HAMARTOMA HIPOTALÂMICO CAUSANDO PUBERDADE PRECOCE CENTRAL: RELATO DE CASOAo exame físico inicial com idade cronológicade três anos apresentava acne na face, alturade 106 cm (acima do percentil 95) e com desviopadrão de altura de + 3,0 (Figura 1). O pesona época era de 20,4 kg com índice de massacorpórea de 18 (no percentil 90). A idade ósseaaos 3 anos era de 7 anos (Figura 2). A altura-alvodo paciente (altura da mãe + altura do pai + 13 /2) era de 160,6 cm. O exame dos caracteres sexuaissecundários e das gônadas revelou: pênis de 7cm de comprimento (desvio padrão para a idadede + 2,0); testículos de 3 cm no maior diâmetro,normal para a idade de 12 anos, G2/G3 no critériode Tanner e pêlos pubianos pigmentados egrossos no monte pubiano, P3 no critério deTanner (Figura 3).Os exames laboratoriais mostraram LH: 2,3UI/L (> 0,6); FSH: 2,6 mUI/L (1,5-12,4); Testosteronatotal: 1,7 ng/ml (1 a 6 anos 0,03-0,32); TSH(Hormônio Tireostimulante): 7,2 fUI/mL (0,27-4,2); T 4livre (Tiroxina): 12 pmol/l (12-22); DHEA-S (Sulfato de De-hidropiandrosterona): 13 (1 a 4anos 0,47-19,4); 17-OHP (17- Hidroxiprogesterona):0,59 mg/24h (3-9), confirmando puberdadeprecoce central.Nos exames de imagem, a ultra-sonografia(US) de testículos revelou TD: 3,44 cm, 3 TE: 3,35cm 3 , o valor normal para idade é de 0,8 cm 3 . ARessonância Nuclear Magnética (RNM) dehipófise revelou uma formação expansiva,pedunculada, medindo perto de 1,9 x 1,6 cm,isointensa em relação à substância cinzenta emT1 e T2, sem impregnação pós-contraste, sugerindohamartoma do túber cinério (Figura 4). Foientão iniciado tratamento preconizado com oacetato de leuprorrelida 3,75 mg intramuscular acada 28 dias.DISCUSSÃODiante da suspeita de um caso de puberdadeprecoce (PP), devemos lembrar as variantesnormais de desenvolvimento pubertário como atelarca precoce, a telarca exagerada, a adrenarcaprecoce e a menarca precoce. Nestes casos, emgeral, há uma progressão lenta e não comprometea altura final das crianças, raramente necessitade intervenção terapêutica. O primeiro passopara o diagnóstico é colher uma história clínicadeterminando a idade do início das manifestações.É considerada PP em meninas o surgimentode caracteres sexuais secundários antes dos oitoanos de idade, e em meninos antes dos nove anos.Ainda na história clínica, devemos determinar avelocidade de progressão, pesquisar antecedentesmórbidos (infecções do SNC, traumatismocraniano, exposição a esteróides sexuais) e questionarsobre sintomas neurológicos ou sugestivosde hipotiroidismo. 1No exame físico inicial são dados importantes:altura, peso e altura-alvo da criança. Emseguida, verificar no gráfico de altura e peso se acriança encontra-se muito acima do esperadopara a família, fato comum na PP; o exame dasmamas e dos pêlos pubianos nas meninas e o examedos testículos – maior diâmetro em centímetros– pênis e pêlos pubianos em meninos. Oscaracteres sexuais devem então ser classificados66revistahugvhugv – <strong>Revista</strong> do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v. 5. n. 1-2 jan./dez. – <strong>2006</strong>
