DONATELLO GRIECOdo mundo, nenhum deu ideia tão grande do nosso poder de criar”, encaminhaa votação do projeto, em 24 de julho de 1922. “Este músico (diz) não éapenas um músico: é uma expressão luminosa do Brasil novo, é um embaixadorda mentalidade musical da nossa pátria, é uma conformação pessoal em quecantam todas as sinfonias esparsas do nosso país, é um Amazonas deinspiração condensado num físico humano, é, afinal, uma expressão que nosorgulha do ponto de vista da cultura: um homem que se dedica apenas aopensamento e ao sentimento, e que pode, lá, falar em nome daquilo quetemos de mais alto, de mais puro, de mais belo! Negar a Villa-Lobos quarentacontos de réis para que possa tomar passagem e ir a Europa, que nos manda,todos os anos, maestros e pseudomaestros, às vezes abaixo da nossa cultura:negar a Villa-Lobos o direito de ir à Europa, mostrar que não somos apenasos ‘oito Batutas’ que lá sambeiam, é negar que pensamos musicalmente, éuma atitude não digna da Câmara dos Senhores Deputados brasileiros!. Nãoneguemos esta subvenção, não neguemos estes quarenta contos de réis. Seassim o fizermos, cometeremos uma brutalidade - permitam-me a expressão- feriremos um artista - fato raro! que o é realmente, porque há muitos falsosartistas, mas artistas verdadeiros, quer dizer, homens, super-homens,criadores, capazes de criar como só faz Deus... ah! isso é uma coisaextraordinária!”O próprio Oscar Guanabarino, sempre crítico azedo de Villa-Lobos, dizmesmo: “Pensionar Villa-Lobos não é um favor pessoal... O artista é o melhordos veículos para a aproximação os povos. Venha o mais depressa possívelesse projeto convertido em lei.”A dotação, finalmente votada, ainda que pela metade, será empregada porVilla-Lobos na maior parte em preparar o material de orquestra para ParisQuanto aos “Oito Batutas” a que Gilberto Amado se refere em sua defesade Villa-Lobos, trata-se de um grupo, formado em 1919, que tocouinicialmente em cinemas cariocas e logo depois, em excursão financiada porArnaldo Guinle, estreou em Paris, num dancing, executando apenas músicabrasileira, maxixes, choros cateretês e muita batucada. Em Paris, o conjuntopermaneceu seis meses, sempre com sucesso. À frente dos Oito estavaPixinguinha, com sua flauta. Além dele, China (violão, piano e canto), Donga,(o Ernesto de Souza famoso por sua cançoneta Quem inventou a mulata,violonista de mérito) Raul e Jacó Palmieri, aquele no violão e este no pandeiro,Nelson e José Alves, o primeiro no cavaquinho e o segundo no bandolim eno ganzá e Luís de Oliveira, bandola e reco-reco.58
<strong>ROTEIRO</strong> <strong>DE</strong> <strong>VILLA</strong>-<strong>LOBOS</strong>Os “Oito Batutas” marcaram época, na história da música popularbrasileira no exterior, numa Paris sacudida por ventos de renovação, queconhecia uma verdadeira revolução através dos bailados de Diaghilev, dogrupo de Picasso no Bateau lavoir e das audácias de Cocteau e do Grupodos Seis.Verde Velhice, para Orquestra Divertissements. Primeira audição, SãoPaulo, 1926, regência de Villa-Lobos.Dança dos Mosquitos, para orquestra.Brasil Novo, coro a quatro vozes com acompanhamento de piano ebateria. Com o Zé Povo. Também para coro e orquestra.Fantasia de Movimentos Mistos, para violino e piano, também paraviolino e orquestra. (Transfiguração de várias tribos do Brasil.) Trêspeças: Alma Convulsa, Serenidade, Contentamento. Primeira audiçãode Alma Convulsa e Contentamento, em 1927, solista Paulina d’Ambrosio.Primeira audição integral da transcrição para violino e orquestra, Paris,1929. Apresentação integral no Rio de Janeiro, Orquestra do TeatroMunicipal, 23 de abril de 1941, violinista Oscar Borgerth, regente AlbertWolff. Em Paris, 1927, Les Nouvelles Littéraires disse de Serenidade ede Mariposas na luz: “...São concertos de violino, sedutores e finos, muitomenos pessoais que as obras brasileiras do autor, mas muito hábeis etestemunham um talento e uma fatura muito matizados”. Do próprio Villa-Lobos: “Esta obra representa um estado d’alma, com alguma sugestãoindígena”.1 9 2 3Antes de embarcar para a Europa, Villa-Lobos dá no Rio de janeiroquatro concertos. Série bem organizada e bem divulgada, com solistas denome, mas o público não corresponde à expectativa, o que levará Ronald deCarvalho a lamentar “a decadência da platéia carioca”.Villa-Lobos embarca no Rio em 30 de junho de 1923, só. Em Paris jáconta com os bons ofícios de pelo menos dois amigos, Arthur Rubinstein eVera Janacópulos. É real o prestígio de Vera nos meios artísticos parisienses.Em 1921 ela escrevera o libreto francês de O Amor de três laranjas, óperade Prokofiev. Tal como Rubinstein o fazia cem as peças de piano de Villa-Lobos, Vera incluía em seus recitais canções do brasileiro. Pela mão de59
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