DONATELLO GRIECOO panorama de Paris nesses anos em que ali viveu Villa-Lobos dá bemuma ideia da importância da temporada parisiense na consolidação da feiçãoartística do compositor brasileiro. Conviveu com muitos desses artistas,recebeu de muitos deles demonstrações de apreço; de outros, reparostécnicos, mas a ninguém foi indiferente.Admirador da obra de Villa-Lobos, mestre muito ouvido no ambientemusical francês, Florent Schmitt, aluno, no Conservatório de Paris, deMassenet Fauré, obtivera, m 1904, o Primeiro Prêmio de Roma com seuPsalmo XLVII e rapidamente conquistara um lugar privilegiado ao lado deRavel, de Debussy e Dukas.Adhemar Nóbrega disse que Florent Schmitt foi para Villa-Lobos, emParis, em 23, o que Schumann fora para Brahms e Chopin: um propagandistaardoroso, sinceríssimo, cheio de entusiasmo. Schumann abriu os caminhosde Paris para os Noturnos, as Mazurkas, as Valsas e os Prelúdios de Chopin,assim como também Liszt o faria, este pelas mãos de George Sand, com amesma emoção e o mesmo desinteresse. Exemplos ilustres, que Schmittconhecia.Villa-Lobos encontrava Schmitt em casa de Tarsila do Amaral, em casade Henri Prunières, o diretor da Revue Musicale, e, mais tarde, na casa deProkofief, no Bois de Boulogne. Quanto a Schmitt é curioso assinalar-se oquanto de elevado se cimentou na amizade entre o veterano mestre francês eo ainda jovem brasileiro, principalmente no que toca à independência doespírito, à versatilidade artística, ao impulso de vanguarda.Villa-Lobos e Schmitt mantiveram-se amigos durante longo tempo,praticamente até os seus últimos anos, já que Schmitt morreu apenas um anoantes de Villa-Lobos, em agosto de 58. Em Paris os dois jamais deixaram deencontrar-se, dois espíritos livres, penetrados dos mesmos ideais e conscientesde sua missão de criação renovadora.*O pianista Souza Lima estava em Paris desde 1919, antes da“descoberta”de Villa-Lobos por Arthur Rubinstein. O encontro entre Souza Lima e Villa-Lobos dá-se em casa de Tarsila, em seu atelier da Rua Hégésippe Moreau,no bairro de Clichy, onde aparecem sempre Jean Cocteau, Erik Satie, Picasso,Fernand Léger, Marie Laurencin, Blaise Cendrars.Após o almoço (mesa de casa rica), Villa-Lobos, certo dia, improvisaao piano: Cocteau ouve-o, sentado no chão, junto ao piano, mas, acabada apeça, o debate sobre o problema da improvisação é muito acirrado. Em62
<strong>ROTEIRO</strong> <strong>DE</strong> <strong>VILLA</strong>-<strong>LOBOS</strong>outra ocasião, em casa de Henri Prunières em presença de Paul Dukas, deFlorent Schmitt, de Louis Aubert e de Roger Ducasse, Villa-Lobos apresentao Trio nº 3, com Raul Laranjeira ao violino, Mario Camerini também aoviolino e Souza Lima ao piano. Pouco a pouco, Paris vai tomandoconhecimento da presença de Villa-Lobos, mas não sem um certo espanto.Em novembro de 1923, escrevendo de Paris, diz Sérgio Milliet: “Villa-Lobos, chegando agora com um temperamento robusto, com uma originalidadepouco influenciada, agradará e seguramente, triunfará”.Quando Milliet lhe faz pergunta sobre os Seis que renegam Debussy,Fauré e Ravel, Villa-Lobos diz que Milhaud é “um menino genial”, mas que“os outros (Durey, Honegger, Poulenc, Auric, e a Tailleferre) são rebuscadose mais fracos, brincam demais com a Arte. Acima de todos, porém acimadas escolas e agremiações, paira o gênio de Stravinsky.A França já nacionalizara Stravinsky e Picasso. Em 1923, Paris aindavibra com a estreia escandalosa da Sagração da Primavera (1913). Villa-Lobos ingressa no ambiente revolucionário com muitos títulos. 1923 será,em Paris, ano de grande atividade de composição.Os musicólogos divergem quanto à cristalização nacionalista dascomposições de Villa-Lobos: há quem a situe durante a primeira estada deVilla-Lobos em Paris. Bruno Kiefer, em sua obra sobre Villa-Lobos e omodernismo na música brasileira, afirma que no período de 1923-1930ocorreu “um reforço” na postura nacionalista do compositor.Sonata n o 4, para violino e piano. Manuscrito extraviado. (AllegroModerato, Andante, Scherzo, Allegro Finale).Suíte para canto e violino, também para canto, violinos e violas. Sertaneja,primeira audição em 18 de junho de 1934, solista Julieta Teles de Menezes.Regência de Villa-Lobos.Tempos Atrás, para canto e orquestra. Também com redução para cantoe piano.Noneto, para orquestra, com caráter sinfônico e emprego de timbresdiferentes. Primeira audição em Paris, 30 de maio de 1924, regência de Villa-Lobos. Impressão rápida de todo o Brasil, reza o subtítulo. “Noneto é, nossover (diz Francisco Mignone), com valor intrínseco, muito superior às melhoresobras do gênero que já se escreveram no Brasil”. “Essa obra (diz ArnaldoEstrella), que sem hesitação se pode colocar, não só entre as mais notáveisdo compositor, como entre as mais importantes que se escreveram neste63
