Cheirais a Morte, ó Esqueletos perfuma<strong>do</strong>s!Mirra<strong>do</strong>s Antinoés, dândis de face glabra,Defuntos de verniz, D. Joãos encaneci<strong>do</strong>s,O abalo universal desta dança macabraVos atrai a outros sóis sempre desconheci<strong>do</strong>s!Do cais frio <strong>do</strong> Sena ao <strong>do</strong> Ganges inquieto,Salta e desmaia agora o rebanho mortalIgnoran<strong>do</strong> a trombeta <strong>do</strong> anjo que, <strong>do</strong> teto,Soa, sinistra e aberta, um trabuco fatal.E sob to<strong>do</strong>s os céus sempre a Morte te admiraEm tuas contorções, atroz humanidade,E às vezes como tu, perfumada de mirra,Sua ironia junta à tua insanidade”.O AMOR DA MENTIRASe te vejo passar, minha cara in<strong>do</strong>lente,Ao canto de instrumentos, parti<strong>do</strong> no teto,Como <strong>do</strong>naire a fulgir, lenta e harmoniosamente,O tédio a navegar no teu olhar inquieto;E se eu contemplo, à luz <strong>do</strong> gás e que a colora,Pálida fronte a arder de mórbi<strong>do</strong> aparato,Em que as tochas da tarde acendem uma aurora,E estes olhos que atraem, como os de algum retrato,Eu me digo: Que beleza! E que fresco vesti<strong>do</strong>!A saudade maciça - um halo de esplen<strong>do</strong>r -Coroa-a; e o coração, um pêssego feri<strong>do</strong>,E o corpo amadurecem para o sábio amor.És o fruto outonal de sabor soberano?És o lacrimatório à espera de algum pranto,Perfume de sonhar num oásis arcano,Ramalhete de flor ou caricioso manto?E de olhares eu sei de tristezas iníquas,Que nada deixam ver por detrás de seus véus;Escrínios a mofar, medalhões sem relíquias,Mais ocos, a afundar muito mais <strong>do</strong> que os céus!Mas não te basta ser só ilusão imensaPara num falso coração ter tua presa?Que importa o que há em ti, de tola indiferença?A máscara que importa? Amo a tua beleza!
Sempre hei de recordar, da cidade vizinha,Pequena mas tranqüila, a nossa lava casinha;A Pomona de gesso e a tão antiga VênusEsconden<strong>do</strong> num bosque os seus membros pequenos;E o sol da tarde, pleno de soberba fria,Que, atrás <strong>do</strong> vidro em que seu feixe se partia,Parecia, olho aberto para um céu curioso,Contemplar-nos a ceia, longo e silencioso,Abrin<strong>do</strong> longamente as sua luz que trajaNossa toalha frugal e as cortinas de sarja.À moça de servir de que tinhas ciúmeE que <strong>do</strong>rme seu sono em campa sem perfume,Deveremos levar-lhe algum buquê de flores .To<strong>do</strong> morto é infeliz, estremece de <strong>do</strong>res,E quan<strong>do</strong> outubro sopra, a podar velhas árvores,Seu vento de tristeza em torno de seus mármores,Devem certo julgar os vivos tão perversosPor <strong>do</strong>rmirem assim, sob lençóis imersos,Enquanto, a ruminar devaneio fatal,Sem amena palestra e sem formar casal,Roí<strong>do</strong>s pelo verme, esqueletos glaciais,Sentem que vão morrer as neves hibernaisE os séculos sem que amigos ou parentes,Troquem os farrapões pelas grades pendentes.Quan<strong>do</strong> a lenha assobia e canta, se, ao luar,Imota em seu divã, punha-se a repousar,E se, por noite azul e fria de dezembro,Via-a a um canto <strong>do</strong> quarto (agora eu bem me lembro!)Grave e vinda <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> de seu leito eternoNinar a quem cresceu com seu olhar materno,Que iria responder a esta alma assim tão pia,Toda pranto a rolar da pálpebra vazia?BRUMAS E CHUVASÓ inverno, ó fim de outono, ó primavera em lama,Dormidas estações! A minha alma vos amaPor cobrirdes-me assim cérebro e coraçãoDe sudário brumal, de tumba e de ilusão.Nesta grande planura em que o <strong>As</strong>tro se derrama,Noite em que o cata-vento é uma voz rouca r brama,
