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— Lua...<br />
— Primeiro o café — ela interrompeu, colocando sobre a mesa tudo o que preparou. — Depois<br />
nós conversamos.<br />
Fiz o que pediu. Alimentamo-nos sem dizer uma palavra. Estávamos apenas esperando o<br />
momento certo e eu tinha a insuportável ansiedade consumindo-me por <strong>com</strong>pleto. Meu coração era<br />
uma pedra quente que batia <strong>com</strong>o o retumbar de um tambor. Embora me sentisse mais tranquila<br />
por finalmente vê-la depois dessas duas semanas, esperando que houvesse uma chance para<br />
nossa amizade, algo em mim gritava lá dentro que as coisas não seriam tão fáceis quanto parecia.<br />
— Primeiro, eu quero te pedir desculpas por ter saído do navio sem me despedir — ela<br />
<strong>com</strong>eçou, arqueando uma de suas sobrancelhas delineadas. — Nós nunca discutimos e, eu, bem,<br />
não sabia o que fazer. Acabei ficando <strong>com</strong> tanta raiva que não pensei direito.<br />
— Não acho que você deva se desculpar, eu...<br />
— Erin, vamos fazer assim: eu falo e você escuta. Depois, você diz o que pensa, tudo bem?<br />
Concordei em silêncio.<br />
— Somos amigas há muitos anos. Não preciso fazer uma linha do tempo para citar todos os<br />
momentos importantes que passamos juntas. Também não preciso recordar o que houve conosco.<br />
Mas preciso dizer o que realmente me afetou em tudo isso — ela disse, distraidamente mexendo no<br />
guardanapo de pano sobre a mesa do café da manhã. — Era suposto que você me conhecesse<br />
melhor do que ninguém, melhor do que meus pais, até. Nós já conversamos sobre tipos de<br />
absorvente, sobre o fim do mundo, os homens mais gatos do universo e alternativas de fuga caso<br />
roubássemos um banco. <strong>Você</strong> sabe do que eu gosto, o que eu aprecio, o que não aprovo. De todas<br />
as pessoas do mundo, justamente você, duvidou de mim. E foi isso que me rasgou por dentro.<br />
— Lua...<br />
— Eu falo primeiro, lembra?<br />
Assenti.<br />
Era capaz de ouvir a mágoa em sua voz. Uma dor tão cristalina que me alcançou. Eu me sentia<br />
um lixo por amar Carter e esconder isso dela durante tantos anos. Por também ter mentido quando<br />
tudo o que deveria ter feito era usar a carta da honestidade.<br />
Lua tinha lágrimas nos olhos e sua voz tremulou.<br />
— Pensei que não houvesse segredos entre nós, durante todos esses anos que passamos juntas,<br />
as confissões que fizemos. Meu Deus, Erin! Eu te contei quando beijei uma menina!<br />
— É, eu lembro disso.<br />
Ela riu, mas lágrimas desceram livremente por sua bochecha. Eu não conseguia chorar, embora o<br />
ardor estivesse consumindo a minha garganta e pinicando os olhos.<br />
— Eu te contei cada pedaço meu, do meu coração e da minha alma. <strong>Você</strong> me leu, você sabe<br />
que sou um livro aberto para você. Não há nada que Erin Prince não saiba sobre Lua Anderson.<br />
Bem, era nisso que eu acreditava. Até, então, de repente, surgir uma realidade totalmente<br />
alternativa na qual a Erin, minha melhor amiga, a pessoa que eu — supostamente — deveria