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As Flores do Mal - Charles Baudelaire

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E para o ódio afogar e embalar o ócio imensoDesta velhice atroz que assim morre em silêncio ,Gerou o sono, Deus, de remorso toca<strong>do</strong>;O homem o vinho criou, filho <strong>do</strong> sol sagra<strong>do</strong>O VINHO DO ASSASSINOLivre! Minha mulher é morta!Bebo o que o cálice contém.Quan<strong>do</strong> eu voltava sem vintém,Gritava só der ver-me à porta.Tenho de um rei to<strong>do</strong> o esplen<strong>do</strong>r;O ar é puro, o céu admirável...Tínhamos verão tão amávelQuan<strong>do</strong> eu caí morto de amor!A sede atroz que me faz loucoQuem a pudera amortecer?Só o vinho que pode caberNa sua tumba e não é pouco;E joguei-a de um poço ao fun<strong>do</strong>,Joguei mesmo em seguida a cordaComo os calhaus de sua borda.- Há de esquecer-se dela o mun<strong>do</strong>!Por nossas juras de alegria,(E não juramos nunca em vão!)Para nossa conciliaçãoComo aos tempos de nossa orgia,Implorei dela uma entrevistaÀ tarde numa estrada escura,E veio a aluada criatura!(To<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> é louco ou artista).Ainda ela era a mais garrida,Embora bem fatigada! EEu ainda a amava; eis por queLhe disse: parte desta vida!Quem me compreenderá? Um somente,Do mun<strong>do</strong> da embriagues, mesquinho,Pensará, nas noites de <strong>do</strong>ente,Fazer um sudário <strong>do</strong> vinho?Este crápula tão traiçoeiro

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