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As Flores do Mal - Charles Baudelaire

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BEM LONGE DAQUIAqui é a choupana sagradaOnde esta <strong>do</strong>nzela enfeitada,Sempre serena e preparada,<strong>As</strong> mãos em leque no regaçoE nos coxins pousan<strong>do</strong> o braço,Ouve da fonte os sons <strong>do</strong> espaço:De Dorotéia eis a morada.- Cantam a brisa e a água correnteSua canção entrecortadaQue embala esta infanta mimada.De cima a baixo, <strong>do</strong>cemente,Untam-lhe a pele delicadaCom benjoim e bálsamo olente.– Murcham as flores de repente.RECOLHIMENTOSê sábia, ó minha Dor, e queda-te mais quieta.Reclamavas a Tarde; eis que elas vem descen<strong>do</strong>:Sobre a cidade um véu de sombras se projeta,A alguns trazen<strong>do</strong> a angústia, a paz a outros trazen<strong>do</strong>.Enquanto <strong>do</strong>s mortais a multidão abjeta,Sob o flagelo <strong>do</strong> Prazer, algoz horren<strong>do</strong>,Remorsos colhe à festa e sôfrega se inquieta,Dá-me, ó Dor, tua mão; vem por aqui, corren<strong>do</strong>Deles. Vem ver curvarem-se os Anos passa<strong>do</strong>sNas varandas <strong>do</strong> céu, em trajes antiqua<strong>do</strong>s;Surgir das águas a Saudade sorridente;O Sol que numa arcada agoniza e se aninha,E, qual longo sudário a arrastar-se no Oriente,Ouve, querida, a <strong>do</strong>ce Noite que caminha.O ABISMOPascal em si tinha um abismo se moven<strong>do</strong>.- Ai, tu<strong>do</strong> é abismo! - sonho, ação, desejo intenso,

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