Volúpia, abre-me a tua teia,Toma o perfil de uma sereiaFeita de carne e de velu<strong>do</strong>,Ou verte enfim teu sono mu<strong>do</strong>No vinho místico e disforme,Volúpia, espectro multiforme!A LUA OFENDIDAÓ Lua que em recato amavam nossos paisNos píncaros <strong>do</strong> azul, onde harém sorridente,Os sóis vão te seguir, com seu cortejo ardente,Querida Cíntia, luz das furnas ancestrais,Não vês, em sua alcova próspera, os casaisA <strong>do</strong>rmir, pon<strong>do</strong> à mostra o esmalte de seu dente?O poeta cuja fronte o poema pensa e sente?Ou sob a relva o amor das víboras fatais/Sob o teu fulvo <strong>do</strong>minó, com pés de lã,Irás, como antes, <strong>do</strong> crepúsculo à manhã,Beijar de Endimião o páli<strong>do</strong> feitiço?- "Vejo-te a mãe, filho de um século em desgaste,Que exibe em seu espelho um rosto já sem viçoE que com arte apruma o seio que sugaste!"A THÉODORE DE BANVILLE1842Empunhaste da Deusa a cabeleira ondeanteCom tamanho vigor que de vós se diria,Ante essa bela indiferença e ar de mestria,Ser um jovem rufião a subjugar a amante.Tenho no olhar o fogo da precocidade,Haveis hastea<strong>do</strong> o vosso orgulho de arquitetoEm construções cujo equilíbrio ousa<strong>do</strong> e inquietoFaz ver como será vossa maturidade.Poeta, este sangue que nos foge eu não restauro;Foi por acaso então que o traje <strong>do</strong> Centauro,Que em córregos de treva as veias transformava,
Três vezes se tingiu nas salivas viscosasDessas serpentes vingativas e monstruosasQue Hércules ao nascer no berço estrangulava?MargináliaO CREPÚSCULO ROMÂNTICOQuão belo é o sol quan<strong>do</strong> no céu se ergue risonho,E qual uma explosão nos lança o seu bom-dia!- Feliz quem pode com amor e ébria alegriaSaudar-lhe o ocaso mais glorioso <strong>do</strong> que um sonho!Recor<strong>do</strong>-me! Eu vi tu<strong>do</strong>, a flor, o sulco, a fonte,Murchar sob o esplen<strong>do</strong>r dessa pupila que arde...- Corramos to<strong>do</strong>s sem demora ao poente, é tarde,Para abraçar um raio oblíquo no horizonte!Mas eu persigo em vão o Deus que ora se ausenta;A irresistível Noite o seu império assenta,Úmida, negra, erma de estrelas ou faróis;Um o<strong>do</strong>r de sepulcro em meio às trevas vaga,E junto aos pantanais meu pé medroso esmagaInesperadas rãs e frios caracóis.LESBOSMãe <strong>do</strong>s jogos <strong>do</strong> Lácio e das gregas orgias,Lesbos, ilha onde os beijos, meigos e ditosos,Ardentes como os sóis, frescos quais melancias,Emolduram as noites e os dias gloriosos;Mãe <strong>do</strong>s jogos <strong>do</strong> Lácio e das gregas orgias;Lesbos, ilha onde os beijos são como as cascatas,Que desabam sem me<strong>do</strong> em pélagos profun<strong>do</strong>s,E correm, soluçan<strong>do</strong>, em maio às colunatas,Secretos e febris, copiosos e infecun<strong>do</strong>s,Lesbos, ilha onde os beijos são como as cascatas!Lesbos, onde as Frinéias uma à outra esperam,Onde jamais ficou sem eco um só queixume,
- Page 2 and 3:
As Flores do MalCharles BaudelaireA
- Page 4 and 5:
Sobre ele pousarei a tíbia e férr
- Page 6 and 7:
Exibiam a origem de uma nobre linha
- Page 8 and 9:
A MUSA VENALÓ musa de minha alma,
- Page 10 and 11:
Esquadrinhando o céu, a vista ator
- Page 12 and 13:
O IDEALJamais serão essas vinhetas
- Page 14 and 15:
Se teu olhar, teu riso, teus pés m
- Page 16 and 17:
Obra de algum obi, o Fausto da sava
- Page 18 and 19:
Ou grãos que em rítmica cadência
- Page 20 and 21:
nessas noites sem fim em que nos fo
- Page 22 and 23:
Onde o Destino um dia me esqueceu;O
- Page 24 and 25:
TODA ELAO Demônio em meu quarto sa
- Page 26 and 27:
Sobre Paris em calma fluía.E junto
- Page 28 and 29:
Serei teu ataúde, amável pestilê
- Page 30 and 31:
Eu te quero contar, lânguida feiti
- Page 32 and 33:
A esta alma que o tormento assola,C
- Page 34 and 35:
Bem longe do prazer mundano e do de
- Page 36 and 37:
LOUVORES À MINHA FRANCISCAVersos c
- Page 38 and 39:
SONETO DE OUTONOO teu olhar me diz,
- Page 40 and 41:
Escalo o dorso aos vagalhões entre
- Page 42 and 43:
SPLEENPluviôse, contra toda a cida
- Page 44 and 45: Mas eis que as trevas afinal são c
- Page 46 and 47: IUma Idéia, uma Forma, um SerVindo
- Page 48 and 49: Repuxos no jardim chorando entre al
- Page 50 and 51: Jóias que valem bem poucoQue eu ne
- Page 52 and 53: E discutindo com meu espírito lass
- Page 54 and 55: São mistério, a esplender de inve
- Page 56 and 57: Um relâmpago e após a noite! - A
- Page 58 and 59: Deles, a maior parte jamais conhece
- Page 60 and 61: Cheirais a Morte, ó Esqueletos per
- Page 62 and 63: A minha alma, melhor que na morna e
- Page 64 and 65: E a alma grave do corpo imitava a p
- Page 66 and 67: E para o ódio afogar e embalar o
- Page 68 and 69: Hoje o espaço é de luzes cheio!Se
- Page 70 and 71: Seus sentidos doentes de tédio,Tin
- Page 72 and 73: O vinho aguça o olhar e torna a au
- Page 74 and 75: Mas logo a bordejar o litoral a les
- Page 76 and 77: A crápula, a ulular, da guarda e d
- Page 78 and 79: Tem piedade, Satã, desta longa mis
- Page 80 and 81: Que como um elixir nos transporta e
- Page 82 and 83: Íamos a seguir, pelo ritmo da vaga
- Page 84 and 85: VE após, e após enfim?VI"Cérebro
- Page 86 and 87: Irias ler-me por engano,Ou me teria
- Page 88 and 89: Que apenas me amas com pavor,Nos ab
- Page 90 and 91: Palavra! E sobre mim, num calafrio,
- Page 92 and 93: Dos distantes confins das montanhas
- Page 96 and 97: Tal como Pafos as estrelas te vener
- Page 98 and 99: Punha-se à espera de uma doce reco
- Page 100 and 101: Cumpri vosso destino, almas desorde
- Page 102 and 103: E do alto do divã, imersa em paz,
- Page 104 and 105: É qual chuva incessanteDe agudas d
- Page 106 and 107: ISei que não és, minha querida,O
- Page 108 and 109: Ele é um satírico, um bufão,Mas
- Page 110 and 111: "Onde é que vês esse demiurgo da
- Page 112 and 113: Como lamentarias os teus ócios fra
- Page 114: UMA TASCA DIVERTIDANA ESTRADA DE BR