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As Flores do Mal - Charles Baudelaire

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Mas logo a bordejar o litoral a leste,<strong>As</strong> aves a assustar, pairan<strong>do</strong> nos espaços,Vimos forca a subir mostran<strong>do</strong> três braços,Destaca<strong>do</strong>s <strong>do</strong> céu como um negro cipreste.Pássaros de terror sobre um cadáver vastoTocam a destruir o enforca<strong>do</strong> maduro,Roíam, pon<strong>do</strong> a tenaz <strong>do</strong> bico tão impuro,Em to<strong>do</strong>s os rincões deste podre repasto;Tinha vazio o olhar e <strong>do</strong>s flancos ridículosFluíam pela coxa os graves intestinos;Ceva<strong>do</strong>s de delícia os negros assassinosTinham-lhe devora<strong>do</strong> os infames testículos.Ao seus pés um tropel de irrita<strong>do</strong>s muares,O focinho para o ar incessante rodava;Uma besta maior no centro se agitavaComo um executor entre os seus auxiliares.E filho de Citera, oriun<strong>do</strong> <strong>do</strong> céu pulcro,Este insulto infernal amargavas cala<strong>do</strong>Só por expiação <strong>do</strong> teu culto execra<strong>do</strong>E <strong>do</strong>s crimes por que te negam o sepulcro.Risível enforca<strong>do</strong>, ah que são meus teus ais!Eu senti só de ver os teus membros pendentes,Como um vômito, vir aos meus trinta e <strong>do</strong>is dentesLongo rio de fel das <strong>do</strong>res ancestrais;Diante deste holocausto, ó criatura infeliz,Eu ao vivo senti bicos e maxilaresDos noturnos chacais, <strong>do</strong>s corvos tumulares,Que punham minha carne em negro almofariz.- O céu era de encanto e o mar to<strong>do</strong> se unia;Eu via tu<strong>do</strong> negro e tu<strong>do</strong> sanguinário;Ai de mim, pude ter como se num sudárioSepulto o coração mas nesta alegoria.Oh, Vênus, em tua ilha, eu só vi um carrasco,Símbolo de uma forca a enforcar minha imagem...- Concede-me, Senhor, a energia e a coragemDe olhar-me, coração e corpo, sem ter asco!O AMOR E O CRÂNIOVelha vinheta

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