SONETO DE OUTONOO teu olhar me diz, claro como cristal:“Bizarro amante, o que há em mim que mais te excita?”- Sê bela e cala! O meu coração, que se irrita,Por tu<strong>do</strong>, exceto a antiga candura animal,Não te quer revelar seu segre<strong>do</strong> infernal,Embalo cuja mão a um longo sono incita,Nem a sua negra lenda a ferro e fogo escrita.Abomino a paixão e a alma me faz mal!Amemo-nos em paz. Amor, numa guarida,Tenebroso, embosca<strong>do</strong>, entesa o arco fatal.Conheço-lhe os engenhos <strong>do</strong> velho arsenal:Crime, horror e loucura! - Ó branca margarida!Não serás tu, como eu, triste sol outonal,Ó minha branca, ó minha branca Margarida?TRISTEZAS DA LUADivaga em meio à noite a lua preguiçosa;Como uma bela, entre coxins e devaneios,Que afaga com a mão discreta e vaporosa,Antes de a<strong>do</strong>rmecer, o contorno <strong>do</strong>s seios.No <strong>do</strong>rso de cetim das tenras avalanchas,Morren<strong>do</strong>, ela se entrega a longos estertores,E os olhos vai pousan<strong>do</strong> sobre as níveas manchasQue no azul desabrocham como estranhas flores.Se às vezes neste globo, ébria de ócio e prazer,Deixa ela uma furtiva lágrima escorrer,Um poeta cari<strong>do</strong>so, ao sono pouco afeito,No côncavo das mãos toma essa gota rala,De irisa<strong>do</strong>s reflexos como um grão de opala,E bem longe <strong>do</strong> sol a acolhe no seu peito.OS GATOSOs amantes febris e os sábios solitáriosAmam de mo<strong>do</strong> igual, na idade da razão,Os <strong>do</strong>ces e orgulhosos gatos da mansão,Que como eles têm frio e cismam sedentários.Amigos da volúpia e devotos da ciência,Buscam eles o horror da treva e <strong>do</strong>s mistérios;Tomara-os Érebo por seus corcéis funéreos,Se a submissão pudera opor-lhes à insolência.Sonhan<strong>do</strong> eles assumem a nobre atitudeDa esfinge que no além se funde à infinitude,Como ao sabor de um sonho que jamais termina;
Os rins em mágicas fagulhas se distendem,E partículas de ouro, como areia fina,Suas graves pupilas vagamente acendem.OS MOCHOSSob os negros teixos que habitam,Alinham-se os mochos em fila.Como a <strong>do</strong>s deuses, a pupilaLhes arde em fogo. Eles meditam.E imóveis permanecerãoAté o momento agonizanteEm que, tangen<strong>do</strong> o sol rasante,<strong>As</strong> trevas tu<strong>do</strong> engolfarão.Sua atitude aos sábios ensinaQue aqui lhe cabe como sinaTemer o caos e o movimento;Bêba<strong>do</strong> de uma sombra fútil,O homem maldiz o atrevimentoDe haver ousa<strong>do</strong> um passo inútil.O CACHIMBOSou o cachimbo de um autor.Vê-se, ao contemplar me semblanteDe cafre ou de abissínia errante,Que muito fuma meu senhor.Quan<strong>do</strong> ele está cheio de <strong>do</strong>r,Sou como a choça fumeganteOnde a comida aguarda o instanteEm que regressa o lenha<strong>do</strong>r.Sua alma embalo <strong>do</strong>cementeNa rede azul e movediçaQue em minha boca o fogo atiça.E entorno um bálsamo envolventeQue ao coração lhe trás a calmaE lhe dá cura aos males da almaA MÚSICAA música me arrasta às vezes como o mar!No encalço de um astro,Sob um teto de bruma ou dissolvi<strong>do</strong> no ar,Iço a vela ao mastro;O peito para frente e os pulmões enfuna<strong>do</strong>sTal qual uma tela,
