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Lua virou o rosto para longe, seu nariz torcido em desgosto. Tentei tocá-la, mas ela se esquivou<br />
e eu vi que suas mãos estavam vermelhas e os nós dos dedos, repletos de sangue. O pavor subiu<br />
<strong>com</strong> a bile na minha garganta e eu abri a janela para ter mais luz, caindo sobre seus pés de<br />
joelhos, pescando qualquer peça de roupa para cobrir seus dedos ensanguentados.<br />
No momento em que fui tocá-la de novo, Lua soltou um grito.<br />
Pude ver a dor em seus olhos e a mágoa presente neles. Eu não fazia ideia do motivo de ela<br />
estar tão magoada a ponto de ter socado alguém, mas era isso que aconteceu. Sem sombra de<br />
dúvidas, ela havia batido em alguém, porém, não existia sinal algum de violência em seu corpo.<br />
Minha mente voou para as coisas mais terríveis, me sentindo subitamente enjoada e querendo<br />
matar Yan por não estar <strong>com</strong> ela.<br />
No entanto, algo me fez respirar <strong>com</strong> calma e, quando finalmente percebi que sua raiva estava<br />
direcionada a mim, recuei e me sentei mais distante.<br />
— O que houve? — perguntei novamente, dessa vez de maneira mais dura, ecoando na frase o<br />
medo que eu tinha do inevitável.<br />
Lua pegou algo na cama e jogou sobre mim uma espécie de pasta azul na qual estava escrito<br />
Dolphin Cove. Reconheci ser do passeio que fiz <strong>com</strong> Carter, o primeiro deles, no qual nadamos <strong>com</strong><br />
os golfinhos. Foi tão corrido naquele dia que não tive tempo de olhar o material que haviam nos<br />
entregado.<br />
— Abra — ela pediu <strong>com</strong> a voz grave e eu o fiz.<br />
Dentro, tinha um CD e um DVD, <strong>com</strong>o foi <strong>com</strong>binado. Mas também havia uma foto, uma grande<br />
foto <strong>com</strong> quatro imagens em quatro quadrantes, cada uma me mostrando ao lado de Carter. Na<br />
primeira, ele estava segurando meu rosto; na segunda, ele estava aproximando seu nariz do meu;<br />
na terceira, um dos golfinhos havia saltado sobre nós; e na quarta e última, ele estava me<br />
beijando.<br />
Profundamente.<br />
Beijo de cinema.<br />
O beijo que estragou tudo.<br />
— Lua, eu posso explicar... — Engoli em seco.<br />
— <strong>Você</strong> vai explicar! — ela exigiu, <strong>com</strong> o dedo em riste tão trêmulo que suspeitei que estivesse<br />
passando mal. — <strong>Você</strong> vai explicar porque agiu <strong>com</strong>o uma vadia mentirosa durante esses dias<br />
todos!<br />
Fechei os olhos <strong>com</strong> as palavras que ela usou. Meu medo de perdê-la estava apitando tão<br />
cruelmente que eu não tinha coragem de gritar em voz alta e acusá-la de ser hipócrita. Ela estava<br />
<strong>com</strong> Yan durante todos esses dias, por que parecia tão errado eu estar <strong>com</strong> Carter?<br />
A revolta que senti foi sumindo. Lua era importante demais para eu bater na tecla de que ela<br />
estava errada e eu, certa. Às vezes, tudo o que temos que fazer é assumir uma culpa que não<br />
temos, pois ganhar a discussão pode ser sinônimo de perder quem amamos, e eu não podia perdêla.<br />
Não. De todas as pessoas do mundo, não podia perder a minha melhor amiga.<br />
— Lua, por favor, eu não sabia que o Carter era o Carter... — gaguejei, incapaz de conter as