13.07.2015 Views

As Flores do Mal - Charles Baudelaire

As Flores do Mal - Charles Baudelaire

As Flores do Mal - Charles Baudelaire

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

E minha alma sutil que sobre as ondas gozaSaberá voz achar, ó concha preguiçosa!Infinito balouço <strong>do</strong> ócio embalsama<strong>do</strong>!Coma azul, pavilhão de trevas distendidas,Do céu profun<strong>do</strong> dai-me a esférica amplidão;Na trama espessa dessas mechas retorcidasEmbriago-me febril de essências confundidasTalvez de óleo de coco, almíscar e alcatrão.Por muito tempo! Sempre! Em tua crina ondeanteCultivarei a pérola, a safira e o jade,Para que meu desejo em teus ouvi<strong>do</strong>s cante!Pois não és o oásis onde sonho, o odre abundanteOnde sedento bebo o vinho da saudade?Eu te amo como se ama a abóbada noturna,Ó taça de tristeza, ó grande taciturna,E mais ainda te a<strong>do</strong>ro quan<strong>do</strong> mais te ausentasE quanto mais pareces, no ermo que ornamentas,Multiplicar irônica as celestes léguasQue me separam das imensidões sem tréguas.Ao assalto me lanço e agito-me na liça,Como um coro de vermes junto a uma carniça,E a<strong>do</strong>ro, ó fera desumana e pertinaz,Até essa algidez que mais bela te faz!Porias o universo inteiro em teu bordel,Mulher impura! O tédio é que te torna cruel.Para teus dentes neste jogo exercitar,A cada dia um coração tens que sangrar.Teus olhos, cuja luz recorda a <strong>do</strong>s lampejosE <strong>do</strong>s rútilos teixos que ardem nos festejos,Exibem arrogantes uma vã nobreza,Sem conhecer jamais a lei de sua beleza.Ó monstro cego e sur<strong>do</strong>, em cruezas fecun<strong>do</strong>!Salutar instrumento, vampiro <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,Como não te envergonhas ou não vês sequerMurchar no espelho teu fascínio de mulher?A grandeza <strong>do</strong> mal de que crês saber tantoNão te obriga jamais a vacilar de espantoQuan<strong>do</strong> a mãe natureza, em desígnios vela<strong>do</strong>s,Recorre a ti, mulher, ó deusa <strong>do</strong>s peca<strong>do</strong>s- A ti, vil animal - , para um gênio forjar?Ó lo<strong>do</strong>sa grandeza! Ó desonra exemplar!SED NON SATIATABizarra divindade, cor da noite escura,Cujo perfume sabe a almíscar e a havana,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!