RELATO DE CASO: INSUFCIÊNCIA RESPIRATÓRIA PÓS-PLEURODESEral maligna e história pregressa de câncer demama.HISTÓRIA CLÍNICAPaciente do sexo feminino, 51 anos, queixasede dispnéia associada a mudanças de decúbitoe em posição ortostática há cerca de 10 meses.Relata que apresentou neoplasia de mamaesquerda em junho de 2005 e, ainda, metástaseóssea no fim do referido ano. Houve recidiva localem agosto/<strong>2006</strong>, quando realizou nova QT eradioterapia. Refere fratura patológica do colo dofêmur fazendo prótese total do quadril.Ao Rx de tórax foi observado derrame pleuralbilateral com maior volume à direita. À análisedo derrame pleural, obteve-se resultado positivopara células neoplásicas. A tomografia computadorizadade tórax revelou derrame pleuralbilateral volumoso além de lesões osteolíticas nasvértebras.Indicou-se videopleuroscopia com pleurodesecom talco para o tratamento do derramepleural neoplásico. O procedimento transcorreusem intercorrências e a paciente foi encaminhadaà unidade de terapia intensiva, extubada. Apóscerca de 18 horas, iniciou quadro de dispnéia edesconforto respiratório e a radiografia de tóraxneste momento revelava presença de congestãopulmonar (Fig. 1). O quadro evoluiu com pioraclínica acentuada, necessitando do suporteventilatório não-invasivo. Associado a isto, opadrão radiológico revelava áreas de consolidaçãoalgodonosas esparsas, mais evidentes à direita(Fig. 2).Figura 1 – Radiografia de tórax demonstrando congestão pulmonar.Figura 2– Radiografia de tórax com áreas de consolidações algodonosasesparsas.Iniciou-se corticoterapia e restrição hídricacom períodos de ventilação não-invasiva. Após 4dias, houve involução do quadro de dispnéia emelhora do quadro radiológico. O diagnóstico dacomplicação pós-operatória foi de edemapulmonar pós-pleurodese.DISCUSSÃOO câncer de mama é uma das neoplasiasmais comuns, causando aproximadamente umterço de todos os derrames pleurais com célulasmalignas. A maioria dos pacientes com derramepleural neoplásico decorrentes de tumores sólidosevolui a óbito em 6 meses, enquanto aqueles comderrame pleural neoplásico por causa dacarcinoma de mama apresentam sobrevida médiamaior, fato este que estimula a utilização de estratégiaspaliativas para controle da dispnéia naprimeira abordagem cirúrgica e assegurabenefícios a longo prazo com conseqüentemelhora na qualidade de vida. 1,6Dentre os agentes que causam esclerosepleural, o talco mostra-se superior a outrosagentes comumente utilizados, com um índice desucesso de 81 a 100%, comparado aos 70-85% desucesso mostrado pela Tetraciclina. Ainda, coma utilização do talco livre de asbesto, não há oaumento de risco de desenvolvimento demesotelioma, nem significativo impacto na funçãorespiratória. 778revistahugvhugv – <strong>Revista</strong> do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v. 5. n. 1-2 jan./dez. – <strong>2006</strong>
FERNANDO L. WESTPHAL, LUIZ C. DE LIMA, JOSÉ C. DE LIMA N., INGRID L. DE QUEIROZ L., ANA MÁRCIA FREITAS C., DANIELLE C. WESTPHALNo caso em questão, a paciente tinhahistória de câncer de mama e procurou assistênciamédica relatando dispnéia causada por derramepleural bilateral, confirmado por exames deimagens, sendo detectado, após análise do líquido,presença de células neoplásicas, justificando entãoa intervenção conservadora por pleurodese comtalco.Até o momento, entretanto, não há umconsenso acerca da segurança da utilização dotalco na pleurodese. 2 Dentre as complicações maiscomuns na literatura, febre é uma das maiscomuns, 8 seguido de dor e dispnéia. A intensareação inflamatória ao talco como a síndrome daresposta inflamatória sistêmica (SIRS), falênciarespiratória aguda e lesão pulmonar aguda, todosestes ocorrendo mais raramente após apleurodese. 1A paciente, neste relato, evoluiu comedema pleural após a realização da pleurodese,acreditando-se ser este evento causado por umasíndrome da resposta inflamatória sistêmicadesencadeada pela utilização do talco.Acredita-se que o mecanismo de pleurodesecom talco esteja relacionado a uma respostainflamatória na superfície pleural. Em animais,está reação esta relacionada a desnudamento decélulas mesoteliais e recrutamento de infiltradomononuclear no tecido conjuntivo subepitelial eperiférico do pulmão e formação de matrizes defibrina, podendo o talco penetrar abaixo dasuperfície pleural pela quebra da camadamesotelial e elástica. 1,5Na análise radiológica do derrame pleuralda paciente, neste relato, pode-se perceber apresença de consolidações algodonosas esparsas,causadas pela resposta inflamatória do organismoao talco.Pesquisadores no Brasil e nos EstadosUnidos descreveram casos de síndrome do estresserespiratório agudo após pleurodese com talco;contudo, casos semelhantes não foram relatadosem grandes estudos de revisão europeus ouisraelenses. Estudos com animais no Brasil eEstados Unidos revelaram deposição do materialno parênquima pulmonar e ainda em outrosórgãos, 2,5 enquanto que ele não pode ser visto nosestudos europeus. Esta discrepância pode serexplicada pelo tamanho das partículas de talco,no qual as partículas menores costumam induzirmaior resposta inflamatória do que as maiores. Édifícil, todavia, obter-se certeza das diferenças nastécnicas com relação ao tamanho das partículaspelo fato de quase nenhum dos estudos acercadeste assunto descreveu as particularidades daspartículas de talco utilizadas, levando, portanto,as complicações causadas pelo talco a seremsuperestimadas. 2Conforme demonstrado pela literatura, apleurodese com agentes químicos induzinflamação e produção de líquido pleural e,portanto, parece ser mandatória a drenagem dolíquido pleural para atingir a melhor aproximaçãodas superfícies pleurais. No entanto, em estudono qual se propôs a drenagem do líquido pleuralpara drenagem por cerca de 2 horas após menosde 24 horas da realização da pleurodese, efusãorecorrente foi mais freqüente do que nos outrosestudos sem a drenagem pós-pleurodese. 8Embora diversos estudos tentemdemonstrar os mecanismos envolvidos narespostas inflamatórias à pleurodese por talco, defato ainda não há causas consagradas e suaetiologia ainda encontra-se obscura e consideradamultifatorial. 1,2,3 A pleurodese química porvideotoracoscopia é considerado procedimentoseguro e eficaz para tratar o derrame pleuralneoplásico e deve ser considerado o tratamentopadrão-ouro para completa reexpansãopulmonar. 6Em conclusão, a evolução da paciente apósa pleurodese foi favorável, pois após 6 meses deevolução houve estabilização do quadro dederrame pleural, sem necessidade de novastoracocenteses. Ao indicar-se a pleurodese portalco, devemos estar cientes das complicaçõesadvindas do método, incluindo a insuficiênciarespiratória aguda, assim como devemos estaraptos a tratá-las adequadamente.revistahugvhugv – <strong>Revista</strong> do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v. 5. n. 1-2 jan./dez. – <strong>2006</strong>79
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