O vinho aguça o olhar e torna a audição fina!Eu procurei no amor um sono de esquecer;E é-me somente o amor um colchão de punhaisEm que eu <strong>do</strong>u de beber às amadas fatais!ALEGORIAÉ uma bela mulher e que opulenta deixaArrastar em seu vinho a fluídica madeixa.Nela, garras de amor, venenos de espelunca,À sua pele enfim tu<strong>do</strong> morre ou se trunca.Ela zomba da morte e despreza o deboche,Monstros de foice à mão são-lhe sempre um fantoche,Na sua destruição sempre guardam respeitoAo rude esplen<strong>do</strong>r de seu rígi<strong>do</strong> peito.Possui andar de deusa e sono de sultana;Ela tem no prazer a crença maometana,E com braços que são aos seios larga taça,Com seu olhar convoca inteira a humana raça.É que esta virgem sabe: o seu ventre é infecun<strong>do</strong>,No entanto necessário à marcha deste mun<strong>do</strong>,E que a sua beleza é sempre um <strong>do</strong>m sublimeE que extrai o perdão de to<strong>do</strong> infame crime.Ah, que ela ignora o Inferno e olvida o Purgatório,E quan<strong>do</strong> vier - Ó Noite - o seu fim ilusório,Há de encarar a Morte e sem nenhum gemi<strong>do</strong>Sem ódio e sem rancor - como um recém-nasci<strong>do</strong>.BEATRIZEm terrenos de cinza e cal e sem beleza,Como eu chorasse um dia à triste natureza,E tivesse a cabeça a errar de incerto mal,Lentamente aguçava em meu peito um punhal.Ao meio-dia eu vi tombar-me na cabeçaNuvem de tempestade a mais funérea e espessa,Que trazia um tropel de demônios viciososRecordan<strong>do</strong> os anões ira<strong>do</strong>s e curiosos.Puseram-se depois frios a me fitarPedestres que se põem algum louco a admirar.Via-os murmurar e rir cada vez maisOs olhos a piscar e trocan<strong>do</strong> sinais:- "Olhemos devagar esta criatura
Sombra que quer de Hamleto imitar a postura,Os cabelos ao vento, o olhar de indecisão,Faz sempre pena ver esse alegre histrião,Esta figura de patife e de indigente,E que de seu papel se incumbe sabiamenteQue sabe interessar no seu canto de <strong>do</strong>resÁguias e ribeirões, grilos, sombras e flores,E mesmo a mim, autor desta velha canção,Recitan<strong>do</strong> a rugir seu público pregão!"Poderia(Ah! Este orgulho é mais alto que os sonhos,A alta nuvem <strong>do</strong>mina e o grito <strong>do</strong>s demônios)Desviar tão simplesmente a lava fronte serena,Se eu não notasse enfim em meio à turba obscena,Crime que não moveu no firmamento o sol,O meu profun<strong>do</strong> amor, o de olhar de arrebolCom eles a se rir de minha mágoa funda,Dan<strong>do</strong>-lhes o prazer de uma carícia imunda.UMA VIAGEM A CITERAMeu coração, uma ave, esvoaçava ditoso,Livremente planava em torno da cor<strong>do</strong>alha;E movia-se a nave a um amplo céu sem falha,Como um anjo embriaga<strong>do</strong> a um alto sol radioso.Qual é esta ilha triste e sombria? É Citera.Ela é mesmo um país famoso nas canções,El<strong>do</strong>ra<strong>do</strong> banal de nossas ilusões.Mas olhai-a afinal, pois é uma pobre terra.- Ilha <strong>do</strong> coração e das festas <strong>do</strong> amor!Da Vênus ancestral a visão soberanaPor cima de teu mar como um perfuma plana,Nas almas a infundir misterioso langor.Com teus mirtos azuis, tuas flores gloriosas,Ilha, devem amar-te nação e nação,Os suspiros em ti da alma em a<strong>do</strong>raçãoSão incenso a rolar sobre um jardim de rosasOu o arrulho eternal de um longínquo pombal!Era apenas Citera um torrão <strong>do</strong>s mais magros,Deserta imensidão, dura de gritos agros.Mas eu adivinhava uma cena fatal!Não era um templo, não, de sombras florestais,Em que a sacer<strong>do</strong>tisa, amorosa das flores,Ia, o seu corpo a arder de secretos calores,Entreabrin<strong>do</strong> o vesti<strong>do</strong> às brisas vesperais;
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Sobre ele pousarei a tíbia e férr
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A MUSA VENALÓ musa de minha alma,
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Esquadrinhando o céu, a vista ator
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Se teu olhar, teu riso, teus pés m
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Obra de algum obi, o Fausto da sava
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Ou grãos que em rítmica cadência
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nessas noites sem fim em que nos fo
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