DONATELLO GRIECOcomposições, ocasiões em que conseguia extrair de todos os naipes daorquestra a verdadeira expressão do que escrevera.Houve época em que, julgando-se vítima de incompreensões e decampanhas personalistas, Villa-Lobos lamentava que, aplaudido noestrangeiro, fosse ele ignorado em seu próprio país. Essa fase não foi longa e,a partir de suas tournées pelo exterior, de 1944 em diante, o compositorpraticamente deixou de falar nessa antinomia que o fazia sofrer. Sua vidapassou a ser de composição permanente e poderia repetir o que disseStravinsky: “Nasci para compor e jamais poderia passar sem compor.”*Agrippino Grieco, meu pai, nunca ocultou seu exclusivismo em matériamusical: para ele como que só existiu Wolfgang Amadeus Mozart, o que olevava mesmo a não admitir que se desse a alguém, no Registro Civil, oprenome Mozart. Esse exclusivismo, ele o conservou durante toda a vida elevou-o a não aceitar outro tipo de música.No Brasil, suas preferências iam para Francisco Manuel da Silva e CarlosGomes: o autor da música do Hino Nacional “emocionava-o sempre queuma banda militar executava, a partitura simbólica do Brasil”, quanto a CarlosGomes, Agrippino ouvia a protofonia do Guarani e a modinha Quem sabe?por entre exclamaçõesO artigo de Agrippino sobre Villa-Lobos, Tartarin de batuta, publicadoprimeiro em O Jornal, no Rio de Janeiro e posteriormente incluído no volumeZeros à esquerda, é uma forte página satírica, em estilo crítico impressionista,mas não verrineiro, visivelmente inspirado pelo desejo de marcar uma posiçãojunto aos que, na década de 30, queriam preservar a incolumidade da músicado Hino Nacional, música que estaria ameaçada de alteração. Essa alteração,a cargo de uma comissão oficial em que se integrou Villa-Lobos, eraconsiderada por alguns como um retorno à verdadeira essência musical doHino, para outros seria uma mutilação da partitura de Francisco Manuel. Emverdade, Villa-Lobos queria apenas que se cantasse corretamente o hino.A página de Agrippino também ironiza a onda folclórica e o vezo cívicocomemorativodo canto orfeônico. Tendo visto Villa-Lobos reger centenasde crianças, em manifestação orfeônica, o escritor confessa não poder “deixarde notar certa grandiosidade no conjunto”, mas tudo logo passou a parecerlhemonótono. Surgem as comparações entre Villa-Lobos, “músico instintivoe de indiscutível talento”, e Francisco Manuel e Carlos Gomes.86
<strong>ROTEIRO</strong> <strong>DE</strong> <strong>VILLA</strong>-<strong>LOBOS</strong>A página de Grieco lê-se com real interesse e o autor deste trabalho nãopoderia deixar de mencioná-la, acrescentando, entretanto, que Agrippinojamais tentou impressioná-lo a propósito do compositor, deixando-o livrepara opinar, como, aliás, sempre o fez em relação a tudo e a todos. Emconversa, no entanto, Agrippino dizia que gostava das composições de Villa-Lobos para violão, não ocultando sua predileção pelos Estudos e Prelúdios,principalmente quando executados em instrumento capadócio, no subúrbiocarioca, em tardes de estio, entre copos de limonada fresca e acompanhadospelo canto alvoroçado de coleiros e galos-de-campina.*Marca-se nessa década um acontecimento único na vida de Villa-Lobos.Paulina d’Ambrosio, executante fervorosa de composições de Villa-Lobos,apresenta ao compositor sua jovem aluna de violino Arminda Nevesd’Almeida, que desejava a opinião do maestro sobre sua “Teoria Musical”.O compositor já era, a essa altura, um homem só, separado da mulher, incapazde assumir os encargos do quotidiano, já que o tempo de estudo, decomposição e de burocracia não lhe deixava um minuto sequer de lazer.O primeiro encontro entre Villa-Lobos e Arminda foi decisivo: Armindatornar-se-ia a “Mindinha” que tantas vezes aparece nas obras de Villa-Lobos,companheira de todos os momentos bons ou maus, colaboradora arguta ecapaz, conselheira e moderadora, até o instante em que, no fim da década de40, e até a morte do artista, passou a ser também a enfermeira dedicadíssima,resoluta, cheia de otimismo, de uma energia tecida de amor e de admiração,inspiradora cheia de vida e também de modéstia e que se transformaria naforça de preservação da memória do artista, criando e desenvolvendo o MuseuVilla-Lobos.Meu País, para coro e banda, com o pseudônimo de Zé Povo.Brasil Novo, para banda. Coro a quare vozes, à capela. Publicado nasPartituras de Banda pelo Conservatório Nacional de Canto Orfeônico.Primeira audição em São Paulo, em 13 de maio de 1931, 10.000 vozes deestudantes e soldados, 400 músicos de banda e orquestra, regência de Villa-Lobos.Pra Frente, ó Brasil, coro masculino a duas vozes, com acompanhamentode tambor militar. Prosa rítmica de Villa-Lobos, pseudônimo de Zé Povo.Primeira audição em 13 de maio de 1931. Também coro feminino a duasvozes.87
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