Ele é um satírico, um bufão,Mas a energia com a qualNos pinta as seqüelas <strong>do</strong> <strong>Mal</strong>Prova-lhe o imenso coração.O seu sorriso não revelaDe Melmoth o trajeto abjetoSob a feroz tocha de AlectoQue os queima, mas também nos gela.No riso destes, da alegriaNão há senão um travo amargo;O seu, que se abre franco e largo,De uma alma nobre se irradia.LOLA DE VALÊNCIAEntre as belezas que se vêem em to<strong>do</strong> canto,Compreen<strong>do</strong> bem que hesite em vós a preferência;Mas vê-se fulgurar na Lola de ValênciaDa jóia negra e rósea o inespera<strong>do</strong> encanto.SOBRE O TASSO NA PRISÃO DE ENGÈNE DELACROIXO poeta na masmorra, em desalinho, aflito,Calcan<strong>do</strong> sob o pé convulso um manuscrito,Com olhar de terror mede a extensão da escadaCuja vertigem lhe ator<strong>do</strong>a a alma abismada.Risos frenéticos que ecoam na prisãoAo estranho e ao absur<strong>do</strong> arrastam-lhe a razão;A Dúvida que o cerca e o ridículo Me<strong>do</strong>O envolvem num horren<strong>do</strong> e multiforme enre<strong>do</strong>.Esse gênio encerra<strong>do</strong> em calabouço infame,Os esgares, o ais e os duendes cujo enxameTurbilhona por trás de seu alerta,Esse que <strong>do</strong> êxtase o terror ora desperta,Eis teu emblema, alma de frêmitos obscuros,Que a Realidade abafa entre os quatro muros!Peças Várias
A VOZMeu berço ao pé da biblioteca se estendia,Babel onde a ficção e ciência, tu<strong>do</strong>, o espolioDa cinza negra ao pó <strong>do</strong> Lácio se fundia.Eu tinha ali a mesma altura de um in-fólio.Duas vozes ouvi. Uma, insidiosa, a mimDizia: "A Terra é um bolo apetitoso à goela;Eu posso (e teu prazer seria então sem fim!)Dar-te uma gula tão imensa quanto a dela."A outra: "Vem! Vem viajar nos sonhos que semeias,Além da realidade e <strong>do</strong> que além é infin<strong>do</strong>!"E essa cantava como o vento nas areias,Fantasma não se sabe ao certo de onde vin<strong>do</strong>,Que o ouvi<strong>do</strong> ao mesmo tempo atemoriza e afaga.Eu te respondi: "Sim, <strong>do</strong>ce voz!" É de entãoQue data o que afinal se diz ser minha chaga,Minha fatalidade. E por trás de telãoDessa existência imensa, e no mais negro abismo,Distintamente eu vejo os mun<strong>do</strong>s singulares,E, vítima <strong>do</strong> lúci<strong>do</strong> êxtase em que cismo,Arrasto répteis a morder-me os calcanhares.E assim como um profeta é que, desde esse dia,Amo o deserto e a solidão <strong>do</strong> mar largo;Que sorrio no luto e choro na alegria,E apraz-me como suave o vinho mais amargo;Que os fatos mais sombrios tomo por risonhos,E que, de olhos no céu, tropeço e avanço aos poucos.Mas a voz consola e diz: "Guarda teus sonhos:Os sábios não os têm tão belos quanto os loucos!"O IMPREVISTOHarpagão, que velava o pai agonizante,Se disse, sonha<strong>do</strong>r, ao ver-lhe os lábios brancos:"Pois no celeiro já não temos o bastanteDe tábuas para a mesa e os bancos?"Arrulha Célimène: "É bom meu coraçãoE assim tão bela Deus me fez ao ter nasci<strong>do</strong>."- Seu coração! Presunto insosso, unto malsão,No fogo eterno recozi<strong>do</strong>!O escriba que, medíocre, assume ar de grandezaDiz ao pobre infeliz, que ele afoga nas trevas:
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As Flores do MalCharles BaudelaireA
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Sobre ele pousarei a tíbia e férr
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A MUSA VENALÓ musa de minha alma,
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Esquadrinhando o céu, a vista ator
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O IDEALJamais serão essas vinhetas
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Obra de algum obi, o Fausto da sava
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Ou grãos que em rítmica cadência
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TODA ELAO Demônio em meu quarto sa
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SONETO DE OUTONOO teu olhar me diz,
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Escalo o dorso aos vagalhões entre
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SPLEENPluviôse, contra toda a cida
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IUma Idéia, uma Forma, um SerVindo
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Jóias que valem bem poucoQue eu ne
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E discutindo com meu espírito lass
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São mistério, a esplender de inve
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Um relâmpago e após a noite! - A
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