As Flores do Mal - Charles Baudelaire
As Flores do Mal - Charles Baudelaire
As Flores do Mal - Charles Baudelaire
- No tags were found...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Deles, a maior parte jamais conheceu,A <strong>do</strong>çura <strong>do</strong> lar, como jamais viveu.O JOGONos fana<strong>do</strong>s divãs das cortesãs mais velhas,Pintada a sobrancelha, o olhar langue e fatal,Num esgar, a fazer das pálidas orelhasTombar um retinir de pedra e de metal;Sobre um verde tapiz, muitos rostos sem boca,Como bocas sem cor, e maxilas sem dente,De<strong>do</strong>s em convulsão pela febre mais louca,Sondan<strong>do</strong> o bolso roto ou o seio fremente;Sob os estuques vis, fila de frouxos lustres,De candeeiros de mal projeta<strong>do</strong>s fulgoresSobre as frontes letais <strong>do</strong>s poetas mais ilustresQuem vêm desperdiçar os seus sangrentos suores;Eis o negro painel que num sonho noturnoVi des<strong>do</strong>brar-se ao meu olhar claro e curioso.Eu mesmo, num desvão <strong>do</strong> covil taciturno,Encostei-me a tremer, o mais mu<strong>do</strong> e invejoso;Desta gente invejava a paixão tão tenace,Destas putas senis o prazer de tristezaGalhar<strong>do</strong>s, trafican<strong>do</strong> à minha pobre face,Um o antigo pu<strong>do</strong>r, outra a sua beleza!Eu pasmei de invejar tanta pobre criatura,Corren<strong>do</strong> ao hiante abismo, e de alma alucinada,Que tem no próprio sangue a embriaguez que procuraE que prefere a <strong>do</strong>r à morte e o inferno ao nada.DANÇA MACABRAA Ernest ChristopheEmproada como viva, orgulhosa a estatura,Com seu grande buquê, mais as luvas e o lenço,Possui a languidez como a desenvolturaDe uma coquete magra e de ar de sonho imenso.Viu-se um dia num baile um porte assim delga<strong>do</strong>?