E <strong>do</strong> alto <strong>do</strong> divã, imersa em paz, sorriaA meu amor profun<strong>do</strong> e <strong>do</strong>ce como o mar,Que ao corpo, como à escarpa, em ondas lhe subia.O olhar crava<strong>do</strong> em mim, como um tigre abati<strong>do</strong>,Com ar vago e distante ela ensaiava poses,E o lúbrico fervor à candidez uni<strong>do</strong>Punha-lhe um novo encanto às cruéis metamorfoses.E sua perna e o braço, a coxa e os rins, unta<strong>do</strong>sComo de óleo, a imitar de um cisne a fluida linha,Passavam diante de meus olhos sossega<strong>do</strong>s;E o ventre e os seios, como cachos de uma vinha,Se aproximavam, mais sutis que Anjos <strong>do</strong> <strong>Mal</strong>,Para agitar minha alma enfim posta em repouso,Ou arrancá-la então à rocha de cristalOnde, calma e sozinha, ela encontrara pouso.Como se à luz de um novo esboço, unida eu viaDe antíope a cintura a um busto a<strong>do</strong>lescenteDe tal mo<strong>do</strong> os quadris moldavam-lhe a bacia.E a maquilagem lhe era esplêndida e luzente!- E estan<strong>do</strong> a lamparina agora agonizante,Como na alcova houvesse a luz só da lareira,Toda vez que emitia um suspiro faiscante,Inundava de sangue essa pele trigueira.AS METAMORFOSES DO VAMPIROE no entanto a mulher, com lábios de framboesaColean<strong>do</strong> qual serpente ao pé da lenha acesa,E o seio a comprimir sob o aço <strong>do</strong> espartilho,Dizia, a voz imersa em bálsamo e tomilho:- "A boca úmida eu tenho e trago em mim a ciênciaDe no fun<strong>do</strong> de um leito afogar a consciência.<strong>As</strong> lágrimas eu seco em meios seios triunfantes,E os velhos faço rir com o riso <strong>do</strong>s infantes.Sou como, a quem me vê sem véus a imagem nua,<strong>As</strong> estrelas, o sol, o firmamento e a lua!Tão <strong>do</strong>uta na volúpia eu sou, queri<strong>do</strong>s sábios,Quan<strong>do</strong> um homem sufoco à borda de meus lábios,Ou quan<strong>do</strong> os seio oferto ao dente que o mordisca,Ingênua ou libertina, apática ou arisca,Que sobre tais coxins macios e envolventesPerder-se-iam por mim os anjos impotentes!"Quan<strong>do</strong> após me sugar <strong>do</strong>s ossos a medula,
Para ela me voltei já lângui<strong>do</strong> e sem gulaÀ procura de um beijo, uma outra eu vi entãoEm cujo ventre o pus se unia à podridão!Os <strong>do</strong>is olhos fechei em trêmula agonia,E ao reabri-los depois, à plena luz <strong>do</strong> dia,Ao meu la<strong>do</strong>, em lugar <strong>do</strong> manequim altivo,No qual julguei ter visto a cor <strong>do</strong> sangue vivo,Pendiam <strong>do</strong> esqueleto uns farrapos poeirentos,Cujo grito lembrava a voz <strong>do</strong>s cata-ventosOu de uma tabuleta à ponta de uma lança,Que nas noites de inverno ao vento se balança.GalanteiosO REPUXOQue olhos exaustos, pobre amada!Dorme sem pressa e sono teuNessa postura descuidadaEm que o prazer te surpreendeu.Nó pátio, o repuxo que choraE cuja voz não silenciaVai modulan<strong>do</strong> noite aforaO <strong>do</strong>ce amor que me extasia.O jorro soluçanteDe úmidas flores,Onde Febe esfuziantePõe suas cores,É qual chuva incessanteDe agudas <strong>do</strong>res.<strong>As</strong>sim a tua alma que acendeDa volúpia o ardente clarãoAudaciosa e rápida ascendeAos céus de infinita amplidão.Depois se esfaz como quem morreNuma triste e lânguida vagaQue à borda de um abismo escorreE to<strong>do</strong> o coração me alaga.O jorro soluçanteDe úmidas flores,Onde Febe esfuziantePõe suas cores,
