DONATELLO GRIECOcarimbós escavados num tronco seco cobertos com pele de veado, apererenga de tamanho médio, até o tambor ou tambu, pau roliço, oco, comum metro de comprido e quarenta centímetros de diâmetro, coberto numadas pontas com um couro de boi. Também os roncos, a cuíca, as cordascomo o sansá, o berimbau africano (e também o indígena), os chocalhos, oganzá ou caracaxá (ou reco-reco). Também os instrumentos de sopro, peçasmuito rústicas como o afofiê, flautinha de caniço, insinuante como a própriaflauta capadócia que Villa-Lobos conheceria na cidade, afofiê que sesingularizava por ser o único instrumento popular de sopro.Ao colecionar instrumentos de índios e negros, Villa-Lobos se adestravatambém em seu uso e, não poucas vezes, ensaiando com orquestrasestrangeiras, insistiu numerosas vezes com o primeiro flautista para que saíssena perfeição chorona a frase da flauta que é a melodia mais rica Choros n o 6.Na versão orquestrada das Danças Características Africanas (1916)Villa-Lobos inclui um caxambu e um reco-reco.No Choros n o 7 há um tã-tã invisível. No Choros n o 8, um caracaxá.No Choros n o 9, para orquestra, entram vários instrumentos populares:o tamborim de samba, do tipo geralmente coberto com pele de gato, a tartarugacoberta com prancha de madeira onde se ajustam tiras de metal, a bateria, otambor surdo, o camisão e o bombo.No Choros n o 13 para duas orquestras e banda, reaparecem o camisão,o caxambu, a tartaruga, o tambu, o tambi e o pio.Em resumo, as composições para orquestra incluem os seguintesinstrumentos típicos brasileiros: tã-tã, coco, matraca, reco-reco, caxambu,pandeiro, ganzá, pio, trocano, surdo, chocalhos, camisão grande e camisãopequeno e tamborim de samba.Compreende-se que a inclusão desses instrumentos rústicos no contextoerudito obtivesse, no estrangeiro, sucesso considerável e que muitos músicosou musicólogos houvessem solicitado a Villa-Lobos permissão para desenharesses camisões e esses caracaxás, ali mesmo junto à orquestra, já que obrasileiro jamais se separou dessas peças.No caso a música do que Mário de Andrade chamou de “barbárie” viajoupelo mundo ao lado da música erudita enriquecendo-a pela originalidade epelo exotismo, harmonizando-se com ela e mostrando a plateias muito exigentesum espetáculo único de caldeamento de sons de extraordinário efeito.Andrés Segóvia (1893-1987) grangeou para a guitarra, instrumentopopular flamengo, direito de cidadania nos grandes salões mundiais de74
<strong>ROTEIRO</strong> <strong>DE</strong> <strong>VILLA</strong>-<strong>LOBOS</strong>concertos eruditos. Em 1910, ainda o consideravam um iconoclasta. Quandomorreu, em 1987, Segóvia já dera ao instrumento popular um prestígio tãogrande que nele investira todo o seu talento e toda a sua perseverança. Porobra de Segóvia, a guitarra passou a ter nos concertos a mesma categoria dopiano, do violino e do violoncelo.Segóvia sempre foi muito ciumento de sua guitarra Hauser de seis cordas.Tocava concentrado, numa postura quase mítica, estabelecendo uma comoque uma comunhão total com o público. Fanático pela guitarra, na mesmalinha em que Villa-Lobos começara com violão capadócio, Segóvia viveupara o instrumento durante cerca de oito décadas, desde os 17 anos. Adoravaa música espanhola de Tarrega e Sor, pondo em seus concertos tanto ocontemporâneo Britten quanto páginas barrocas, especialmente de Bach. Masseu carinho muito especial ia sempre aos prelúdios, estudos e concertos deVilla-Lobos, que conhecer em Paris e a quem permaneceu ligado até a mortedo brasileiro. Como Villa-Lobos, Segóvia também arranjou para guitarramúsica composta para outros instrumentos. Praticamente durante toda a vidaestudou pelo menos cinco horas diárias. Já nonagenário, ainda realizavaextensas tournées pelo mundo, chegando a dar cinquenta concertos por ano.Os traços biográficos de Segóvia são muito semelhantes, aos de Villa-Lobos,na devoção à disseminação desinteressada e fidelíssima, da mensagem damelhor arte.*Nunca deixou Villa-Lobos de aconselhar a seus amigos parisienses umatournée artística no Brasil. Em alguns casos, como em relação a Tomás Teráne Marguerite Long, a vinda ao Brasil se transformou em uma permanênciadidática mais prolongada. Marguerite Long integrou-se em cursos deaperfeiçoamento no Instituto Nacional de Música. Terán pode imprimir a suaaltíssima arte a um grande grupo de musicistas brasileiras, entre as quais háque destacar Honorina Silva. Em 1926, Terán foi o solista, no Teatro Lírico,no Rio de Janeiro, das Cirandas.Possessão, ballet, Para orquestra Manuscrito extraviado. Primeiraaudição na Noruega.Momoprecoce, fantasia, piano e orquestra. Oito peças, compostas apartir de 1919, do Carnaval das Crianças, conexão por meio de uma parteorquestral. Primeira audição, Amsterdam, solista Magdalena Tagliaferre,regente Pierre Monteux. Também para piano e banda, primeira audição em75
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