong>VILLA</strong>-<strong>LOBOS</strong>do maxixe e do tango, estilizados pelo ilustre compositor francês, membrodestacado do Grupo dos Seis. O sucesso da pantomima, encenada em 1920,foi estrondoso - e é impossível deixar de assinalar o quanto Milhaud sebeneficiou de sua amizade com Villa-Lobos.O nome de Graça Aranha aparece, assim, ao lado do nome de Villa-Lobos, antes da Semana ele 22, durante a Semana e depois dela. QuandoVilla-Lobos partiu para a primeira viagem à França, em 1923, a participaçãoindireta de Graça Aranha no financiamento da excursão foi real. E não menosimportante a participação direta, já que Graça passou a destinar a Villa-Lobos a renda semanal de seu jeton na Academia, contribuição que só cessouquando, a partir da batalha do Hernani que foi a conferência sobre o espíritomoderno, o romancista da Viagem Maravilhosa rompeu definitivamente coma Academia, se bem que não interrompesse sua colaboração material com oartista em sua estada parisiense.*Se pudesse medir em centímetros quadrados o que a imprensa paulistadedicou a cada um dos escritores e artistas que participaram em fevereiro de1922 da Semana de Arte Moderna, em São Paulo, o maior espaço seria oocupado por Heitor Villa-Lobos. Os jornais de São Paulo já haviam prevenidoo público de que no Teatro Municipal, em 13, 15 e 17 de fevereiro aconteceriaalgo de extraordinário em matéria de inovação musical, e o públicocompareceu ao teatro disposto a tudo, tanto a aplaudir como a vaiar.Graça Aranha, Ronald de Carvalho, Mário de Andrade e Oswald deAndrade bem sabiam que a maior agitação da Semana não ocorreria nemnas telas de Tarsila e Anita Malfatti, nem nas esculturas de Brecheret, e simnas composições de Villa-Lobos. É que, em 1922, o compositor carioca jáhavia mostrado a força de sua inspiração e o poder renovador de sua arte:já compusera as Danças Características Africanas, para piano, em queMário identificou o “emprego da bárbarie bárbara”; os primeiros quatroQuartetos de Cordas; o poema Uirapuru; já confraternizara com DariusMilhaud e Arthur Rubinstein; já terminara as duas séries da Prole do Bebê,as Canções Típicas Brasileiras, o 1 o Choros para violão, Lenda doCastelo.Regendo com entusiasmo e com um aplomb de desafio, sem ceder aosapupos e sem capitalizar os aplausos, Villa-Lobos efetivamente roubou oshow da Semana, capitaneando o grupo de artistas integrados na sua música,o violoncelista Alfredo Gomes, os pianistas Ernani Braga, Lucília Villa-Lobos55
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