DONATELLO GRIECOfatos concretos. Na verdade, a máquina da propaganda da ditadura acabariapor se calar, a própria ditadura foi derrubada e, se alguns intelectuais e artistaspagaram preço elevado por sua contestação, Portinari, Lúcio Costa, Niemeyere Villa-Lobos permaneceram de pé.Os intelectuais e artistas não receberam da ditadura mais do que o quederam ao país e sua obra perdura, sem haver conhecido solução decontinuidade na era de Vargas. Villa-Lobos era grato a Getúlio por seu apoio,mas esse reconhecimento esteve longe de representar engajamento ideológico.Sua ideologia era de formação democrática, alicerçada nas inspirações dopovo brasileiro, que tão bem conhecia. No caso, é perfeita a fórmula deGuilherme Figueiredo: Miguel Ângelo não teria pintado a Capela Sistina, senão gostasse de Sixto IV.Vargas, tendo governado tantos anos, terá prestado desserviços ao país,mas, no caso de Villa-Lobos, transformando em realidade os sonhos e osideais do compositor, o político fez-se credor da gratidão nacional por esseserviço de mérito indiscutível.*Villa-Lobos passara a década de 30 no Brasil e as poucas viagens aoexterior que realizou foram rápidas nos anos 30 que ele assume na vida artísticabrasileira a posição sempre e sempre mais destacada, e é também nesseperíodo que o artista se tornará figura mais polêmica.Suas iniciativas colocam-no no primeiro plano da vida nacional, já queas grandes concentrações orfeônicas são amplamente utilizadas peloGoverno revolucionário, Getúlio Vargas à frente, como fator de conquistada opinião pública. As animosidades de natureza artística somadas àsdivergências de fundo político criam em torno de Villa-Lobos uma atmosferade debate acirrado, debate que se azedará ainda mais quando meiosconservadores começarem a acusá-lo de querer deturpar a partitura doHino Nacional.Assim, o temperamento de Villa-Lobos, em geral explosivo em matériaartística, não deixou de colocá-lo em posição difícil junto aos meios musicaisbrasileiros. Se, de um lado, conseguiu formar um grupo de discípulos dedestacada qualidade, por outro lado também semeou descontentamentos.Ninguém, contudo, poderá acusá-lo de egoísmo no que diz respeito aoestímulo a ser dado aos valores novos. Que o diga o maestro Eleazar deCarvalho, sempre pronto a reconhecer que devia a Villa-Lobos a aproximaçãojunto a Sergei Koussevitsky. Uma recomendação sua a Eleazar, abriu-lhe as84
<strong>ROTEIRO</strong> <strong>DE</strong> <strong>VILLA</strong>-<strong>LOBOS</strong>portas do Festival de Tanglewood, EUA, certame artístico de prestígiouniversal.Outros músicos confessar-se-iam prejudicados pelo temperamento deVilla-Lobos, mas basta que se recordem os depoimentos divulgados na sériePresença de Villa-Lobos para que se veja que os valores mais altos damúsica brasileira se unem no louvor irrestrito ao criador das Bachianas, semmisturar os modos abruptos do compositor e o inegável papel de renovadore de divulgador da criação artística nacional nos mais importantes meiosmusicais do Velho e do Novo Mundo.Sempre que surgiram com uma mensagem renovadora, oscompositores despertaram celeumas, aliciando discípulos ou gerandoondas de insatisfação e ataques. Se Bizet, por exemplo, reconheceu queWagner era um “gênio desmedido, desordenado, mas gênio”, Auber viuno criador da Tetralogia um Berlioz “sem melodia” e Nietzsche, que nofundo rezava pela cartilha pangermânica, chamou Wagner de “decadentetipo,uma incrível sexualidade doentia.” Stravinsky foi largamente vaiadono Teatro dos Campos Elíseos, em Paris, na estreia de sua Sagração daPrimavera e o mundo musical não aceitou sem protestos a inovaçãododecafônica.Villa-Lobos, que não apenas quis inovar como compositor, mas tambémse comprazia em impressionar como iconoclasta algo exibicionista, chocousesempre com os que não perdoaram nem o inovador, nem o espetáculo desuas atitudes.Quem quiser censurar os maestros por atitudes escandalosas terá, decerto modo, que condená-los todos. Dificilmente, conduzindo grandesorquestras, os maestros adotam posturas rígidas: nem todas as partiturasconsentem gestos hieráticos. Von Karajan destaca-se por sua secura, masnisso há que ver também algo de muito estudado. Quanto a um dos maioresregentes de orquestra de todos os tempos, o ilustre Arturo Toscanini, todossabem que sua atitude frente à orquestra era a de um verdadeiro sargentoque ministrasse instrução militar: Toscanini ficou famoso por ter uma feitaatirado com a batuta para o meio do palco em que regia e uma de suascaricaturas mais conhecidas bem enuncia a frase tão de sua predileção:“Vergogna!”. Regente estático emociona pouco a orquestra, que não se conduzapenas com olhares e emociona ainda menos o público. Villa-Lobos, agitandoseno pódio, não fugia aos modelos de seus colegas Weingartner, Stokovsky,Marinuzzi e Toscanini, principalmente quando regia suas próprias85
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