- Page 2 and 3:
As Flores do MalCharles BaudelaireA
- Page 4 and 5:
Sobre ele pousarei a tíbia e férr
- Page 6 and 7:
Exibiam a origem de uma nobre linha
- Page 8 and 9:
A MUSA VENALÓ musa de minha alma,
- Page 10 and 11:
Esquadrinhando o céu, a vista ator
- Page 12 and 13:
O IDEALJamais serão essas vinhetas
- Page 14 and 15:
Se teu olhar, teu riso, teus pés m
- Page 16 and 17:
Obra de algum obi, o Fausto da sava
- Page 18 and 19:
Ou grãos que em rítmica cadência
- Page 20 and 21:
nessas noites sem fim em que nos fo
- Page 22 and 23:
Onde o Destino um dia me esqueceu;O
- Page 24 and 25:
TODA ELAO Demônio em meu quarto sa
- Page 26 and 27:
Sobre Paris em calma fluía.E junto
- Page 28 and 29:
Serei teu ataúde, amável pestilê
- Page 30 and 31:
Eu te quero contar, lânguida feiti
- Page 32 and 33:
A esta alma que o tormento assola,C
- Page 34 and 35:
Bem longe do prazer mundano e do de
- Page 36 and 37:
LOUVORES À MINHA FRANCISCAVersos c
- Page 38 and 39:
SONETO DE OUTONOO teu olhar me diz,
- Page 40 and 41:
Escalo o dorso aos vagalhões entre
- Page 42 and 43:
SPLEENPluviôse, contra toda a cida
- Page 44 and 45:
Mas eis que as trevas afinal são c
- Page 46 and 47:
IUma Idéia, uma Forma, um SerVindo
- Page 48 and 49:
Repuxos no jardim chorando entre al
- Page 50 and 51:
Jóias que valem bem poucoQue eu ne
- Page 52 and 53: E discutindo com meu espírito lass
- Page 54 and 55: São mistério, a esplender de inve
- Page 56 and 57: Um relâmpago e após a noite! - A
- Page 58 and 59: Deles, a maior parte jamais conhece
- Page 60 and 61: Cheirais a Morte, ó Esqueletos per
- Page 62 and 63: A minha alma, melhor que na morna e
- Page 64 and 65: E a alma grave do corpo imitava a p
- Page 66 and 67: E para o ódio afogar e embalar o
- Page 68 and 69: Hoje o espaço é de luzes cheio!Se
- Page 70 and 71: Seus sentidos doentes de tédio,Tin
- Page 72 and 73: O vinho aguça o olhar e torna a au
- Page 74 and 75: Mas logo a bordejar o litoral a les
- Page 76 and 77: A crápula, a ulular, da guarda e d
- Page 78 and 79: Tem piedade, Satã, desta longa mis
- Page 80 and 81: Que como um elixir nos transporta e
- Page 82 and 83: Íamos a seguir, pelo ritmo da vaga
- Page 84 and 85: VE após, e após enfim?VI"Cérebro
- Page 86 and 87: Irias ler-me por engano,Ou me teria
- Page 88 and 89: Que apenas me amas com pavor,Nos ab
- Page 90 and 91: Palavra! E sobre mim, num calafrio,
- Page 92 and 93: Dos distantes confins das montanhas
- Page 94 and 95: Volúpia, abre-me a tua teia,Toma o
- Page 96 and 97: Tal como Pafos as estrelas te vener
- Page 98 and 99: Punha-se à espera de uma doce reco
- Page 100 and 101: Cumpri vosso destino, almas desorde
- Page 104 and 105: É qual chuva incessanteDe agudas d
- Page 106 and 107: ISei que não és, minha querida,O
- Page 108 and 109: Ele é um satírico, um bufão,Mas
- Page 110 and 111: "Onde é que vês esse demiurgo da
- Page 112 and 113: Como lamentarias os teus ócios fra
- Page 114: UMA TASCA DIVERTIDANA ESTRADA DE BR