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As Flores do Mal - Charles Baudelaire

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Esquadrinhan<strong>do</strong> o céu, a vista atormentadaPela sombria <strong>do</strong>r das quimeras ausentes.O grilo, ao fun<strong>do</strong> de uma frincha solitária,Ven<strong>do</strong>-os passar, uma outra vez canta sua ária;Cibele, que os a<strong>do</strong>ra, o verde faz crescer,Rebenta as fontes e de flor enche o desertoAnte esses que aí vão, deixan<strong>do</strong>-lhes abertoO império familiar das trevas por nascer.O HOMEM E O MARHomem liberto, hás de estar sempre aos pés <strong>do</strong> mar!O mar é teu espelho; a tua alma apreciasNo infinito ir e vir de suas ondas frias,E nem teu ser é menos acre ao se abismar.Apraz-te mergulhar bem fun<strong>do</strong> em tua imagem;Em teus braços a estreitas, e teu coraçãoÀs vezes se distrai na própria pulsaçãoAo rumor dessa queixa indômita e selvagem.Sois to<strong>do</strong>s esses deuses turvos e discretos:Homem, ninguém son<strong>do</strong>u-te as furnas mais estranhas;Ó mar, ninguém tocou-te as íntimas entranhas,Tão ciumento que sois de vossos bens secretos!E todavia há séculos inumeráveisCombatíeis sem nenhum remorso nem piedade,Tamanho amor guardais à morte e à crueldade,Ó meus irmãos, ó gladia<strong>do</strong>res implacáveis!DOM JUAN NOS INFERNOSQuan<strong>do</strong> <strong>do</strong>m Juan desceu ao subterrâneo rioE logo que a Caronte o óbolo pagou,Como Antístenes, um mendigo de olhar frioCom braço vingativo os remos agarrou.Os seios fláci<strong>do</strong>s e as vestes entreabertas,Mulheres se torciam sob um céu nevoento,E, qual rebanho vil de vítimas ofertas,Atrás dele rosnava em atroz lamento.Sganarello a rir a paga reclama,Enquanto, erguen<strong>do</strong> o de<strong>do</strong>, apontava <strong>do</strong>m LuísA cada morto que nas margens deambulavaO filho audaz que lhe ultrajara a fronte gris.Em seu álgi<strong>do</strong> luto, Elvira, casta e esguia,Junto ao pérfi<strong>do</strong> esposo, amante seu de outrora,Parecia exigir-lhe uma última alegriaCujo sabor não recordasse o fel de agora.Ereto na couraça, um homem pétreo e imenso

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