A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs
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A <strong><strong>da</strong>nça</strong> <strong>da</strong> <strong>mente</strong> <strong>Pina</strong> <strong>Bausch</strong> e Psicanálise<br />
Já é sabido que doença mental e criativi<strong>da</strong>de possuem uma estreita<br />
relação. Segundo o psicólogo Eugen Bleuler, contemporâneo de Freud,<br />
o elo entre geniali<strong>da</strong>de e doença mental justifica-se no fato <strong>da</strong>s “idéias<br />
fluírem com mais rapidez e, sobretudo, de as inibições desaparecerem”,<br />
o que “estimula as capaci<strong>da</strong>des artísticas” (KRAFT, 2004). Artistas cujas<br />
obras são referências mundiais possuíram uma conturba<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> emocional.<br />
Entre eles, posso citar Nietzsche, que enlouqueceu; Fernando Pessoa, que<br />
tinha problemas relacionados à bebi<strong>da</strong>; Van Gogh, que se suicidou; Cecília<br />
Meirelles, que sofria de depressão crônica; e Maiakoviski, que também se<br />
matou. Mas então, grosso modo, para ser criativo, é preciso ser louco?<br />
Nesses casos citados, o célebre dom criativo caminhava lado a lado com<br />
uma “instabili<strong>da</strong>de psíquica clara<strong>mente</strong> dota<strong>da</strong> de traços patológicos”, que<br />
incluíam alterações extremas de humor, dependência de álcool e drogas,<br />
manias e depressão severa (KRAFT, 2004).<br />
O que é saúde mental? Essa é uma pergunta feita desde que o<br />
homem passou a prestar atenção em si mesmo e nos outros. O conceito<br />
que implica uma ideia de “normali<strong>da</strong>de” é extrema<strong>mente</strong> complexo. Envolve<br />
aspectos culturais, sociais, religiosos, época e história. Por inúmeras<br />
vezes, autores tentaram unificar a ideia de saúde mental. Penso que seja<br />
difícil fazer isso sem contextualizar o sujeito. Segundo a Organização<br />
Mundial <strong>da</strong> Saúde (OMS), cita<strong>da</strong> por Sadock (2007, p. 31): saúde mental é<br />
o “estado de completo bem-estar físico, mental e social”. Porém, o próprio<br />
autor ressalta que essa definição é limita<strong>da</strong>, pois define saúde física e<br />
mental simples<strong>mente</strong> como a ausência de doenças físicas e mentais. Na<br />
mesma obra, consta a definição do Mental health: a report of the surgeon<br />
general: saúde mental é<br />
a realização bem-sucedi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s funções mentais, em<br />
termos de raciocínio, humor e comportamento, que resulta<br />
em ativi<strong>da</strong>des produtivas, relacionamentos satisfatórios<br />
e capaci<strong>da</strong>de de se a<strong>da</strong>ptar a mu<strong><strong>da</strong>nça</strong>s e enfrentar<br />
adversi<strong>da</strong>des (SADOCK, 2007, p. 31).<br />
A partir dessas ideias, penso que a imagem excessiva<strong>mente</strong> utiliza<strong>da</strong><br />
e romantiza<strong>da</strong> do gênio maluco desacredita, em certa medi<strong>da</strong>, o trabalho, o<br />
caráter e o estado mental dos que li<strong>da</strong>m com arte. O fato de muitos artistas<br />
com enfermi<strong>da</strong>des psíquicas terem recusado tratamento no passado talvez<br />
tenha contribuído para essa visão distorci<strong>da</strong>. Sem aju<strong>da</strong> terapêutica, correse<br />
o risco de que os transtornos acentuem-se. O sujeito ultrapassa uma