Cumpri vosso destino, almas desordenadas,E fugi o infinito que trazei em vós!O LETESVem ao meu peito, ó surda alma ferina,Tigre a<strong>do</strong>ra<strong>do</strong>, de ares in<strong>do</strong>lentes,Quero os meus de<strong>do</strong>s mergulhar frementesNa áspera lã de tua espessa crina;Em tuas saias sepultar bem juntoDe teu perfume a fronte <strong>do</strong>lorida,E respirar, como uma flor ferida,O suave o<strong>do</strong>r de meu amor defunto.Quero <strong>do</strong>rmir o tempo que me sobre!Num sono que ao da morte se confunde,Que o meu carinho sem remorso inundeTeu corpo luzidio como o cobre.Para engolir-me a lágrima que escorreO abismo de teu leito nada iguala;O esquecimento por teus lábios falaE a águas <strong>do</strong> Letes nos teus lábios corre.O meu destino, agora meu delírio,Hei de seguir como um predestina<strong>do</strong>;Mártir submisso, ingênuo condena<strong>do</strong>,Cujo fervor atiça o seu martírio,Sugarei, afogan<strong>do</strong> o ódio malsão,Do mágico nepentes o conteú<strong>do</strong>Nos bicos desse colo pontiagu<strong>do</strong>,Onde jamais pulsou um coração.A QUE ESTÁ SEMPRE ALEGRETeu ar, teu gesto, tua fronteSão belos qual bela paisagem;O riso brinca em tua imagemQual vento fresco no horizonte.A mágoa que te roça os passosSucumbe à tua mocidade,À tua flama, à claridadeDos teus ombros e <strong>do</strong>s teus braços.
<strong>As</strong> fulgurantes, vivas coresDe tua vestes indiscretasLançam no espírito <strong>do</strong>s poetasA imagem de um balé de flores.Tais vestes loucas são o emblemaDe teu espírito travesso;Ó louca por quem enlouqueço,Te odeio e te amo, eis meu dilema!Certa vez, num belo jardim,Ao arrastar minha atonia,Senti, como cruel ironia,O sol erguer-se contra mim;E humilha<strong>do</strong> pela belezaDa primavera ébria em cor,Ali castiguei numa florA insolência da Natureza.<strong>As</strong>sim eu quisera uma noite,Quan<strong>do</strong> a hora da volúpia soa,Às frondes de tua pessoaSubir, ten<strong>do</strong> à mão um açoite,Punir-te a carne embevecida,Magoar o teu peito per<strong>do</strong>a<strong>do</strong>E abrir em teu flanco assusta<strong>do</strong>Uma larga e funda ferida,E, como êxtase supremo,Por entre esses lábios frementes,Mais deslumbrantes, mais ridentes,Infundir-te, irmã, meu veneno!AS JÓIASA amada estava nua e, por ser eu o amante,Das jóias só guardara as que o bulício inquieta,Cujo rico esplen<strong>do</strong>r lhe dava esse ar triunfanteQue em seus dias de gloria a escrava moura afeta.Quan<strong>do</strong> ela dança e entoa um timbre acre e sonoro,Este universo mineral que à luz fulguraAo êxtase me leva, e é com furor que a<strong>do</strong>ro<strong>As</strong> coisas em que o som ao fogo se mistura.Ela estava deitada e se deixava amar,
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Sobre ele pousarei a tíbia e férr
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A MUSA VENALÓ musa de minha alma,
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Esquadrinhando o céu, a vista ator
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O IDEALJamais serão essas vinhetas
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Se teu olhar, teu riso, teus pés m
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Obra de algum obi, o Fausto da sava
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Ou grãos que em rítmica cadência
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nessas noites sem fim em que nos fo
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Onde o Destino um dia me esqueceu;O
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TODA ELAO Demônio em meu quarto sa
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Sobre Paris em calma fluía.E junto
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Serei teu ataúde, amável pestilê
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Eu te quero contar, lânguida feiti
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A esta alma que o tormento assola,C
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Bem longe do prazer mundano e do de
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LOUVORES À MINHA FRANCISCAVersos c
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SONETO DE OUTONOO teu olhar me diz,
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Escalo o dorso aos vagalhões entre
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SPLEENPluviôse, contra toda a cida
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Mas eis que as trevas afinal são c
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IUma Idéia, uma Forma, um SerVindo
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