13.07.2015 Views

As Flores do Mal - Charles Baudelaire

As Flores do Mal - Charles Baudelaire

As Flores do Mal - Charles Baudelaire

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A MUSA VENALÓ musa de minha alma, amante <strong>do</strong>s palácios,Terás, quan<strong>do</strong> janeiro desatar seus ventos,No tédio negro <strong>do</strong>s crepúsculos nevoentos,Uma brasa que esquente os teus <strong>do</strong>is pés violáceos?Aquecerás teus níveos ombros sonolentosNa luz noturna que os postigos deixam coar?Sem um níquel na bolsa e seco o paladar,Colherás o ouro <strong>do</strong>s cerúleos firmamentos?Tens que, para ganhar o pão de cada dia,Esse turíbulo agitar nas sacristia,Entoar esse Te Deum que nada têm de novo,Ou, bufão em jejum, exibir teus encantosE teu riso molha<strong>do</strong> de invisíveis prantosPara desopilar o fíga<strong>do</strong> <strong>do</strong> povo.O MAU MONGESob as arcadas das antigas abadiasDes<strong>do</strong>brava-se em cenas a santa Verdade,Cujo efeito, avivan<strong>do</strong>-lhe as entranhas pias,Aquecia a algidez de sua austeridade.Nesse tempo em que tu, ó Cristo, florescias,Mais de um célebre monge, hoje anônimo frade,Toman<strong>do</strong> por cenário o campo de agonias,Glorificava a Morte com simplicidade.- Minha alma é um túmulo que, mau celibatário,Desde sempre percorro e habito solitário;Nada enfeitou jamais este claustro sem Deus.Ó monge ocioso! Quan<strong>do</strong> enfim hei de fazerDo espetáculo vivo de meu triste serA obra de minhas mãos e o amor <strong>do</strong>s olhos meus?O INIMIGOA juventude não foi mais que um temporal,Aqui e ali por sóis ardentes trespassa<strong>do</strong>;<strong>As</strong> chuvas e os trovões causaram dano talQue em meu pomar não resta um fruto sazona<strong>do</strong>.Eis que alcancei o outono de meu pensamento,E agora o ancinho e a pá se fazem necessáriosPara outra vez compor o solo lamacento,Onde profundas covas se abrem como ossáriosE quem sabe se as flores que meu sonho ensaiaNão achem nessa gleba aguada como praiaO místico alimento que as farás radiosas/

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!