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Ah, cara, <strong>com</strong>o era deliciosa essa troca <strong>com</strong> a Fada. A parte da conquista, dos olhares, do<br />
desejo tentando se esconder. Tudo isso amplificado ainda mais pelo mistério das nossas<br />
identidades. Aquilo tudo era excitante e eu queria mais, muito mais.<br />
— Então, você quer medir a minha sorte? — questionei e a vi sorrir.<br />
— Sim. Vamos ver do que você é capaz.<br />
Os desenhos estavam aleatórios na máquina. Havia um trevo de quatro folhas, um cifrão<br />
dourado e uma cereja. Eu abri lentamente as abotoaduras e arregacei as mangas da camisa<br />
branca até os cotovelos. A Fada deixou os olhos azuis ainda mais abertos quando percebeu minha<br />
tatuagem no antebraço. Era apenas uma frase em francês, uma versão da minha primeira música<br />
escrita na língua dos apaixonados.<br />
— <strong>Você</strong> tem mais tatuagens?<br />
A pergunta dela foi tão sutil que uma pessoa <strong>com</strong> a percepção não aguçada teria deixado<br />
passar a nota de curiosidade que sobrepunha o desejo. Talvez a Fada gostasse de homens<br />
tatuados e isso era um ponto incrível para mim, que era coberto delas.<br />
— Algumas. — Despreocupadamente, coloquei a mão sobre a alavanca vermelha e fria do<br />
caça-níquel, observando os olhos dela mais uma vez fazendo uma varredura por meu corpo. — E<br />
você pode descobrir todas, basta querer.<br />
Antes que pudesse esboçar uma reação pelo choque do que eu disse, baixei a alavanca,<br />
esperando um tempo para rodar os símbolos antes de soltá-la. Encarando os olhos mais límpidos<br />
que já tinha visto na vida, ignorei totalmente o barulho ensurdecedor que a máquina fez, gritando<br />
à plena força que eu tinha ganhado alguma coisa em troca daquelas três moedas que a Fada<br />
havia colocado.<br />
Eu sabia que estava <strong>com</strong> sorte essa noite. Não precisava de uma máquina de caça-níqueis para<br />
saber. O prêmio, inclusive, não eram as moedas que caíram pelo chão, aos nossos pés, mas a<br />
maneira única <strong>com</strong>o a Fada me olhou, <strong>com</strong>o se não pudesse ter certeza entre o real e o imaginário.<br />
— <strong>Você</strong> ganhou — sussurrou ela, alternando o olhar entre o chão, as pessoas que se reuniam<br />
ao nosso redor, a máquina e os meus olhos.<br />
Eu, no entanto, não podia parar de encará-la.<br />
— Sim.<br />
A Fada ficou estática e a máquina não parou de apitar, iluminando nossos rostos <strong>com</strong> todas as<br />
cores possíveis das sirenes e lâmpadas coloridas. As pessoas <strong>com</strong>eçaram a me parabenizar e eu<br />
não podia dar a mínima para aquilo, embora estivesse agradecendo a intenção.<br />
Peguei, de repente, a mão da Fada e entrelacei meus dedos nos dela.<br />
— <strong>Você</strong> quer sair daqui?<br />
Ela pareceu duvidar por um momento, colocando alguns fios soltos do cabelo atrás da orelha.<br />
Seus olhos foram novamente para o chão, que estava criando montes de moedas que não<br />
paravam de sair.<br />
— Para onde?