O DEPRIMIDO DIANTE DO ENTREVISTADOR CLÍNICO INICIANTEtude ante a esses sentimentos. Ao mesmo tempo,ele investiga o significado do suicídio para estapessoa em particular. Quais os resultados inconscientesdo ato? (deseja matar você ou seu problema?).O entrevistador clínico principiante, emboratemendo ofender o paciente, deve fazer tal investigação,pois demonstrará interesse em seu problemae de fato estará levando-o a sério. Pode aindadiminuir a ansiedade do paciente que temeem levantar esta questão ou se envergonha dela.Princípios do tratamentoMackinnon 8 baseia o tratamento do deprimidoem dois princípios fundamentais. O primeiroé o alívio do sofrimento e da culpa, o estímuloda esperança e a proteção do paciente contra odano que causa a si mesmo: em resumo, a terapiade apoio. Para esta fase pode-se usar apsicoterapia, medicamentos ou outras terapiasorgânicas. O segundo princípio é o da exploraçãopsicodinâmica do significado e das causas dadepressão, com o objetivo de resolver o problemaimediato e prevenir sua repetição.Na psicoterapia, o objetivo básico é aliviara dor e o sofrimento do paciente. Deverá ser estimuladoa desenvolver sua motivação e vislumbrarum futuro que não seja deprimido. As decisõesimportantes devem ser orientadas a ser tomadadepois, até que esteja se sentindo melhor. Devehaver preocupação em proteger o paciente contraa autodestruição. O entrevistador deverá identificarestes comportamentos e utilizar sua autoridadepara evitar que o paciente cometa danoirreparável contra si próprio.O segundo princípio fundamental, que é aexploração psicodinâmica da depressão, requerum paciente moderadamente deprimido, o quepermitirá fazer insights. Já desde os primeiros encontros,o entrevistador pode fazer interpretaçõescom o objetivo de perceber a capacidade parainsights. A conduta interpretativa, no entanto,nunca deve ser feita de forma apressada. Entretanto,um paciente que afirma que sua depressãoé apenas uma questão médica, pode está negandoos fortes fatores psicológicos envolvidos e orientando-opara a depressão. Está, na realidade,percebendo que é responsável por seus problemase, por isso, defende-se. Tal comportamento deveser visto como positivo pelo entrevistador.Quando se fala em exploraçãopsicodinâmica, faz-se naturalmente referência àvisão psicanalítica da depressão, que, paraBergeret, 9 psicopatólogo-psicanalista francês, ofuncionamento mental do caráter depressivo ébaseado em ambivalências. Uma alternância detendências afetuosas e hostis, sem haver predominânciade uma ou outra.CONSIDERAÇÕES FINAISA entrevista feita com o paciente deprimidoapresenta desafios ao entrevistador clínico,seja ele iniciante ou experimentado. A singularidadedesse transtorno, que vem crescendo rapidamentealiado ao compromisso de utilizar a entrevistacomo ferramenta valiosa, deve levar a uminteresse cada vez maior da compreensão dosvários momentos que podem ser vivenciados peloentrevistador diante do paciente deprimido. Estacompreensão passa também por uma observaçãodos métodos utilizados até agora, adequando-osa uma realidade em constante mutação.Seguindo esta linha, observa-se que noatendimento ao paciente deprimido, oentrevistador de início de carreira pode somatizarcom muita facilidade, saindo da entrevista tãoexausto, ou mais, que o entrevistado. Sua sinceradedicação e escuta clínica tendem, por assim dizer,traí-lo, e o relato do paciente, ou antes mesmo,a sua aparência de desalento e fracasso, podemobilizá-lo de tal forma que venha sentir-se comum mal-estar geral. Se o impacto não for tão visívelassim, o entrevistador pode inclusive perceber-sedesanimado, sem, no entanto, relacionareste desânimo ao atendimento de um pacientedeprimido.Outro fator importante são os ganhos secundáriosoriundos de um paciente deprimido.Este ganho pode ser para o paciente ou para a28revistahugvhugv – <strong>Revista</strong> do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v. 5. n. 1-2 jan./dez. – <strong>2006</strong>
