É qual chuva incessanteDe agudas <strong>do</strong>res.Ó tu, que de noite és tão bela,Como me é <strong>do</strong>ce, no teu colo,Junto à nascente ouvir aquelaQueixa sombria o eterno solo.Lua, água clara, noite escura,Ramos que arfais em derre<strong>do</strong>r,Vossa melancolia puraÉ o espelho <strong>do</strong> meu amor.O jorro soluçanteDe úmidas flores,Onde Febe esfuziantePõe suas cores,É qual chuva incessanteDe agudas <strong>do</strong>res.OS OLHOS DE BERTAPodeis bem desprezar os olhos mais famosos,Olhos de meu amor, <strong>do</strong>s quais foge e se elevaNão sei o quê de bom, de <strong>do</strong>ce como a treva!Vertei vosso fascínio obscuro, olhos graciosos!Olhos de meu amor, arcanos a<strong>do</strong>ra<strong>do</strong>s,Fazei-me recordar essas mágicas furnasEm que, por trás de imóveis sombras taciturnas,Cintilam vagamente escrínios ignora<strong>do</strong>s!Tem meu amor olhos tão negros quanto vastos,Como os teus, Noite imensa,e , como os teus, preclaros!Sonhos de Amor e Fé são seus lampejos raros,Que fulguram ao fun<strong>do</strong>, orgiásticos ou castos.HINOÀ bem-amada, à sem-igual,À que me banha em claridade,Ao anjo, ao í<strong>do</strong>lo imortal,Saú<strong>do</strong> na imortalidade!Ela se expande em minha vidaComo ar impregna<strong>do</strong> de sal,E na minha alma ressequida
Verte o sabor <strong>do</strong> que é imortal.Bálsamo fresco que inebriaO ar de uma sagrada re<strong>do</strong>ma,Pira esquecida que irradiaNa noite o seu secreto aroma,Como, ó amor incorruptível,Posso expressar-te com verdade?Um grão de almíscar invisívelA germinar na eternidade!À bem-amada, à sem-igual,Que me dá paz, felicidade,Ao anjo, ao í<strong>do</strong>lo imortal,Saú<strong>do</strong> na imortalidade!AS PROMESSAS DE UM ROSTOEu te amo as sobrancelhas que ao curvar-se imitamDa treva os véus e os movimentos;Embora negros, os teus olhos me suscitamNem sempre turvos pensamentos.Teus olhos, cujo tom às cores se combinaDe tua ondeante crina elástica,Teus olhos lângui<strong>do</strong>s me dizem em surdina:"Se tens, cultor da musa plástica,Confiança nessa fé que em ti tanto exaltamos,E nos prazeres que anuncias,Poderás comprovar de fato o que afirmamosDo umbigo às nádegas macias.Verás nos bicos destes seios que desnu<strong>do</strong>Dois brônzeos medalhões febris,E sob um ventre cuja tez lembra o velu<strong>do</strong>,Ou <strong>do</strong> bistre o negro matiz,Um soberbo tostão que é o gêmeo, na verdade,Dessa outra juba que fulgura,Suave e frisada, e que te iguala em densidade,Noite sem astros, noite escura!"O MONSTRO OU O PADRINHO DE UMA NINFA MACABRA
- Page 2 and 3:
As Flores do MalCharles BaudelaireA
- Page 4 and 5:
Sobre ele pousarei a tíbia e férr
- Page 6 and 7:
Exibiam a origem de uma nobre linha
- Page 8 and 9:
A MUSA VENALÓ musa de minha alma,
- Page 10 and 11:
Esquadrinhando o céu, a vista ator
- Page 12 and 13:
O IDEALJamais serão essas vinhetas
- Page 14 and 15:
Se teu olhar, teu riso, teus pés m
- Page 16 and 17:
Obra de algum obi, o Fausto da sava
- Page 18 and 19:
Ou grãos que em rítmica cadência
- Page 20 and 21:
nessas noites sem fim em que nos fo
- Page 22 and 23:
Onde o Destino um dia me esqueceu;O
- Page 24 and 25:
TODA ELAO Demônio em meu quarto sa
- Page 26 and 27:
Sobre Paris em calma fluía.E junto
- Page 28 and 29:
Serei teu ataúde, amável pestilê
- Page 30 and 31:
Eu te quero contar, lânguida feiti
- Page 32 and 33:
A esta alma que o tormento assola,C
- Page 34 and 35:
Bem longe do prazer mundano e do de
- Page 36 and 37:
LOUVORES À MINHA FRANCISCAVersos c
- Page 38 and 39:
SONETO DE OUTONOO teu olhar me diz,
- Page 40 and 41:
Escalo o dorso aos vagalhões entre
- Page 42 and 43:
SPLEENPluviôse, contra toda a cida
- Page 44 and 45:
Mas eis que as trevas afinal são c
- Page 46 and 47:
IUma Idéia, uma Forma, um SerVindo
- Page 48 and 49:
Repuxos no jardim chorando entre al
- Page 50 and 51:
Jóias que valem bem poucoQue eu ne
- Page 52 and 53:
E discutindo com meu espírito lass
- Page 54 and 55: São mistério, a esplender de inve
- Page 56 and 57: Um relâmpago e após a noite! - A
- Page 58 and 59: Deles, a maior parte jamais conhece
- Page 60 and 61: Cheirais a Morte, ó Esqueletos per
- Page 62 and 63: A minha alma, melhor que na morna e
- Page 64 and 65: E a alma grave do corpo imitava a p
- Page 66 and 67: E para o ódio afogar e embalar o
- Page 68 and 69: Hoje o espaço é de luzes cheio!Se
- Page 70 and 71: Seus sentidos doentes de tédio,Tin
- Page 72 and 73: O vinho aguça o olhar e torna a au
- Page 74 and 75: Mas logo a bordejar o litoral a les
- Page 76 and 77: A crápula, a ulular, da guarda e d
- Page 78 and 79: Tem piedade, Satã, desta longa mis
- Page 80 and 81: Que como um elixir nos transporta e
- Page 82 and 83: Íamos a seguir, pelo ritmo da vaga
- Page 84 and 85: VE após, e após enfim?VI"Cérebro
- Page 86 and 87: Irias ler-me por engano,Ou me teria
- Page 88 and 89: Que apenas me amas com pavor,Nos ab
- Page 90 and 91: Palavra! E sobre mim, num calafrio,
- Page 92 and 93: Dos distantes confins das montanhas
- Page 94 and 95: Volúpia, abre-me a tua teia,Toma o
- Page 96 and 97: Tal como Pafos as estrelas te vener
- Page 98 and 99: Punha-se à espera de uma doce reco
- Page 100 and 101: Cumpri vosso destino, almas desorde
- Page 102 and 103: E do alto do divã, imersa em paz,
- Page 106 and 107: ISei que não és, minha querida,O
- Page 108 and 109: Ele é um satírico, um bufão,Mas
- Page 110 and 111: "Onde é que vês esse demiurgo da
- Page 112 and 113: Como lamentarias os teus ócios fra
- Page 114: UMA TASCA DIVERTIDANA ESTRADA DE BR