DONATELLO GRIECOO Canto da Nossa Terra, para violoncelo e piano. Excerto da BachianaBrasileira n o 21 9 3 1Na década de 30, em plena maturidade artística, Villa-Lobos, sem deixar decompor, será acima de tudo o educador. No período lhe é dada a oportunidadede concretizar, e o fará de forma altamente rentável para a juventude, os planosde educação musical e artística que já formulara em São Paulo.A Revolução de 30 viu nele alguém que poderia executar uma campanhade renovação artística nas linhas gerais da Semana de Arte Moderna: músicanova para um Brasil novo. A ninguém ocorreu cobrar do compositor suasligações com o establishment paulistano e o seu contato com Júlio Prestes,candidato governista à sucessão do Presidente Washington Luís e cuja eleiçãofoi contestada pelos Estados do Nordeste, por Minas e Rio Grande do Sul.O Capitão João Alberto Lins de Barros, assumindo a interventoria federalem São Paulo, percebeu a importância do planejamento de Villa-Lobos elogo o convocou.De São Paulo, convidado pelo educador baiano Anísio Teixeira, Villa-Lobos veio para o Rio de Janeiro e, na Secretaria de Educação do entãoDistrito Federal, consegue pôr em ação seu projeto didático, baseado nadoutrina segundo a qual o canto orfeônico é o melhor fator de educaçãoartística, moral e cívica. No Departamento de Educação Villa-Lobos organizaentão a Superintendência de Educação Musical e Artística, que passara adirigir com o entusiasmo e a convicção de quem sabe que nenhum erro lheserá relevado.Em cinco meses de trabalho, já pode dirigir demonstrações públicas deum coro orfeônico de 13.000 vozes, com escolares e com o Orfeão deProfessores também de sua fundação, resultante·do Curso, por ele ministrado,de Pedagogia da Música e do Canto Orfeônico.Disse Anísio Teixeira: “Villa-Lobos fez-se o educador de professores ecrianças: na realidade, o educador do povo”. Lançado o sistema, aSuperintendência não faria senão crescer. Germinaria até a criação, anosmais tarde, do Conservatório Nacional de Canto OrfeônicoAs concentrações orfeônicas cresceriam: 18.000 vozes em 1932, 30.000vozes (com mil músicos de banda) em 1935, espetáculo repetido em 1937 eo recorde de 40.000 escolares em 1940.82
<strong>ROTEIRO</strong> <strong>DE</strong> <strong>VILLA</strong>-<strong>LOBOS</strong>Almeida Prado, compositor de vanguarda, atribui grande importância àobra de Villa-Lobos na educação musical da criança, afirmando que ele “foium dos compositores mais profícuos nessa área.”Eurico Nogueira França, lembrando os grandes momentos orfeônicosno estádio do Vasco da Gama, fala em “polifonia gigantesca” da multidão deescolares, “uma espécie de manifestação de vanguarda, música improvisadae bastante aleatória, por meio de monossolfa: Villa-Lobos indicava com osdedos de ambas as mãos, as notas e os acordes que as crianças cantavam.”*Em lúcido ensaio, Guilherme Figueiredo recorda que se rebelou contraas espetaculares concentrações orfeônicas regidas por Villa-Lobos, de“rasgado apoio” a Getúlio Vargas e ao Estado Novo. Guilherme confessaainda que essa atitude lhe valeu “um justo puxão de orelha de Mário deAndrade”. Guilherme lembra que Mário também era contra o Estado Novode Getúlio, mas nem por isso se sentiu forçado a isolar-se em uma torre demarfim e continuou, no Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo,seu extraordinário trabalho de promoção cultural e artística.De Getúlio Vargas recebeu Villa-Lobos, após a Revolução de 30, oestímulo e o apoio que lhe permitiram estruturar o ensino do canto orfeônico,disciplina que demonstrou a extraordinária vocação musical da juventude,numa experiência vitoriosa que determinaria, a criação ulterior, no períododitatorial, do Conservatório Nacional de Canto Orfeônico.Na realidade, toda a ampla renovação cultural que o Brasil conheceudepois da Semana de Arte Moderna (1922) e da conferência de Graça Aranhasobre o Espírito Moderno, na Academia Brasileira (1924) não poderia tertolerado estagnação, muito menos retrocesso, na era de Vargas, durante aqual importantes acontecimentos culturais se verificaram, nas artes plásticas,nas belas letras, no ensino universitário, na pesquisa científica, na música.Claro que nem todos os intelectuais se aproximaram de Getúlio Vargas, masnem por isso sofreram contratempos. Claro, também, que a máquina dapropaganda oficial utilizou largamente os progressos culturais do paísintegrando-os nas realizações do Governo. Quando, contudo, se apregoavampublicamente as iniciativas de Gustavo Capanema no Ministério da Educação,a obra pioneira de Rodrigo Melo Franco de Andrade na defesa do patrimôniohistórico e artístico nacional, a expansão da obra de Oscar Niemeyer e deLúcio Costa, o gênio criador de Cândido Portinari e a liderança musical deVilla-Lobos, essa publicidade não era totalmente mentirosa, fundava-se em83