- Page 2 and 3:
As Flores do MalCharles BaudelaireA
- Page 4 and 5:
Sobre ele pousarei a tíbia e férr
- Page 6 and 7:
Exibiam a origem de uma nobre linha
- Page 8 and 9:
A MUSA VENALÓ musa de minha alma,
- Page 10 and 11: Esquadrinhando o céu, a vista ator
- Page 12 and 13: O IDEALJamais serão essas vinhetas
- Page 14 and 15: Se teu olhar, teu riso, teus pés m
- Page 16 and 17: Obra de algum obi, o Fausto da sava
- Page 18 and 19: Ou grãos que em rítmica cadência
- Page 20 and 21: nessas noites sem fim em que nos fo
- Page 22 and 23: Onde o Destino um dia me esqueceu;O
- Page 24 and 25: TODA ELAO Demônio em meu quarto sa
- Page 26 and 27: Sobre Paris em calma fluía.E junto
- Page 28 and 29: Serei teu ataúde, amável pestilê
- Page 30 and 31: Eu te quero contar, lânguida feiti
- Page 32 and 33: A esta alma que o tormento assola,C
- Page 34 and 35: Bem longe do prazer mundano e do de
- Page 36 and 37: LOUVORES À MINHA FRANCISCAVersos c
- Page 38 and 39: SONETO DE OUTONOO teu olhar me diz,
- Page 40 and 41: Escalo o dorso aos vagalhões entre
- Page 42 and 43: SPLEENPluviôse, contra toda a cida
- Page 44 and 45: Mas eis que as trevas afinal são c
- Page 46 and 47: IUma Idéia, uma Forma, um SerVindo
- Page 48 and 49: Repuxos no jardim chorando entre al
- Page 50 and 51: Jóias que valem bem poucoQue eu ne
- Page 52 and 53: E discutindo com meu espírito lass
- Page 54 and 55: São mistério, a esplender de inve
- Page 56 and 57: Um relâmpago e após a noite! - A
- Page 58 and 59: Deles, a maior parte jamais conhece
- Page 62 and 63: A minha alma, melhor que na morna e
- Page 64 and 65: E a alma grave do corpo imitava a p
- Page 66 and 67: E para o ódio afogar e embalar o
- Page 68 and 69: Hoje o espaço é de luzes cheio!Se
- Page 70 and 71: Seus sentidos doentes de tédio,Tin
- Page 72 and 73: O vinho aguça o olhar e torna a au
- Page 74 and 75: Mas logo a bordejar o litoral a les
- Page 76 and 77: A crápula, a ulular, da guarda e d
- Page 78 and 79: Tem piedade, Satã, desta longa mis
- Page 80 and 81: Que como um elixir nos transporta e
- Page 82 and 83: Íamos a seguir, pelo ritmo da vaga
- Page 84 and 85: VE após, e após enfim?VI"Cérebro
- Page 86 and 87: Irias ler-me por engano,Ou me teria
- Page 88 and 89: Que apenas me amas com pavor,Nos ab
- Page 90 and 91: Palavra! E sobre mim, num calafrio,
- Page 92 and 93: Dos distantes confins das montanhas
- Page 94 and 95: Volúpia, abre-me a tua teia,Toma o
- Page 96 and 97: Tal como Pafos as estrelas te vener
- Page 98 and 99: Punha-se à espera de uma doce reco
- Page 100 and 101: Cumpri vosso destino, almas desorde
- Page 102 and 103: E do alto do divã, imersa em paz,
- Page 104 and 105: É qual chuva incessanteDe agudas d
- Page 106 and 107: ISei que não és, minha querida,O
- Page 108 and 109: Ele é um satírico, um bufão,Mas
- Page 110 and 111:
"Onde é que vês esse demiurgo da
- Page 112 and 113:
Como lamentarias os teus ócios fra
- Page 114:
UMA TASCA DIVERTIDANA ESTRADA DE BR