- Page 2 and 3: As Flores do MalCharles BaudelaireA
- Page 4 and 5: Sobre ele pousarei a tíbia e férr
- Page 6 and 7: Exibiam a origem de uma nobre linha
- Page 8 and 9: A MUSA VENALÓ musa de minha alma,
- Page 10 and 11: Esquadrinhando o céu, a vista ator
- Page 12 and 13: O IDEALJamais serão essas vinhetas
- Page 14 and 15: Se teu olhar, teu riso, teus pés m
- Page 16 and 17: Obra de algum obi, o Fausto da sava
- Page 18 and 19: Ou grãos que em rítmica cadência
- Page 20 and 21: nessas noites sem fim em que nos fo
- Page 22 and 23: Onde o Destino um dia me esqueceu;O
- Page 24 and 25: TODA ELAO Demônio em meu quarto sa
- Page 26 and 27: Sobre Paris em calma fluía.E junto
- Page 28 and 29: Serei teu ataúde, amável pestilê
- Page 30 and 31: Eu te quero contar, lânguida feiti
- Page 32 and 33: A esta alma que o tormento assola,C
- Page 34 and 35: Bem longe do prazer mundano e do de
- Page 36 and 37: LOUVORES À MINHA FRANCISCAVersos c
- Page 40 and 41: Escalo o dorso aos vagalhões entre
- Page 42 and 43: SPLEENPluviôse, contra toda a cida
- Page 44 and 45: Mas eis que as trevas afinal são c
- Page 46 and 47: IUma Idéia, uma Forma, um SerVindo
- Page 48 and 49: Repuxos no jardim chorando entre al
- Page 50 and 51: Jóias que valem bem poucoQue eu ne
- Page 52 and 53: E discutindo com meu espírito lass
- Page 54 and 55: São mistério, a esplender de inve
- Page 56 and 57: Um relâmpago e após a noite! - A
- Page 58 and 59: Deles, a maior parte jamais conhece
- Page 60 and 61: Cheirais a Morte, ó Esqueletos per
- Page 62 and 63: A minha alma, melhor que na morna e
- Page 64 and 65: E a alma grave do corpo imitava a p
- Page 66 and 67: E para o ódio afogar e embalar o
- Page 68 and 69: Hoje o espaço é de luzes cheio!Se
- Page 70 and 71: Seus sentidos doentes de tédio,Tin
- Page 72 and 73: O vinho aguça o olhar e torna a au
- Page 74 and 75: Mas logo a bordejar o litoral a les
- Page 76 and 77: A crápula, a ulular, da guarda e d
- Page 78 and 79: Tem piedade, Satã, desta longa mis
- Page 80 and 81: Que como um elixir nos transporta e
- Page 82 and 83: Íamos a seguir, pelo ritmo da vaga
- Page 84 and 85: VE após, e após enfim?VI"Cérebro
- Page 86 and 87: Irias ler-me por engano,Ou me teria
- Page 88 and 89:
Que apenas me amas com pavor,Nos ab
- Page 90 and 91:
Palavra! E sobre mim, num calafrio,
- Page 92 and 93:
Dos distantes confins das montanhas
- Page 94 and 95:
Volúpia, abre-me a tua teia,Toma o
- Page 96 and 97:
Tal como Pafos as estrelas te vener
- Page 98 and 99:
Punha-se à espera de uma doce reco
- Page 100 and 101:
Cumpri vosso destino, almas desorde
- Page 102 and 103:
E do alto do divã, imersa em paz,
- Page 104 and 105:
É qual chuva incessanteDe agudas d
- Page 106 and 107:
ISei que não és, minha querida,O
- Page 108 and 109:
Ele é um satírico, um bufão,Mas
- Page 110 and 111:
"Onde é que vês esse demiurgo da
- Page 112 and 113:
Como lamentarias os teus ócios fra
- Page 114:
UMA TASCA DIVERTIDANA ESTRADA DE BR