- Page 1:
ROTEIRO DE VILLA-LOBOS
- Page 4 and 5:
Copyright ©, Fundação Alexandre
- Page 7 and 8:
ApresentaçãoVilla-Lobos é uma pe
- Page 9:
APRESENTAÇÃOruas, praças, edifí
- Page 12 and 13:
DONATELLO GRIECOQuanto à rua, há
- Page 14 and 15:
DONATELLO GRIECOHeitor Villa-Lobos
- Page 18 and 19:
DONATELLO GRIECO1 9 0 1A música le
- Page 20:
DONATELLO GRIECO*Catulo da Paixão
- Page 23 and 24:
ROTEIRO DE VILLA-LOBOSVilla-Lobos a
- Page 25:
ROTEIRO DE VILLA-LOBOSpara coro e o
- Page 28 and 29:
DONATELLO GRIECOO “Curso de Vince
- Page 30 and 31:
DONATELLO GRIECOe Elisa (1910). Pri
- Page 33 and 34: ROTEIRO DE VILLA-LOBOSDiante das cr
- Page 35 and 36: ROTEIRO DE VILLA-LOBOSregência de
- Page 38: DONATELLO GRIECO1 o Quarteto de Cor
- Page 43: ROTEIRO DE VILLA-LOBOSpoeta dos Epi
- Page 46: DONATELLO GRIECOmeio resistentes. E
- Page 50 and 51: DONATELLO GRIECO“uma das peças d
- Page 52 and 53: DONATELLO GRIECOpiano... obra de um
- Page 54 and 55: DONATELLO GRIECO“insuportavelment
- Page 56 and 57: DONATELLO GRIECOe Guiomar Novais, a
- Page 58 and 59: DONATELLO GRIECOdo mundo, nenhum de
- Page 60 and 61: DONATELLO GRIECORubinstein e Vera,
- Page 62 and 63: DONATELLO GRIECOO panorama de Paris
- Page 64 and 65: DONATELLO GRIECOséculo, data de 19
- Page 66 and 67: DONATELLO GRIECOOs concertistas inc
- Page 68 and 69: DONATELLO GRIECOrelativamente peque
- Page 70 and 71: DONATELLO GRIECOArnaldo Estrella, a
- Page 72 and 73: DONATELLO GRIECO1 9 2 7De novo em P
- Page 74 and 75: DONATELLO GRIECOcarimbós escavados
- Page 76 and 77: DONATELLO GRIECO21 de outubro de 19
- Page 78 and 79: DONATELLO GRIECOa seu desejo, mesmo
- Page 80 and 81: DONATELLO GRIECOVilla-Lobos, “vem
- Page 84 and 85: DONATELLO GRIECOfatos concretos. Na
- Page 86 and 87: DONATELLO GRIECOcomposições, ocas
- Page 88 and 89: DONATELLO GRIECOCanção Marcial, c
- Page 90 and 91: DONATELLO GRIECOGuia Prático (Álb
- Page 92 and 93: DONATELLO GRIECOMoteto, arranjo de
- Page 94 and 95: DONATELLO GRIECOO Canto do Pajé, m
- Page 96 and 97: DONATELLO GRIECOCanção de José d
- Page 98 and 99: DONATELLO GRIECO1 9 3 5Viagem de Vi
- Page 100 and 101: DONATELLO GRIECOprincipal de sua at
- Page 102 and 103: DONATELLO GRIECO1937, com coro de m
- Page 104 and 105: DONATELLO GRIECO1947, solista Hilda
- Page 106 and 107: DONATELLO GRIECOcom um brilho diver
- Page 108 and 109: DONATELLO GRIECOCanção da Imprens
- Page 110 and 111: DONATELLO GRIECONossa América, cor
- Page 112 and 113: DONATELLO GRIECOa Segunda Sinfonia,
- Page 114 and 115: DONATELLO GRIECOQuadrilha das Estre
- Page 116 and 117: DONATELLO GRIECOMadona (poema sinf
- Page 118 and 119: DONATELLO GRIECOBrennan e H. Curran
- Page 120 and 121: DONATELLO GRIECOHomenagem a Chopin,
- Page 122 and 123: DONATELLO GRIECOcoração dos homen
- Page 124 and 125: DONATELLO GRIECOao piano, José Bot
- Page 126 and 127: DONATELLO GRIECOVilla-Lobos é semp
- Page 128 and 129: DONATELLO GRIECOWagner assim se ref
- Page 130 and 131: DONATELLO GRIECORoss, regente Villa
- Page 132 and 133:
DONATELLO GRIECOAlém de numerosas
- Page 134 and 135:
DONATELLO GRIECOTotal dos discos li
- Page 136 and 137:
DONATELLO GRIECOAVE MARIA n o 6, ca
- Page 138 and 139:
DONATELLO GRIECOCANTO DO NATAL, cor
- Page 140 and 141:
DONATELLO GRIECODOBRADO PITORESCO,
- Page 142 and 143:
DONATELLO GRIECOHISTÓRIA DE PIERRO
- Page 144 and 145:
DONATELLO GRIECOMINHA TERRA, arranj
- Page 146 and 147:
DONATELLO GRIECOPRO PACE, para band
- Page 148 and 149:
DONATELLO GRIECOSINFONIETA N o 1, o
- Page 150 and 151:
DONATELLO GRIECOVIRGEM (À), canto
- Page 152 and 153:
DONATELLO GRIECOBÉHAGUE, Gérard -
- Page 156:
FormatoMancha gráficaPapelFontes15