DONATELLO GRIECOOs concertistas incluem sempre mais e mais Villa-Lobos em seusprogramas. O primeiro concerto de Villa-Lobos é na Sala dos Agricultores,sob o patrocínio da Casa Eschig, com Quatuor, Pensées D’Enfant,Epigramas Irônicos e Sentimentais n os 1 e 5, Prole do Bebê no 1.Na Sala Gaveau, num único concerto, Amériques, de Edgard Varèse eAmazonas de Villa-Lobos. Quase um motim na sala...*Edgard Varèse é, nos anos parisienses, um dos companheiros de Villa-Lobos. Varèse não é extrovertido, mas sente-se bem, paradoxalmente, emcompanhia do jovem brasileiro, que leva a toda parte, familiarizado com todosos ambientes: não se esqueça que, em 1916, foi Varèse quem levou JeanCocteau pela primeira vez ao atelier de Picasso. Varèse, nascido em Paris,tornar-se-ia músico americano. Lutara para aprender harmonia, resistindo aum pai intolerante. Depois de um estágio em Turim, volta a Paris e aperfeiçoasena Schola Cantorum. Massenet será um de seus protetores. Seusfanatismos: Berlioz e Debussy. Compõe com uma veia revolucionária, querfazer música nova para os novos tempos da indústria ruidosa, do burburinhocosmopolita. Romain Rolland viu nele “uma espécie de jovem Beethovenitaliano pintado por Giorgione”. Seus poemas sinfônicos causam surpresa,como o Amériques, amplamente divulgado nos Estados Unidos por LeopoldStokovski. Sua Ionização é a primeira peça importante que só utilizainstrumentos de percussão.Reservado em pessoa, é explosivo na música: Henry Miller viu nele umtemperamento de dinamite. E Stravinsky, lamentando que Varèse semantivesse solitário e produzisse pouco, disse que Edgard preferia compormúsica em lugar de representar o papel de compositor, papel que tantosostentam.Edgard Varèse marca fundo sua convivência com Villa-Lobos, que sempreo recordaria com admiração. Foi a pedido de Varèse que Villa-Lobos compôso ciclo para piano As Três Marias (1939).Choros n o 2, para flauta e clarineta, no gênero da música de câmara,dedicada a Mário de Andrade. Também para piano, depois. Primeira audiçãoParis, 17 de setembro de 1925. Peça brasileiríssima. Diz Villa-Lobos: “Já é atransfiguração e a síntese do plano que o autor arquitetou. Os temas e osritmos obstinados que aparecem nos compassos, a cargo da clarineta em lásão considerados como essência refinada do ritmo popular em embrião.”66
<strong>ROTEIRO</strong> <strong>DE</strong> <strong>VILLA</strong>-<strong>LOBOS</strong>Choros n o 7 (setembro), para flauta, oboé, clarineta em si bemol, saxofonealto em mi bemol, fagote, violino, violoncelo e tã-tã (invisível). Primeira audiçãono Rio de Janeiro, 19 de setembro de 1925. Regendo esse Choros emBarcelona, Villa-Lobos aumentaria o numero de violinos e violoncelos. Síntesedo próprio Villa-Lobos: “... de sabor ameríndio... transforma-se à maneiracivilizada, com as características da antiga polquinha da cidade nova, alegree movida”. Mário de Andrade vê aí “a apoteose de mato sombrio”.Diz Renato Almeida: “Por sobre uma massa de sons bizarros, com coloridoestranho de timbres raros, afloram (no Choros n o 7) deliciosas melodias desabor popular e carregadas de poesia”. Adhemar Nóbrega aponta “atransfiguração, para o plano de música erudita, de modalidades populares danossa música, com uma valsinha rural na voz do fagote” e a valorização deuma polca “pela clarineta, em remota evocação da Cidade Nova”.1 9 2 5Ainda em Paris, Tomás Terán disse a Hermínio Bello de Carvalho queera costume dos pianistas espanhóis, para imitar o som do violão, colocaruma tolha de papel entre as cordas do piano. Terán mostra isso a Villa-Lobos que depois usaria esse artifício no Choros n o 8. Terán e Villa-Lobosinseparáveis em Paris, no quarto da Praça Saint Michel, no verão em Lussacle-Château,empinando, papagaios, jogando bilhar. Maria Teresa Terán dáde presente a Villa-Lobos o violão que ele conservaria até o fim da vida.Villa-Lobos volta ao Brasil, dirá Manuel Bandeira, abalado pela Sagraçãoda Primavera de Stravinsky, que confessara ter sido “a maior emoçãomusical” de sua vida. Diz Bandeira: “Villa-Lobos não voltou cheio de Paris,chegou de lá cheio de Villa-Lobos”.Voltando ao Brasil em 1925, e “mais brasileiro, se isso fosse possível,que antes de partir” (disse-o Arnaldo Estrella), escala no Recife, com doisconcertos no Teatro Santa Isabel. No primeiro, Sonata Fantasia para violinoe piano e Trio n o 3, mais Momoprecoce (sem orquestra). Executantes: Villa-Lobos, Souza Lima e o violinista Raskin. Segundo programa: a sonataDésespérance para violino e piano, peças para piano e o Trio n o 1.Era São Paulo, sob o patrocínio de D. Olívia Guedes Penteada, de 8fevereiro, com a orquestra, da Sociedade de Concertos Sinfônicos, umadezena de recitais, inclusive com peças de música francesa em primeira audiçãoe 5º Concerto para piano e orquestra (Imperador) de Beethoven. Êxito67