- Page 1:
ROTEIRO DE VILLA-LOBOS
- Page 4 and 5:
Copyright ©, Fundação Alexandre
- Page 7 and 8:
ApresentaçãoVilla-Lobos é uma pe
- Page 9:
APRESENTAÇÃOruas, praças, edifí
- Page 12 and 13: DONATELLO GRIECOQuanto à rua, há
- Page 14 and 15: DONATELLO GRIECOHeitor Villa-Lobos
- Page 18 and 19: DONATELLO GRIECO1 9 0 1A música le
- Page 20: DONATELLO GRIECO*Catulo da Paixão
- Page 23 and 24: ROTEIRO DE VILLA-LOBOSVilla-Lobos a
- Page 25: ROTEIRO DE VILLA-LOBOSpara coro e o
- Page 28 and 29: DONATELLO GRIECOO “Curso de Vince
- Page 30 and 31: DONATELLO GRIECOe Elisa (1910). Pri
- Page 33 and 34: ROTEIRO DE VILLA-LOBOSDiante das cr
- Page 35 and 36: ROTEIRO DE VILLA-LOBOSregência de
- Page 38: DONATELLO GRIECO1 o Quarteto de Cor
- Page 43: ROTEIRO DE VILLA-LOBOSpoeta dos Epi
- Page 46: DONATELLO GRIECOmeio resistentes. E
- Page 50 and 51: DONATELLO GRIECO“uma das peças d
- Page 52 and 53: DONATELLO GRIECOpiano... obra de um
- Page 54 and 55: DONATELLO GRIECO“insuportavelment
- Page 56 and 57: DONATELLO GRIECOe Guiomar Novais, a
- Page 58 and 59: DONATELLO GRIECOdo mundo, nenhum de
- Page 60 and 61: DONATELLO GRIECORubinstein e Vera,
- Page 64 and 65: DONATELLO GRIECOséculo, data de 19
- Page 66 and 67: DONATELLO GRIECOOs concertistas inc
- Page 68 and 69: DONATELLO GRIECOrelativamente peque
- Page 70 and 71: DONATELLO GRIECOArnaldo Estrella, a
- Page 72 and 73: DONATELLO GRIECO1 9 2 7De novo em P
- Page 74 and 75: DONATELLO GRIECOcarimbós escavados
- Page 76 and 77: DONATELLO GRIECO21 de outubro de 19
- Page 78 and 79: DONATELLO GRIECOa seu desejo, mesmo
- Page 80 and 81: DONATELLO GRIECOVilla-Lobos, “vem
- Page 82 and 83: DONATELLO GRIECOO Canto da Nossa Te
- Page 84 and 85: DONATELLO GRIECOfatos concretos. Na
- Page 86 and 87: DONATELLO GRIECOcomposições, ocas
- Page 88 and 89: DONATELLO GRIECOCanção Marcial, c
- Page 90 and 91: DONATELLO GRIECOGuia Prático (Álb
- Page 92 and 93: DONATELLO GRIECOMoteto, arranjo de
- Page 94 and 95: DONATELLO GRIECOO Canto do Pajé, m
- Page 96 and 97: DONATELLO GRIECOCanção de José d
- Page 98 and 99: DONATELLO GRIECO1 9 3 5Viagem de Vi
- Page 100 and 101: DONATELLO GRIECOprincipal de sua at
- Page 102 and 103: DONATELLO GRIECO1937, com coro de m
- Page 104 and 105: DONATELLO GRIECO1947, solista Hilda
- Page 106 and 107: DONATELLO GRIECOcom um brilho diver
- Page 108 and 109: DONATELLO GRIECOCanção da Imprens
- Page 110 and 111: DONATELLO GRIECONossa América, cor
- Page 112 and 113:
DONATELLO GRIECOa Segunda Sinfonia,
- Page 114 and 115:
DONATELLO GRIECOQuadrilha das Estre
- Page 116 and 117:
DONATELLO GRIECOMadona (poema sinf
- Page 118 and 119:
DONATELLO GRIECOBrennan e H. Curran
- Page 120 and 121:
DONATELLO GRIECOHomenagem a Chopin,
- Page 122 and 123:
DONATELLO GRIECOcoração dos homen
- Page 124 and 125:
DONATELLO GRIECOao piano, José Bot
- Page 126 and 127:
DONATELLO GRIECOVilla-Lobos é semp
- Page 128 and 129:
DONATELLO GRIECOWagner assim se ref
- Page 130 and 131:
DONATELLO GRIECORoss, regente Villa
- Page 132 and 133:
DONATELLO GRIECOAlém de numerosas
- Page 134 and 135:
DONATELLO GRIECOTotal dos discos li
- Page 136 and 137:
DONATELLO GRIECOAVE MARIA n o 6, ca
- Page 138 and 139:
DONATELLO GRIECOCANTO DO NATAL, cor
- Page 140 and 141:
DONATELLO GRIECODOBRADO PITORESCO,
- Page 142 and 143:
DONATELLO GRIECOHISTÓRIA DE PIERRO
- Page 144 and 145:
DONATELLO GRIECOMINHA TERRA, arranj
- Page 146 and 147:
DONATELLO GRIECOPRO PACE, para band
- Page 148 and 149:
DONATELLO GRIECOSINFONIETA N o 1, o
- Page 150 and 151:
DONATELLO GRIECOVIRGEM (À), canto
- Page 152 and 153:
DONATELLO GRIECOBÉHAGUE, Gérard -
- Page 156:
FormatoMancha gráficaPapelFontes15