DAVI ARAÚJO DA CUNHA, FABÍOLA GOUDINHO DE LIMA, LESIRMY BINDÁ SADALA, ROSÂNGELA DE LIMA GIL, SUELY DA SILVA MAIAfamília. Para o paciente porque pode ocorrer, apóssua depressão, haver conquistado um tempomaior com alguém que lhe é querido, ele continuaentão com os sintomas agora apenas com afinalidade de manter esta companhia. Uma famíliaque explore a dependência de um deprimidopode preferir que a depressão perdure. Nestecaso, a depressão funciona não mais apenas comoum transtorno e sim como resposta a demandasque não puderam ser expressas de outras formas.Um fato que salta aos olhos é que, mesmocom toda a sofisticação da medicina e avançostecnológicos, acompanhados de muita pesquisae artigos, não se pode abrir mão de uma presençaque ouça e dê cuidados. Embora alguns consideremque a depressão seja um transtorno da escolha,10 ou de uma pessoa que deixou de ser bondosaconsigo mesma, ela tem valor e deve ser respeitadaenquanto pessoa. No grande labirinto queé o psiquismo humano, não será o avanço científico-tecnológicoque substituirá o contato sincerode humano com humano, do que está com dorcom aquele que embora não tenha sentido estamesma dor, compartilha dela, não como profissional,mas como outro ser humano. Um profissionalque se debruçou sobre aquela dor para que ooutro a sinta menos.Tal responsabilidade, de ser o depositáriodas dores e sofrimentos dos outros, não requer,também, um preparo adequado e sistemático depoisda graduação? Como de fato era na décadade 1960? 11 Esta é uma reflexão que precisa serfeita.Outro fator a considerar é que toda depressãodeve ser acompanhada por um médico e deveser por ele tratada. A depressão está dentro dasgrandes síndromes psiquiátricas e o médico deveser procurado tão logo surja o evento. As psicoterapias,nas suas mais variadas abordagens, contribuempara a diminuição e entendimento dos sintomasdepressivos, sendo necessário, em muitoscasos, aguardar os efeitos dos medicamentos parase obter resultados no atendimento psicoterápico.Finalmente, espera-se haver proporcionado,aos interessados em conhecer a depressão, umacúmulo de conhecimentos que facilitarão oentrevistador clínico desde a chegada do pacienteem seu consultório até o tratamento proposto eposterior prognóstico. A entrevista com o pacientedeprimido guarda, assim, momentos que tendema tornar o desafio clínico de atender pacientesdeprimidos com menos obstáculos e manejomais adequado para as mais variadas situaçõesque se apresentam na prática clínica. Conhecendoas principais características do paciente deprimidoe devidamente informado sobre as mais recentestécnicas de entrevista para este atendimento,o profissional terá mais segurança na realizaçãode seu trabalho e produzirá resultados comum índice bem maior de sucesso.REFERÊNCIAS1. VASCONCELOS F. Os caminhos do tratamento.Rev. Mente & Cérebro, n. 160, 64, <strong>2006</strong>.2. MALDONATO, M. Os aposentos vazios dadepressão. Rev. Mente & Cérebro, n. 160, 38, <strong>2006</strong>.3. HOLMES. D. S. Psicologia dos transtornos mentais.Trad. Sandra Costa. 2. ed. Porto Alegre: ArtesMédicas, 1997.4. DALGALARRONDO. P. Psicopatologia esemiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre:Artes médicas, 2000.5. BENJAMIM. A. A entrevista de ajuda. Trad.Urias Correa Arantes. 11. ed. São Paulo: MartinsFontes, 2004.6. OTHMER, E.; OTHMER, S. A entrevista clínicautilizando o DSM-IV-TR. Trad. Claudia Dornelles.Porto Alegre: Artmed, 2003.7. DSM-IV. Manual diagnóstico e estatístico de transtornosmentais. Trad. Sandra Costa. 2. ed. PortoAlegre: Artes Médicas, 1997.8. MACKINNON R. A.; MACKINNON M. R. Aentrevista psiquiátrica na prática diária. Trad. HelenaMascarenhas de Souza. Porto Alegre: ArtesMédicas, 1981.revistahugvhugv – <strong>Revista</strong> do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v. 5. n. 1-2 jan./dez. – <strong>2006</strong>29
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