REJANE NINA MARTINS NEVES, FERNANDA DE AZEVEDO CORRÊAde acordo os critérios de Tanner. É importantetambém buscar manifestações de excesso deandrogênios em ambos os sexos (acne, hirsutismoe cliteromegalia), bócio e alterações cutâneas. Oexame neurológico deve ser feito incluindo afundoscopia.Com a história clínica compatível e o examefísico alterado e/ou não esperado para a idade,devemos prosseguir solicitando radiografia depunho e mão para avaliar a idade óssea, a qualestá usualmente avançada, US de testículos visandodescartar neoplasia em caso de aumentotesticular unilateral e US pélvica para avaliar amorfologia do útero e ovários, cujo tamanho estáaumentado na PPC e normal nas variantes normaiscitadas acima. A RNM de hipófise ou atomografia computadorizada (TC) de crânio sãoúteis para pesquisar a etiologia da PPC, mas devemser realizadas somente após a confirmaçãobioquímica da PPC.Os exames bioquímicos são extremamenteúteis no diagnóstico diferencial das formas deprecocidade sexual e compreendem as dosagenshormonais em condição basal e o teste após estímulocom GnRH exógeno. Com o advento denovos imunoensaios mais sensíveis, como o IFMA(imunofluorométrico), tem sido proposto que adosagem basal do LH poderia indicar o início dasecreção aumentada de gonadotrofinas, distinguindoentre PPC, outras causas de PP e indivíduospré-púberes. Níveis basais, portanto, de LH> 0,6 UI/L em indivíduos com PP seriamindicativos de PPC em ambos os sexos. No nossopaciente, o LH basal foi de 2,3 UI/L. O teste doGnRH se faz necessário apenas nos casos comvalores basais d» a 0,6 UI/L com forte suspeitaclínica. 1 O teste consiste na administração deGnRH 75 ìg/m 2 , máximo de 100 ìg, e dosagemdo LH e FSH nos tempos: 0, 15, 30, 45 e 60 min. Oteste é considerado positivo se houver pico de 6,9UI/L em meninas e 9,6 UI/L em meninos. A avaliaçãodo FSH basal não é útil para o diagnósticode PP. Quanto aos esteróides sexuais, os níveis detestosterona total têm maior sensibilidadediagnóstica em meninos do que os níveis deestradiol (E2) em meninas.Se os exames bioquímicos iniciais mostraremo eixo hipotálamo-hipófise-gônadas bloqueado,deve-se prosseguir a investigação para puberdadeprecoce periférica (PPP), por meio dadosagem de 17-OHP, androstenediona, DHEA ecortisol basais e após estímulo com ACTH na suspeitade hiperplasia adrenal congênita (HAC); testesde supressão com dexametasona para diferenciartumor adrenal de HAC; e dosagem da â-hCGna pesquisa de tumores secretores de hCG. 1Embora os análogos agonistas GnRH tenhamse tornado um tratamento estabelecidopara PP, há poucos estudos a longo prazo sobre arecuperação do eixo hipófise-gonadal (funçãoreprodutiva) e a saúde geral após a interrupçãoda terapia. 2 A indicação de tratamento deve estarvinculada à idade de apresentação doscaracteres puberais, como também à rapidez desua progressão. Vários estudos correlacionam aeficiência terapêutica à menor idade de manifestaçãoe de tratamento da PP, em especial antesdos cinco ou seis anos de idade. 1No caso apresentado neste artigo, o curtotempo de tratamento não permite que sejam feitasconclusões a respeito da eficácia do tratamentoem longo prazo, principalmente com relação àaltura final atingida.A patogênese da PPC e das convulsõesgelásticas em função de um HH ainda está emdebate. Foi avaliada em um estudo a relação dossintomas clínicos com a morfologia e a localizaçãodos HHs em 34 pacientes. A maioria dos HHsdos pacientes com PPC isolada (86,4%) era do sexofeminino (N = 22; 68,2%). Os HHs apresentaramuma posição para-hipotalâmica sem afetar o terceiroventrículo em 91% dos casos, metade delesera pedunculada e 40,9% apresentaram um diâmetro< 10 mm. Em contrapartida, 11 dos 12 pacientescom crises epilépticas apresentaramhamartoma séssil intra-hipotalâmico, em dez dosquais havia distorção do terceiro ventrículo. Émais provável que a posição do HH e envolvimentodo terceiro ventrículo sejam mais preditivos dasrevistahugvhugv – <strong>Revista</strong> do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v. 5. n. 1-2 jan./dez. – <strong>2006</strong>67
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