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As Flores do Mal - Charles Baudelaire

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E a alma grave <strong>do</strong> corpo imitava a porfiaDa luta que travava a lâmpada com o dia.Como um rosto a chorar e que à brisa se enxuga,Havia o tremor no ar <strong>do</strong>s objetos na fuga,Lasso era o homem de ler como a mulher de amar.<strong>As</strong> mansardas além pareciam fumar.<strong>As</strong> mulheres <strong>do</strong> amor com seu olhar febrilDormiam a roncar o seu sono imbecil;<strong>As</strong> pobres, arrastan<strong>do</strong> os seios frios, magros,Sopravam seus tições e seus de<strong>do</strong>s amargos.Era a hora em que, no frio e miserável quarto,Se acrescentava a <strong>do</strong>r das mulheres no parto;Um soluço corta<strong>do</strong> e por sangue espumoso,Cantava o galo ao longe, a ferir o ar brumoso;A névoa - um vasto mar - banhava os edifíciosE os homens, a morrer no fun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s hospícios,Davam seu estertor, mas em soluços falhos;Voltavam os rufiões, roí<strong>do</strong>s de trabalhos.A aurora, tiritan<strong>do</strong> em seu vesti<strong>do</strong> aberto,Ia lenta a avançar sobre o Sena deserto,E os olhos esfregan<strong>do</strong>, o sombrio ParisApanha a ferramenta, operário feliz.O VinhoA ALMA DO VINHOCantava a alma <strong>do</strong> vinho à tarde nas botelhas:"Homem, eu ergo a ti, que és deserda<strong>do</strong> e triste,De minha prisão vítrea e de ceras vermelhas,Um canto fraternal que só de luz consiste!Sei de quanto precisa a colina acendidaDe amargura, de suor e <strong>do</strong> sol mais ardentePara que esta alma seja e que eu palpite em vida;Mas eu nunca serei ingrato ou inclemente,Sempre sinto prazer imenso quan<strong>do</strong> desçoUma garganta humana usada de refregas,Sempre um cáli<strong>do</strong> peito é um sepulcro sem preçoEm que eu vivo melhor que nas frias adegas.Ouves <strong>do</strong>minicais refrões bem como a GraçaDa esperança que vibra em meu seio fremente?

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