99funcional, visando formar pessoas dispostas e capazes para perpetuar o sistemadominante <strong>de</strong> divisão do trabalho. (2000, p. 11)Em postura progressista, enten<strong>de</strong>-se que o problema maior relacionado ao curso <strong>de</strong>Pe<strong>da</strong>gogia em nosso país é o do <strong>de</strong>smonte <strong>da</strong> Educação e conseqüentes agressões a tudoo que possa abor<strong>da</strong>r o fenômeno educativo em perspectiva crítica, <strong>de</strong>correntes <strong>da</strong>orientação neoliberal que subordina tudo à economia <strong>de</strong> mercado e a suas regrasinternacionais. Sobre tal problema, RODRIGUES (s/d) afirma que “As políticas <strong>de</strong>financiamento internacional para a educação exigem reformas educativas que concebem aEducação como mediação para o <strong>de</strong>senvolvimento econômico pela formação <strong>de</strong> capitalhumano, ao invés <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a Educação como mediação para o exercício <strong>da</strong>ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia”.Falando novamente sobre a noção <strong>de</strong> competência, ROPÉ e TANGUY afirmam que“primeiramente associa<strong>da</strong> à noção <strong>de</strong> educação, ela ten<strong>de</strong> agora a suplantar esse termo,até mesmo englobá-lo”, <strong>de</strong> forma semelhante à que o conceito <strong>de</strong> educação tomou o lugardo <strong>de</strong> instrução. (p. 17) Cabe a inquietação sobre a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> a pe<strong>da</strong>gogia ocupar-sedo estudo profundo do fenômeno capacitador, em <strong>de</strong>trimento do educativo. E aqui a relaçãoentre capacitação/competência e Educação carece <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição sobre o que é continente eo que é conteúdo.A questão é resolvi<strong>da</strong> por ARRUDA e BOFF, para quem a Educação <strong>de</strong>ve tersempre uma perspectiva totalizante e distinta <strong>da</strong> capacitação, “justamente para explicitar acrítica do conceito e <strong>da</strong> prática <strong>de</strong> educação que se exaure na capacitação, e afirmar, emcontraposição, a práxis educativa integral como aquela que contém a dimensão <strong>da</strong>capacitação, mas vai muito além <strong>de</strong>la”. (p. 21) Enriquecido, senão recuperado, o conceito <strong>de</strong>Educação supera o <strong>de</strong> competência/capacitação (que seria um retorno ao <strong>de</strong> instrução,apenas renomeado) e justifica todo o estudo <strong>de</strong> seus fun<strong>da</strong>mentos filosóficos e científicosarticulados com um projeto <strong>de</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Em outras palavras, ao se tratar <strong>de</strong> Educação, enão somente <strong>de</strong> capacitação, é que se tem um projeto político-pe<strong>da</strong>gógico.Essa reflexão ilumina os objetivos para o curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> UNICENTRO –Campus <strong>de</strong> Guarapuava. Sabe-se que há <strong>de</strong> se superar qualquer noção tecnicista <strong>de</strong>competência que possa imiscuir-se nos planejamentos e práticas do curso, e que aformação que abrange mais do que a capacitação técnica inclui-se no universo <strong>da</strong>Educação. Resta saber o que se preten<strong>de</strong> com a oferta do curso, pensando-se em objetivos<strong>de</strong> formação: a educação para a Pe<strong>da</strong>gogia. Como dizem ARRUDA e BOFF, “a educação éa aprendizagem <strong>da</strong> práxis”. (p. 23) Os que se <strong>de</strong>dicam ao cultivo <strong>da</strong> Pe<strong>da</strong>gogia, em suaação experimentam o próprio objeto <strong>de</strong> estudo, ou seja, são acadêmicos no mesmo tempoem que são, em última análise, educandos. Preten<strong>de</strong>-se, portanto, com a oferta do curso <strong>de</strong>Pe<strong>da</strong>gogia, educar pe<strong>da</strong>gogos para o exercício <strong>da</strong> profissão e para a profissão do queexercerão. Novamente com embasamento em ARRUDA e BOFF, consi<strong>de</strong>ra-se a educação<strong>de</strong> pe<strong>da</strong>gogos como1) A apropriação (...) dos instrumentos a<strong>de</strong>quados para a teorização <strong>da</strong> suaprópria prática individual e social; para a compreensão profun<strong>da</strong> <strong>de</strong>sta práticaem to<strong>da</strong>s as suas dimensões e articulações, isto é, para o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>da</strong> sua consciência social e universal; e para a criação <strong>de</strong> uma visãototalizante <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que lhes permita extrair <strong>de</strong>la os elementosnecessários à orientação estratégica e tática <strong>da</strong>s suas ações e <strong>da</strong>s suasalianças. Entre os elementos indispensáveis para esta busca <strong>da</strong> totali<strong>da</strong><strong>de</strong> doreal estão a pesquisa, a experimentação, o processo <strong>de</strong> análise-síntese, aedificação <strong>de</strong> um universo conceitual coerente com a perspectiva <strong>da</strong> práxis,planejamento, avaliação, gestão e comunicação.