- Page 1:
ROTEIRO DE VILLA-LOBOS
- Page 4 and 5:
Copyright ©, Fundação Alexandre
- Page 7 and 8:
ApresentaçãoVilla-Lobos é uma pe
- Page 9:
APRESENTAÇÃOruas, praças, edifí
- Page 12 and 13:
DONATELLO GRIECOQuanto à rua, há
- Page 14 and 15:
DONATELLO GRIECOHeitor Villa-Lobos
- Page 18 and 19: DONATELLO GRIECO1 9 0 1A música le
- Page 20: DONATELLO GRIECO*Catulo da Paixão
- Page 23 and 24: ROTEIRO DE VILLA-LOBOSVilla-Lobos a
- Page 25: ROTEIRO DE VILLA-LOBOSpara coro e o
- Page 28 and 29: DONATELLO GRIECOO “Curso de Vince
- Page 30 and 31: DONATELLO GRIECOe Elisa (1910). Pri
- Page 33 and 34: ROTEIRO DE VILLA-LOBOSDiante das cr
- Page 35 and 36: ROTEIRO DE VILLA-LOBOSregência de
- Page 38: DONATELLO GRIECO1 o Quarteto de Cor
- Page 43: ROTEIRO DE VILLA-LOBOSpoeta dos Epi
- Page 46: DONATELLO GRIECOmeio resistentes. E
- Page 50 and 51: DONATELLO GRIECO“uma das peças d
- Page 52 and 53: DONATELLO GRIECOpiano... obra de um
- Page 54 and 55: DONATELLO GRIECO“insuportavelment
- Page 56 and 57: DONATELLO GRIECOe Guiomar Novais, a
- Page 58 and 59: DONATELLO GRIECOdo mundo, nenhum de
- Page 60 and 61: DONATELLO GRIECORubinstein e Vera,
- Page 62 and 63: DONATELLO GRIECOO panorama de Paris
- Page 64 and 65: DONATELLO GRIECOséculo, data de 19
- Page 68 and 69: DONATELLO GRIECOrelativamente peque
- Page 70 and 71: DONATELLO GRIECOArnaldo Estrella, a
- Page 72 and 73: DONATELLO GRIECO1 9 2 7De novo em P
- Page 74 and 75: DONATELLO GRIECOcarimbós escavados
- Page 76 and 77: DONATELLO GRIECO21 de outubro de 19
- Page 78 and 79: DONATELLO GRIECOa seu desejo, mesmo
- Page 80 and 81: DONATELLO GRIECOVilla-Lobos, “vem
- Page 82 and 83: DONATELLO GRIECOO Canto da Nossa Te
- Page 84 and 85: DONATELLO GRIECOfatos concretos. Na
- Page 86 and 87: DONATELLO GRIECOcomposições, ocas
- Page 88 and 89: DONATELLO GRIECOCanção Marcial, c
- Page 90 and 91: DONATELLO GRIECOGuia Prático (Álb
- Page 92 and 93: DONATELLO GRIECOMoteto, arranjo de
- Page 94 and 95: DONATELLO GRIECOO Canto do Pajé, m
- Page 96 and 97: DONATELLO GRIECOCanção de José d
- Page 98 and 99: DONATELLO GRIECO1 9 3 5Viagem de Vi
- Page 100 and 101: DONATELLO GRIECOprincipal de sua at
- Page 102 and 103: DONATELLO GRIECO1937, com coro de m
- Page 104 and 105: DONATELLO GRIECO1947, solista Hilda
- Page 106 and 107: DONATELLO GRIECOcom um brilho diver
- Page 108 and 109: DONATELLO GRIECOCanção da Imprens
- Page 110 and 111: DONATELLO GRIECONossa América, cor
- Page 112 and 113: DONATELLO GRIECOa Segunda Sinfonia,
- Page 114 and 115: DONATELLO GRIECOQuadrilha das Estre
- Page 116 and 117:
DONATELLO GRIECOMadona (poema sinf
- Page 118 and 119:
DONATELLO GRIECOBrennan e H. Curran
- Page 120 and 121:
DONATELLO GRIECOHomenagem a Chopin,
- Page 122 and 123:
DONATELLO GRIECOcoração dos homen
- Page 124 and 125:
DONATELLO GRIECOao piano, José Bot
- Page 126 and 127:
DONATELLO GRIECOVilla-Lobos é semp
- Page 128 and 129:
DONATELLO GRIECOWagner assim se ref
- Page 130 and 131:
DONATELLO GRIECORoss, regente Villa
- Page 132 and 133:
DONATELLO GRIECOAlém de numerosas
- Page 134 and 135:
DONATELLO GRIECOTotal dos discos li
- Page 136 and 137:
DONATELLO GRIECOAVE MARIA n o 6, ca
- Page 138 and 139:
DONATELLO GRIECOCANTO DO NATAL, cor
- Page 140 and 141:
DONATELLO GRIECODOBRADO PITORESCO,
- Page 142 and 143:
DONATELLO GRIECOHISTÓRIA DE PIERRO
- Page 144 and 145:
DONATELLO GRIECOMINHA TERRA, arranj
- Page 146 and 147:
DONATELLO GRIECOPRO PACE, para band
- Page 148 and 149:
DONATELLO GRIECOSINFONIETA N o 1, o
- Page 150 and 151:
DONATELLO GRIECOVIRGEM (À), canto
- Page 152 and 153:
DONATELLO GRIECOBÉHAGUE, Gérard -
- Page 156:
FormatoMancha gráficaPapelFontes15