A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs
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A <strong><strong>da</strong>nça</strong> <strong>da</strong> <strong>mente</strong> <strong>Pina</strong> <strong>Bausch</strong> e Psicanálise<br />
Essa concepção de “corpo único”, física e emocional<strong>mente</strong> falando,<br />
passou a ser uma importante ferramenta para a criação coreográfica. Isto<br />
é, os coreógrafos passaram a explorar a história e o imaginário pessoal dos<br />
bailarinos, transformando esse material em arte, mais especifica<strong>mente</strong>,<br />
em movimento. A <strong><strong>da</strong>nça</strong> adquiriu a possibili<strong>da</strong>de de ser coreografa<strong>da</strong> em<br />
conjunto (bailarino e coreógrafo), como uma reconstrução <strong>da</strong> história dos<br />
dois, tendo, nesse processo, uma <strong>da</strong>s fontes de sua riqueza. As vivências<br />
cruzam-se, somam-se, dialogam tecendo uma trama que vira <strong><strong>da</strong>nça</strong>.<br />
Segundo Mônica Dantas (2005, p. 34), “a arte contemporânea tem por<br />
singulari<strong>da</strong>de embaralhar os limites tradicionais <strong>da</strong>s técnicas...”. Penso que a<br />
Dança Contemporânea, ao diluir as fronteiras entre as disciplinas artísticas,<br />
cria um novo papel para o bailarino. Esse novo papel, conforme afirma Dantas<br />
(2005, p. 34), reflete-se, em um primeiro momento, na nomenclatura:<br />
... poderíamos expandir a ideia de <strong><strong>da</strong>nça</strong>rino<br />
contemporâneo para a de intérprete ou performer, uma<br />
vez que esses artistas são solicitados a atuar de maneiras<br />
diversas, segundo o contexto de ca<strong>da</strong> coreografia.<br />
Essas diversas formas de atuar solicita<strong>da</strong>s ao intérprete <strong>da</strong> Dança<br />
Contemporânea trazem a necessi<strong>da</strong>de de uma formação com novas<br />
abor<strong>da</strong>gens: teatro, música, canto, artes marciais; além de diferentes técnicas<br />
de <strong><strong>da</strong>nça</strong> e estudo com diferentes coreógrafos. To<strong>da</strong>s essas práticas criam<br />
o corpo <strong><strong>da</strong>nça</strong>nte contemporâneo. Um corpo eclético ou “corpos de aluguel”<br />
(DANTAS, 2005, p. 35).<br />
Além disso, esse novo papel do intérprete de Dança Contemporânea<br />
reflete-se também na situação de cocriador <strong>da</strong> coreografia. O coreógrafo<br />
de vanguar<strong>da</strong> não considera seus <strong><strong>da</strong>nça</strong>rinos apenas como receptáculos<br />
de ideias e movimentos, mas sim como colaboradores <strong>da</strong> composição<br />
coreográfica, como coautores.<br />
Cabe ressaltar que a Dança Contemporânea - e esse é outro fator<br />
de meu interesse - não separa o bailarino <strong>da</strong> sua condição de ser humano,<br />
impregnado de histórias, conflitos, afetivi<strong>da</strong>des e padrões mentais. São<br />
esses elementos subjetivos que, manifestados predominante<strong>mente</strong> em<br />
linguagem não verbal, servirão de matéria-prima para a composição<br />
coreográfica. O coreógrafo, ao estimular o bailarino a manifestar a<br />
sua memória corporal e afetiva, estará acessando a história pessoal<br />
<strong>da</strong>quele intérprete. Coreógrafo e bailarino devem estar sempre atentos<br />
a este processo de “tempestade mental e corporal”, para reconhecer