1002) A apropriação (...) <strong>de</strong> todo conhecimento científico, político, social, culturalacumulado pela humani<strong>da</strong><strong>de</strong> ao longo <strong>da</strong> História, que possa servir para asatisfação <strong>da</strong>s suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e aspirações.3) A apropriação (...) dos instrumentos <strong>de</strong> avaliação crítica do conhecimentouniversal acumulado, seja o conhecimento científico, seja o conhecimentohistórico-social, seja o conhecimento <strong>de</strong> si próprio, <strong>de</strong> modo que oseducandos possam i<strong>de</strong>ntificar seu caráter histórico e cultural e se proponhamrenová-lo, atualizá-lo e mesmo recriá-lo. Tais instrumentos inclusive a razão,mas também outras capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s cognitivas do ser humano como o corpo eos seus sentidos materiais, a intuição, o sentimento, a vonta<strong>de</strong> e os diversossentidos imateriais, como o sentido <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong> beleza, <strong>da</strong> transcendência,do amor. (2000, p. 19-20)Consi<strong>de</strong>rando o exposto, têm-se dimensões políticas, científicas e técnicas <strong>da</strong>profissão <strong>da</strong>s pe<strong>da</strong>gogas e dos pe<strong>da</strong>gogos articula<strong>da</strong>s entre si e com o tempo históricoatual, o que remete à ética maior <strong>de</strong>sse oficio que inclui o compromisso com o<strong>de</strong>senvolvimento humano em espaços educativos escolares e não escolares, consi<strong>de</strong>randoseto<strong>da</strong> a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> possível: <strong>de</strong> gênero, <strong>de</strong> classe social, étnica, etária, religiosa e <strong>de</strong>porte ou não <strong>de</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s especiais <strong>de</strong> aprendizagem.O caráter dinâmico <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> histórica e o misto <strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>humanas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento evi<strong>de</strong>nciam, no mesmo tempo em que justificam, a evoluçãoconstante <strong>da</strong> tradição pe<strong>da</strong>gógica, vale dizer, dos saberes e dos sujeitos <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia. Ospressupostos <strong>da</strong> ação reflexiva e contextualiza<strong>da</strong>, que valorizam e exigem atitu<strong>de</strong>interdisciplinar e conferem i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> teórico-investigativa aos profissionais <strong>da</strong> Educação,servem ao projeto acadêmico <strong>de</strong> educação <strong>de</strong> pe<strong>da</strong>gogas e <strong>de</strong> pe<strong>da</strong>gogos concatenandosaberes filosófico-políticos, científicos e tecnológicos.O compromisso político-pe<strong>da</strong>gógico <strong>de</strong> pe<strong>da</strong>gogos formados e em fase <strong>de</strong> formaçãoinicial inclui, <strong>de</strong> forma basilar, o cui<strong>da</strong>do para com o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> própria Pe<strong>da</strong>gogia,tendo em vista a salvaguar<strong>da</strong> <strong>da</strong> melhor Educação, pelo estudo <strong>de</strong> referenciais teóricos,pela pesquisa e pelo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> metodologias e técnicas <strong>de</strong> planejamento, ensinoe avaliação, e sobretudo, pelo engajamento estimulado e testemunhado pelos professoresna <strong>de</strong>fesa do único espaço <strong>de</strong> fato universitário para formação <strong>de</strong> professores eespecialistas em Educação que tem a pesquisa como componente essencial <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento. RODRIGUES (s/d) lembra FRIGOTTO (s/r), para quem um dos objetivos<strong>de</strong>sta orientação neoliberal à educação, <strong>de</strong> fato bancária, é “melhorar as estatísticaseducacionais”, em flagrante preocupação meramente quantitativa. Corroborando com taisposturas, MIZUKAMI et al. (2002) <strong>de</strong>nunciam a mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> foco orienta<strong>da</strong> pelo BancoMundial, <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> formação inicial para a formação continua<strong>da</strong>. Essa mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> focoimplica no <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong> to<strong>da</strong> or<strong>de</strong>m para a promoção <strong>de</strong>sta última em <strong>de</strong>trimento<strong>da</strong> primeira, sob alegação <strong>de</strong> economia financeira. Citando a crítica <strong>de</strong> LAUGLO (s/r) aorelatório Priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s e estratégias para a educação, elaborado pelo Banco Mundial em 1995,<strong>de</strong> que “é favorecido um mo<strong>de</strong>lo prático para melhor <strong>de</strong>senvolver habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s para o ensino,com cursos ‘em serviço’ como suplemento para o treinamento no local <strong>de</strong> trabalho”,MIZUKAMI conclui que “Desvalorizar a formação inicial dos professores – econseqüentemente sua profissão – e incentivar a formação continua<strong>da</strong> – esse parece ser oobjetivo <strong>de</strong> nossas políticas educacionais atuais”. (2002, p. 28)As relações axiomáticas entre: a) formação inicial pela universi<strong>da</strong><strong>de</strong> e preservaçãodos princípios <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> excelência humana e profissional, e b) formaçãocontinua<strong>da</strong> ou em serviço e treinamento <strong>de</strong> natureza puramente procedimental, evi<strong>de</strong>nciama superficiali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ste segundo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> formação que fun<strong>da</strong>menta-se em umaracionali<strong>da</strong><strong>de</strong> puramente técnica, ao gosto <strong>da</strong>s tendências liberais que, segundo SAVIANI(2002), têm como papel a afirmação e cristalização <strong>da</strong>s diferenças <strong>de</strong> classe.
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